Apesar de eu preferir uma terceira via, tudo indica que teremos segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Será preciso escolher. Vamos analisar ponto por ponto.
Na educação, houve muito o que criticar no governo Lula. Mas o fato é que milhões de jovens entraram na universidade. Com Bolsonaro, há terra arrasada. Nada foi feito. E não fez porque não quis. Teve todas as chances; no início, em vez de ministério de técnicos, escolheu agradar malucos ideológicos e corruptos.
No meio-ambiente, a mesma coisa: Lula esteve longe de exemplar, mas entregou um governo com desmatamento baixo, situação que começou a piorar a partir de 2012. Com Bolsonaro, novamente é terra devastada, agora literalmente: entrega intencional a interesses predatórios da grilagem e garimpo ilegais. Na Saúde, o feito mais notável de Bolsonaro foi usar o governo para produzir e promover charlatanismo e sabotar esforços de pesquisar e aplicar a vacina contra a Covid.
Já na política econômica, dá para dizer, com alguma plausibilidade, que Bolsonaro pode ser melhor que Lula, que muitas vezes acena a uma guinada heterodoxa e irresponsável. O discurso de Paulo Guedes olha para a direção certa, mas entregou muito menos do que prometeu.
Algo foi feito. A digitalização, a reforma da Previdência, a busca de investimentos privados em infraestrutura e saneamento, a facilitação da cabotagem. Mas muito andou na direção errada: de que vale defender o teto de gastos em teoria mas enchê-lo de buracos para pagar gastos eleitoreiros? Os subsídios irão para R$ 450 bilhões ano que vem. A reforma tributária, talvez a mais importante para destravar a economia brasileira, foi sabotada pelo próprio Paulo Guedes e sua insistência na CPMF.
Lula teve um primeiro mandato pragmático. No segundo, começou a dar sinais de mudança. Existe um risco real de uma guinada heterodoxa de Lula na economia, que traria consequências ruins. Juntar-se a Alckmin, Marina, Cristovam Buarque e agora Henrique Meirelles é o indício, contudo, da opção pragmática. Com um Congresso de direita e o mercado atento, sabemos que qualquer aventura irresponsável terminaria rapidamente com Alckmin na presidência.
Muitos eleitores não querem —com razão— votar num corrupto. Esse argumento seria decisivo se do outro lado tivesse um candidato íntegro. Do outro lado, no entanto, temos outro corrupto, que passou a vida na pequena corrupção fisiológica, desviando dinheiro público via gastos de gabinete e contratação de parentes e amigos. O PT roubou, mas não roubou sozinho: PL, PTB, Progressistas —os partidos do bolsonarismo— estavam no mesmo esquema. Por que lembrar só de um lado?
Por fim, já se descobriu corrupção no governo Bolsonaro na Saúde e na Educação. A principal diferença entre os dois nesse ponto é que Lula fortaleceu o Ministério Público e a Polícia Federal, que descobriram inclusive os crimes do PT. Bolsonaro neutralizou o primeiro e trava uma guerra para aparelhar a segunda. Quando se descobre algo hoje em dia —como a propina na compra de vacina ou cobrada por pastores na Educação— ficou mais difícil investigar e punir.
Por fim, a democracia. É do próprio Bolsonaro e seu entorno que vêm os chamados para radicalizar e se armar. É dele que vêm os ataques às eleições e até ameaças de não deixar o poder caso perca. Turquia, Índia, Polônia, Hungria (em cujo governo Bolsonaro se espelha declaradamente) e outros estão aí para mostrar o que nos aguarda caso seja reeleito.
Sendo assim, apesar da polarização e das doses fartas de absurdos dos dois lados, não é uma escolha difícil
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