O ex-guerrilheiro, marinheiro reformado e escritor Avelino Capitani foi um grande revolucionário, líder popular e dos marinheiros, sempre em busca da defesa da democracia e da luta pela igualdade.
A sua cidade natal hoje se chama Progresso (RS). Filho dos agricultores João Capitani e Oliva Bioen Capitani, ele começou a trabalhar ainda criança, na roça.
Aos 14 anos, cuidou de uma criação e engorda de porcos em Lajeado. Dois anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde conseguiu emprego numa fábrica de móveis.
Em 1962, filiou-se à Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Passados dois anos, participou da Revolta dos Marinheiros, quando cerca de 2.000 marujos e fuzileiros navais se rebelaram contra o comando da Marinha.
Anos mais tarde, em 1997, o movimento foi relatado por Avelino no livro "A Rebelião dos Marinheiros – Memórias da Revolução de 1964" (1997, editora Artes e Ofícios, reeditada pela editora Expressão Popular, em 2005).
Avelino foi preso, fugiu e fez treinamento de guerra em Cuba. Voltou ao Brasil na clandestinidade e participou da Guerrilha do Caparaó. Acabou capturado e mandado para a prisão, no Rio de Janeiro, de onde fugiu em 1969.
Em 1970, exilou-se no Chile e voltou a Cuba. Em 1974, retornou ao Brasil de forma clandestina e participou da reorganização da esquerda.
Ficou conhecido como Anjo Loiro ou "Charles, Anjo 45" —nome da música de Jorge Ben, lançada em 1969, para homenageá-lo. Anistiado, em 1980, passou a morar em Porto Alegre. Avelino dirigiu e militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro) e em 1982 filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores).
"Ele nunca deixou de combater o bom combate", afirma o jornalista Rodolfo Lucena, seu cunhado. "Deixa a lição de sempre resistir à brutalidade, à barbárie, defender a democracia, a igualdade, a necessidade de homens e mulheres viverem em paz, com justiça e igualdade."
Em 1989, Avelino prestou vestibular para geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde estudou por dois anos. Desistiu, mais tarde, para cursar a Universidade Holística Internacional.
A partir de 1991, após um infarto, passou a escrever e se dedicar à literatura, à espiritualidade e ao trabalho na terra. Publicou, ainda, duas obras: "Por que chora, Carol" (2001, editora Hércules) e "Depois do Amanhecer" (2007, editora Age). Participou da composição de outros livros, documentários e teses acadêmicas sobre a resistência à ditadura.
Em 2003, foi anistiado com todos os direitos.
No sábado (17), aos 82 anos, finalizou o último capítulo de sua história. Morreu devido a complicações de um câncer. Ele deixa a mulher, Teresa de Lucena, e a filha, Juliana Capitani, que o homenageou nas redes sociais.
"Agradeço pelo tempo que tive contigo, que não foi pouco. Minha infância foi marcada pela tua presença e minha adolescência pela tua compreensão. E digo obrigada como cidadã, pela tua coragem e constante luta por justiça. A admiração que recebe é reflexo de tudo de bom que fez. Por mais triste que eu esteja hoje, sinto que o mundo teve uma grande perda. A tua marca aqui é enorme e ficará para sempre", diz parte do texto que ela compartilhou.