terça-feira, 20 de setembro de 2022

Brasil deverá ter mais de 500 mil milionários até 2026, prevê estudo, FSP

 

SÃO PAULO

O total de milionários no Brasil deve passar dos atuais 266 mil para 572 mil até 2026, aponta um estudo do banco Credit Suisse, que mostra também um aumento da concentração de riqueza em nível global.

O levantamento, chamado Global Wealth Report 2022, considera como milionário quem possui fortuna superior a US$ 1 milhão (R$ 5,14 milhões, na cotação desta terça-feira, 20). Ao final de 2021, havia 62,5 milhões de indivíduos com esse nível de riqueza no mundo todo, 5,2 milhões a mais do que em 2020.

"Esta alta acelerada reflete em parte o fato de que a inflação mais alta torna mais fácil ultrapassar a barreira do milhão de dólares", aponta o estudo.

Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil, segundo a Forbes, com patrimônio estimado em R$ 72 bilhões - Bruno Santos - 12.fev.19/Folhapress

A alta de preços aumenta o valor dos bens, como imóveis, o que amplia o valor do patrimônio de quem já tem propriedades. A valorização de ativos financeiros também ajuda a reforçar o caixa dos ricos.

O aumento previsto do número de milionários no Brasil, de 115% na comparação entre 2026 e 2021, é um dos maiores do mundo e superior à média da América Latina (99%).

Outros países emergentes, como China (alta de 97%), Índia (105%) e México (78%) também deverão ter aumento no número de ricos. Já o crescimento do total de milionários será menor em países desenvolvidos, como os Estados Unidos (alta de 13%), Alemanha (26%) e Itália (18%).

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A diferença entre os dois grupos de países se deve às perspectivas de menor crescimento econômico nos países de maior renda. A expectativa é que as fortunas subirão 10% ao ano nas economias emergentes, mas só 4,2% nas nações de alta renda, segundo a instituição suíça.

No entanto, países da América do Norte e da Europa já possuem uma grande quantidade de milionários. Os EUA somam 24 milhões de habitantes com fortuna superior a US$ 1 milhão, em meio a uma população de 334 milhões. No Brasil, há 266 mil milionários.

O número de ultrarricos, com patrimônio superior a US$ 50 milhões (R$ 257,3 milhões), também deve subir, dos atuais 264 mil para 385 mil até 2026, considerando dados globais. Mais de 140 mil deles vivem nos EUA, e 32 mil na China.

O Credit Suisse estima que toda a riqueza do planeta somava US$ 463 trilhões ao final de 2021, um aumento de 9,8% em relação a 2020. Contudo, a concentração de renda —e consequentemente a desigualdade social— têm piorado. Cerca de 1% da população é dona de 45,6% do total da riqueza do planeta. Em 2019, antes da pandemia, eles controlavam 43,9%.

No Brasil, o 1% mais rico da população detém 49,3% da riqueza nacional. Nos EUA, o 1% no topo possui 35,1% do patrimônio. Este percentual é menor em países como China (o top 1% controla 30,5% da riqueza), Canadá (25%) e França (22,3%).

Nos últimos anos, houve também um aumento da chamada classe média global —pessoas com riqueza entre US$ 10 mil e US$ 100 mil (R$ 51.460 a R$ 514.600). Essa faixa abrange hoje 1,8 bilhão de pessoas.

"Isso reflete a prosperidade crescente das economias emergentes, especialmente a China, e a expansão da classe média no mundo em desenvolvimento", aponta o estudo.

Por outro lado, os efeitos de longo prazo da pandemia sobre o patrimônio das pessoas mais pobres e vulneráveis ainda precisam ser melhor analisados.

"Alguns países, como o Brasil, proveram auxílios significativos durante a pandemia, mas em muitos casos isso foi bastante limitado. Isso significa que as pessoas mais jovens, que são mais vulneráveis à perda de emprego, provavelmente tiveram de usar suas reservas, fazer mais dívidas e experimentar um declínio na riqueza", destaca a pesquisa.


QUÃO RICO VOCÊ É?

Patrimônio acima de US$ 8.360 (R$ 43 mil)
Está entre os 50% mais ricos do mundo

Patrimônio acima de US$ 138.346 (R$ 711 mil)
Está entre os 10% mais ricos do mundo

Patrimônio acima de US$ 1.146.685 (R$ 5,9 milhões)
Está entre o 1% mais rico do mundo


A POPULAÇÃO DE MILIONÁRIOS

Total global
2021 - 62,4 milhões
2026 - 87,5 milhões
Alta de 40%

Brasil
2021 - 266 mil
2026 - 572 mil
Alta de 115%

Estados Unidos
2021 - 24,4 milhões
2026 - 27,6 milhões
Alta de 13%

China
2021 - 6,1 milhões
2026 - 12.1 milhões
Alta de 97%

Japão
2021 - 3,3 milhões
2026 - 4.7 milhões
Alta de 42%

Alemanha
2021 - 2,6 milhões
2026 - 3,3 milhões
Alta de 26%

México
2021 - 318 mil
2026 - 566 mil
Alta de 78%

Dados e previsões: Global Wealth Report 2022

Ocupação de hotéis de São Paulo segue abaixo do pré-pandemia, Painel FSP

 A ocupação dos hotéis de São Paulo repetiu em agosto o ritmo de recuperação registrado nos meses anteriores, com 55% de alta em relação ao mesmo período de 2021, segundo a Abih-SP (associação que representa a indústria hoteleira no estado). Na variação mensal, a taxa subiu 3,45%.

Quando a comparação é feita com o cenário pré-pandemia, em agosto de 2019, o patamar ainda está 7% inferior.

