sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Lula e FHC se encontram nesta sexta-feira em São Paulo, OESP

 

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem reunião com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) nesta sexta-feira, 7. Primeiro colocado no primeiro turno da eleição de 2022, o ex-presidente Lula disputa o Planalto em chapa com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente.

A informação sobre o encontro foi divulgada pela GloboNews e confirmada pelo Estadão.

Lula já havia dito nesta semana que gostaria de agradecer FHC pessoalmente pelo apoio dado pelo tucano neste segundo turno. O petista tenta ampliar o clima de “frente ampla” contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.

“Não quero fotografia, gravação de nada, só visita humanitária de velhos companheiros”, afirmou Lula na quarta-feira, 5, sobre FHC.

Nas redes sociais, FHC havia publicado fotos que retratam ele e o petista. “Neste segundo turno voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva”, escreveu.

Continua após a publicidade

Nesta semana, além de FHC, Lula recebeu apoio de economistas que trabalharam com o ex-presidente tucano, como Persio Arida e Arminio Fraga. Todos justificaram a defesa da democracia como motivo de adesão à campanha do petista no segundo turno.

Alvaro Costa e Silva - No segundo turno, a ordem é bateu, levou, FSP

 Durante o primeiro turno, a campanha de Bolsonaro se comportou como se estivesse no segundo. Com a desculpa de que precisava aumentar a rejeição a Lula e diminuir a própria, não fez propostas para melhorar o governo (ao contrário, nas poucas vezes em que olhou para o futuro prometeu destruir o país mais ainda). As forças concentraram-se na eliminação do único e temível adversário. É a natureza bolsonarista, que não consegue agir de outra maneira.

Na briga entre os filhos Flávio (que propunha exaltar o que de positivo havia sido feito na Presidência, uma tarefa impossível) e Carlos (o aloprado que comanda o gabinete do ódio e das mentiras), ganhou o segundo. Só para ficar num pequeno exemplo de como funciona a rede de fake news: um dia depois da votação, o TSE determinou a exclusão de 32 publicações que acusavam Lula de "perseguir cristãos" e incentivar a "invasão das igrejas".

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) - Adriano Machado e Ueslei Marcelino/Reuters

Como em 2018, a estratégia nauseante deu resultado. Evitou a derrota na primeira rodada, que seria uma humilhação para quem se considera um eleito da maçonaria e concorre à reeleição usando a máquina estatal, furando o teto de gastos com a PEC Kamikaze e se aliando a políticos do centrão que controlam os bilhões do orçamento secreto para pôr em prática todo tipo de corrupção paroquial.

Em entrevista à Folhaa cientista política Camila Rocha disse que os eleitores de Bolsonaro arrependidos decidiram o voto a favor dele na última hora. Se a tese estiver correta, resta ao movimento lulista estabelecer a verdade a respeito do que ocorreu nos últimos quatro anos.

Mostrar as ameaças à democracia, a volta do Brasil ao mapa da fome, a investida contra as instituições, a devastação da Amazônia, o bloqueio de 2,4 bilhões e desvios de verba no MEC, a condução criminosa do combate à pandemia que resultou em 700 mil mortos. Atacar o oponente com o mesmo tesão que ele tem em atacar.

Abuso de poderes desequilibrou eleição em favor de Bolsonaro, FSP

 

O pleito presidencial deste ano ainda não foi concluído, mas já tem um grande derrotado, o equilíbrio da corrida eleitoral. Em teoria, um presidente não deveria em hipótese nenhuma se servir do cargo que ocupa para obter vantagem na disputa por votos. A teoria não funciona.

O problema é em alguma medida insolúvel, pois a própria democracia já vem com um forte viés situacionista. Em escala global, 80% dos governantes que pleiteiam a recondução têm sucesso. O destaque na mídia, o controle da máquina pública e até a psicologia conspiram a seu favor.

O presidente Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa com Datena no Palácio da Alvorada - Gabriela Biló/Folhapress

No caso brasileiro, o desequilíbrio é agravado por outros fatores. A reeleição aqui surgiu através de um casuísmo, o que deixou uma trilha de assimetrias na legislação. Um exemplo: o governante que pretende renovar seu mandato não é obrigado a se desincompatibilizar. De fato, seria esquisito forçá-lo a renunciar para depois voltar ao cargo. O problema é que seus adversários, se tiverem postos no Executivo, são. No caso do pleito presidencial, o postulante mais poderoso tem o privilégio de fazer campanha no cargo e seu eventual desafiante, não.

Tudo isso, porém, é brincadeira de criança perto do que fez e faz Jair Bolsonaro. Sem temor ou pudicícia, ele colocou verbas e instituições públicas a serviço da reeleição. Aprovou uma série de propostas que visam essencialmente a mantê-lo no cargo, como a PEC dos Precatórioso Auxílio Brasil só até dezembro, a redução de impostos sobre a energia etc. Levou até as Forças Armadas para atos de campanha. Agora está perdoando dívidas.

O remédio contra esses abusos seria a cassação da chapa por abuso de poder político e econômico. Mas o TSE reluta em utilizá-lo. É de fato complicado tirar no tapetão um candidato que recebeu mais de 50 milhões de votos.

O retrocesso institucional é brutal. Pelos precedentes estabelecidos, o próximo candidato à reeleição que não barbarizar é um trouxa.