segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Mortes: Revolucionário, dedicou-se ao bom combate e à defesa da democracia, FSP

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

O ex-guerrilheiro, marinheiro reformado e escritor Avelino Capitani foi um grande revolucionário, líder popular e dos marinheiros, sempre em busca da defesa da democracia e da luta pela igualdade.

A sua cidade natal hoje se chama Progresso (RS). Filho dos agricultores João Capitani e Oliva Bioen Capitani, ele começou a trabalhar ainda criança, na roça.

Aos 14 anos, cuidou de uma criação e engorda de porcos em Lajeado. Dois anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde conseguiu emprego numa fábrica de móveis.

Em 1962, filiou-se à Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Passados dois anos, participou da Revolta dos Marinheiros, quando cerca de 2.000 marujos e fuzileiros navais se rebelaram contra o comando da Marinha.

Avelino Bioen Capitani (1940-2022) recebe de Olívio Dutra, então governador do RS a medalha Negrinho do Pastoreio
Avelino Bioen Capitani (1940-2022) recebe de Olívio Dutra, então governador do RS a medalha Negrinho do Pastoreio - Arquivo pessoal

Anos mais tarde, em 1997, o movimento foi relatado por Avelino no livro "A Rebelião dos Marinheiros – Memórias da Revolução de 1964" (1997, editora Artes e Ofícios, reeditada pela editora Expressão Popular, em 2005).

Avelino foi preso, fugiu e fez treinamento de guerra em Cuba. Voltou ao Brasil na clandestinidade e participou da Guerrilha do Caparaó. Acabou capturado e mandado para a prisão, no Rio de Janeiro, de onde fugiu em 1969.

Em 1970, exilou-se no Chile e voltou a Cuba. Em 1974, retornou ao Brasil de forma clandestina e participou da reorganização da esquerda.

Ficou conhecido como Anjo Loiro ou "Charles, Anjo 45" —nome da música de Jorge Ben, lançada em 1969, para homenageá-lo. Anistiado, em 1980, passou a morar em Porto Alegre. Avelino dirigiu e militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro) e em 1982 filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores).

"Ele nunca deixou de combater o bom combate", afirma o jornalista Rodolfo Lucena, seu cunhado. "Deixa a lição de sempre resistir à brutalidade, à barbárie, defender a democracia, a igualdade, a necessidade de homens e mulheres viverem em paz, com justiça e igualdade."

Em 1989, Avelino prestou vestibular para geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde estudou por dois anos. Desistiu, mais tarde, para cursar a Universidade Holística Internacional.

A partir de 1991, após um infarto, passou a escrever e se dedicar à literatura, à espiritualidade e ao trabalho na terra. Publicou, ainda, duas obras: "Por que chora, Carol" (2001, editora Hércules) e "Depois do Amanhecer" (2007, editora Age). Participou da composição de outros livros, documentários e teses acadêmicas sobre a resistência à ditadura.

Em 2003, foi anistiado com todos os direitos.

No sábado (17), aos 82 anos, finalizou o último capítulo de sua história. Morreu devido a complicações de um câncer. Ele deixa a mulher, Teresa de Lucena, e a filha, Juliana Capitani, que o homenageou nas redes sociais.

"Agradeço pelo tempo que tive contigo, que não foi pouco. Minha infância foi marcada pela tua presença e minha adolescência pela tua compreensão. E digo obrigada como cidadã, pela tua coragem e constante luta por justiça. A admiração que recebe é reflexo de tudo de bom que fez. Por mais triste que eu esteja hoje, sinto que o mundo teve uma grande perda. A tua marca aqui é enorme e ficará para sempre", diz parte do texto que ela compartilhou.

Joel Pinheiro da Fonseca - "E no segundo turno, vai votar em quem?", FSP

 Apesar de eu preferir uma terceira via, tudo indica que teremos segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Será preciso escolher. Vamos analisar ponto por ponto.

Na educação, houve muito o que criticar no governo Lula. Mas o fato é que milhões de jovens entraram na universidade. Com Bolsonaro, há terra arrasada. Nada foi feito. E não fez porque não quis. Teve todas as chances; no início, em vez de ministério de técnicos, escolheu agradar malucos ideológicos e corruptos.

O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro - Fotos Marlene Bergamo e Gabriela Biló/Folhapress

No meio-ambiente, a mesma coisa: Lula esteve longe de exemplar, mas entregou um governo com desmatamento baixo, situação que começou a piorar a partir de 2012. Com Bolsonaro, novamente é terra devastada, agora literalmente: entrega intencional a interesses predatórios da grilagem e garimpo ilegais. Na Saúde, o feito mais notável de Bolsonaro foi usar o governo para produzir e promover charlatanismo e sabotar esforços de pesquisar e aplicar a vacina contra a Covid.

Já na política econômica, dá para dizer, com alguma plausibilidade, que Bolsonaro pode ser melhor que Lula, que muitas vezes acena a uma guinada heterodoxa e irresponsável. O discurso de Paulo Guedes olha para a direção certa, mas entregou muito menos do que prometeu.

Algo foi feito. A digitalização, a reforma da Previdência, a busca de investimentos privados em infraestrutura e saneamento, a facilitação da cabotagem. Mas muito andou na direção errada: de que vale defender o teto de gastos em teoria mas enchê-lo de buracos para pagar gastos eleitoreiros? Os subsídios irão para R$ 450 bilhões ano que vem. A reforma tributária, talvez a mais importante para destravar a economia brasileira, foi sabotada pelo próprio Paulo Guedes e sua insistência na CPMF.

Lula teve um primeiro mandato pragmático. No segundo, começou a dar sinais de mudança. Existe um risco real de uma guinada heterodoxa de Lula na economia, que traria consequências ruins. Juntar-se a Alckmin, Marina, Cristovam Buarque e agora Henrique Meirelles é o indício, contudo, da opção pragmática. Com um Congresso de direita e o mercado atento, sabemos que qualquer aventura irresponsável terminaria rapidamente com Alckmin na presidência.

Muitos eleitores não querem —com razão— votar num corrupto. Esse argumento seria decisivo se do outro lado tivesse um candidato íntegro. Do outro lado, no entanto, temos outro corrupto, que passou a vida na pequena corrupção fisiológica, desviando dinheiro público via gastos de gabinete e contratação de parentes e amigos. O PT roubou, mas não roubou sozinho: PL, PTB, Progressistas —os partidos do bolsonarismo— estavam no mesmo esquema. Por que lembrar só de um lado?

Por fim, já se descobriu corrupção no governo Bolsonaro na Saúde e na Educação. A principal diferença entre os dois nesse ponto é que Lula fortaleceu o Ministério Público e a Polícia Federal, que descobriram inclusive os crimes do PT. Bolsonaro neutralizou o primeiro e trava uma guerra para aparelhar a segunda. Quando se descobre algo hoje em dia —como a propina na compra de vacina ou cobrada por pastores na Educação— ficou mais difícil investigar e punir.

Por fim, a democracia. É do próprio Bolsonaro e seu entorno que vêm os chamados para radicalizar e se armar. É dele que vêm os ataques às eleições e até ameaças de não deixar o poder caso perca. Turquia, Índia, Polônia, Hungria (em cujo governo Bolsonaro se espelha declaradamente) e outros estão aí para mostrar o que nos aguarda caso seja reeleito.

Sendo assim, apesar da polarização e das doses fartas de absurdos dos dois lados, não é uma escolha difícil