Vista aérea de prédios do Jardim Paulista, com destaque para o relógio no topo do hotel Fasano
Vista aérea de prédios do Jardim Paulista, com destaque para o relógio no topo do hotel Fasano - Eduardo Knapp - 20.ago.2021/ Folhapress,

Segundo a Abih-SP, a taxa de ocupação, que ficou em 63%, tem sido puxada por eventos corporativos, enquanto os hotéis de lazer, principalmente do litoral paulista, apresentaram retração no comparativo com julho, afetados pela associação de baixa temporada e inverno.

A diária média também está em alta. Fechou agosto em R$ 342,98, 45% mais cara do que a registrado em 2021.

Marcelo Coelho - Hoje o hábito é tornar mais difícil e estrangeiro o que era brasileiro e simples, FSP

 O romancista L. P. Hartley dizia que o passado é um outro país: "As pessoas se comportam de um jeito diferente por lá".

É por isso que, conforme vou ficando mais velho, sinto-me um estrangeiro no presente —nem falo da tecnologia ou dos hábitos das pessoas. O fenômeno aparece na linguagem. O português que falo, leio e escrevo começa a se tornar arcaico.

Meu avô, que eu não conheci (morreu em 1958), não falava "Paraná": contam-me que pronunciava "Paranã". Ou "Paranan", para ser mais exato.

Meu pai não falava paletó; por muitos anos, ouvi-o dizendo "paletô". Imagino que, com o tempo, foi percebendo que aquilo era pedante, e resolveu adotar a pronúncia geral.

A Ilustração traz quatro faixas em formato curvo espalhadas pelo quadro, elas possuem contornos em rosa, preto e cinza. cada faixa tem uma palavra inserida com a ortografia incorreta: por que, tal vez, com tudo e por ventura.
Ilustração de André Stefanini para coluna de Marcelo Coelho - André Stefanini

De resto, já raro se falar em paletó: tudo, hoje, é "blazer". O pior é que ele podia aparecer perguntando "onde está o ‘paletô’ do pijama", para se referir à parte superior de um item de indumentária que, de todo modo, também foi condenado à extinção.

Insisto em me referir ao festival de "Montrê", e não "Montrô", porque a cidade se chama Montreux, e não "Montreaux". Não me conformo em falar "Cânes" quando o certo é "Cánes", mas para não passar por besta acho melhor ficar em silêncio.

Mas os erros se multiplicam. Já vi escreverem "Clarice Linspector" em vez Lispector. E "Augusto de Campus" em vez de Campos.

A lógica dessas batatadas não é difícil de intuir. A pessoa menos familiarizada com nomes de escritores sofre naturalmente do medo de errar. Assim, na dúvida, escolhe a versão mais complicada.

Antigamente, a dificuldade de leitura levava os menos instruídos à simplificação e a uma tradução imaginária do que é estrangeiro para o que é familiar. Conheci um taxista que, diante de uma placa indicando a rua Groenlândia, lia "rua Crioulândia". Outros tempos.

Hoje, os erros desse tipo perderam seu caráter popular; mudaram de classe —nascem do interior de uma classe média que se julga mais instruída do que é. O equívoco se origina da complicação.

Típico disso, e presente em toda parte, é o hábito de dizer "até então" em vez de "até agora". "Não tive notícias do Anderson até então." O "até então" era bonito de usar, quando corretamente se referia ao passado.

"Tancredo Neves, um político discreto até então, virou um ídolo popular no fim da ditadura." A frase faz sentido; nada tem a ver com alguém comentando a última pesquisa eleitoral que diz "a candidatura Tebet não decolou até então".

Na mesma linha, verifica-se uma pandemia do "sobre". Funciona assim. O normal, o certo, é dizer: "os deputados vão debater o novo projeto de lei". Mas a moda é escrever: "Os deputados vão debater sobre o novo projeto de lei".

Debater sobre, discutir sobre, comentar sobre. Talvez a ideia de debater, discutir, comentar, seja abstrata demais, pressuponha algum tipo de complicada operação mental, de modo a tornar implausível o uso do objeto direto.

Além disso, como as faculdades humanas da atenção e da concentração têm decaído ultimamente, qualquer sentença um pouco mais longa já não se aguenta sozinha sem preposições.

Assim, sobre algum cientista, escreve-se que "as áreas de pesquisa a que ele se dedicou eram sobre astrofísica e medicina nuclear".

Preposições e conjunções sofrem, ao mesmo tempo, de uma espécie de desintegração gráfica: "talvez" vira "tal vez", "porventura" vira "por ventura", "contudo" vira "com tudo" (o que é razoavelmente lógico, afinal).

Está longe o tempo em que as pessoas não sabiam quando usar "por que" ou "porque". Tudo se separa, porque entre uma sílaba e outra estamos também respondendo ao WhatsApp de outra pessoa, ou ligados no TikTok (Tiktok?).

Exceção simpática no complicacionismo da classe média é escrever "zap" ou "zapp" em vez de "WhatsApp". Mas o que prevalece é tornar mais difícil e estrangeiro o que era brasileiro e simples. O nome Martim, como em Martim Afonso de Sousa, hoje é oficializado como se fosse espanhol: Martin Afonso de Sousa.

Pobres bispos, pobres cardeais! "Don" Aloísio Lorscheiter... "Don" Paulo Evaristo Arns... O que virá em seguida? "Padin" Ciço? "Don" Pedro 1º? Guimarães "Rosas"? José de "Além Cá"? Ou "Além K"? Paciência; quando estiver "discutindo sobre isso" com todos eles, lá no "alén", o país já estará reduzido à Idade da Pedra que tem buscado até então.