quarta-feira, 20 de julho de 2022

Uso de biofertilizantes na soja brasileira é destaque em publicação científica, Revista Fapesp

 Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Com 80% da área plantada fazendo uso de biofertilizantes, a soja brasileira mostra o impacto ambiental e econômico da substituição de adubo químico pelo que os cientistas chamam de microbioma. A estratégia consiste no efeito conjunto de fungos, bactérias e outros microrganismos em prover os nutrientes necessários às plantas, garantindo maior produtividade nas lavouras, além, é claro, de ganhos econômicos e ambientais.

O caso da soja brasileira é um dos 14 destacados em artigo publicado na revista Frontiers in Microbiology sobre o impacto da pesquisa em microbioma nos diferentes setores da economia, como a agricultura, em produtos fermentados e na saúde humana. A iniciativa faz parte do MicrobiomeSupport, programa patrocinado pelo Horizon 2020 da União Europeia que envolve pesquisadores e empresas de 28 países, entre eles o Genomics for Climate Change Research Center (GCCRC), um dos Centros de Pesquisa em Engenharia (CPE) apoiados pela FAPESP em parceria com a Embrapa.

“O Brasil é um dos poucos países do mundo a obter sucesso na utilização de biofertilizantes na soja. O país é o maior produtor e exportador da commodity e, atualmente, 80% da área plantada de soja utiliza microrganismos para fixar o nitrogênio. Isso tem um impacto ambiental positivo muito grande. Estima-se que 430 milhões de toneladas de CO2 equivalente não sejam lançados na atmosfera por conta do uso das bactérias fixadoras de nitrogênio. Há ainda a proteção de mananciais, pois o nitrogênio químico tende a contaminar os rios”, afirma Rafael de Souza, pesquisador associado do GCCRC e um dos autores do artigo. Souza é cofundador da Symbiomics, startup brasileira de biotecnologia focada no desenvolvimento de biológicos de nova geração.

Na parte econômica, o impacto do uso de microrganismos do solo também é grande. “A guerra na Ucrânia mostrou a forte dependência que temos pela importação de fertilizantes químicos. O Brasil importa aproximadamente 77% do fertilizante nitrogenado utilizado nas culturas agrícolas. A soja é a única exceção. Ela não depende dessa importação justamente por conta dos fixadores biológicos de nitrogênio, o que gera uma economia de aproximadamente US$ 10 bilhões em fertilizante nitrogenado” afirma o pesquisador.

Os biofertilizantes trazem uma economia enorme para o agricultor. De acordo com Solon Cordeiro de Araujo, consultor da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) e coautor do estudo, enquanto o fertilizante químico custa em torno de R$ 1.000,00 por hectare, o inoculante (produto que leva o microrganismo) custa menos de R$ 50,00 por hectare. “O trabalho realizado no caso da soja foi selecionar determinadas bactérias, isolá-las e aplicá-las na lavoura, de modo a incrementar a quantidade desses microrganismos benéficos no solo. Com isso, as bactérias substituem o fertilizante nitrogenado. Portanto, em vez de fornecer via produto sintético [químico], os agricultores utilizam o biofertilizante, denominado inoculante, que aproveita o nitrogênio do ar e fornece o nutriente diretamente para a planta”, explica Araujo.

O impacto é particularmente importante, considerando que o Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, com mais de 36 milhões de hectares plantados. Tanto que ao destacar os resultados econômicos e ambientais gerados a partir da pesquisa em microbioma no Brasil, os autores do artigo também pretendem estimular que outras culturas agrícolas do país adotem o uso dos biofertilizantes, assim como também mais pesquisa seja realizada para a substituição de outros adubos químicos por microrganismos.

Isso porque a planta necessita principalmente de três linhas de adubo para se desenvolver: o nitrogênio, o fósforo e o potássio. No caso da soja, apenas o nitrogênio é fornecido como biofertilizante, os outros dois nutrientes são utilizados na forma de adubo químico. Nas outras culturas, como milho, feijão e arroz, por exemplo, geralmente utiliza-se adubação química para os três nutrientes.

Os biofertilizantes de nitrogênio vêm sendo desenvolvidos no Brasil desde que se introduziu a soja, ainda na década de 1960. “O Brasil optou por essa linha, de desenvolver e aperfeiçoar a bactéria e os produtos à base de bactéria, para que pudesse substituir o nitrogênio químico”, diz Araujo.

De acordo com o artigo, foi o trabalho conjunto de três setores que permitiu a substituição do nitrogênio químico pelo microbioma nas lavouras de soja. "Isso é resultado do trabalho de três setores. Primeiro, a pesquisa, com a academia, a Embrapa e as universidades, trouxe a tecnologia necessária para o país; o regulatório, ou seja, o legislativo permitiu a regulamentação desses produtos; e também a indústria, na adoção e comercialização”, diz Souza.

A pesquisa com microrganismos está presente desde a implantação da soja no país, no entanto, houve um maior crescimento no número de artigos e produtos nos últimos dez anos em decorrência das ferramentas de sequenciamento genético mais acessíveis. “O caso da soja brasileira é importante também para abrir portas para que outros produtos ganhem mercado e outras culturas agrícolas passem a utilizar biofertilizantes”, diz Souza.

Modelo para outras culturas

A expectativa é o crescimento do desenvolvimento de tecnologias baseadas em microbioma no país. Além dos avanços na pesquisa, que permitem selecionar melhor os microrganismos e produzir inoculantes mais potentes, os pesquisadores destacam outra série de fatores que devem contribuir para seu uso em diferentes culturas.

“Fala-se em tempestade perfeita para o impulsionamento do uso de biofertilizantes no Brasil. Hoje temos uma variedade grande de startups e centros de pesquisa interessados em desenvolver novos produtos em microbioma para diferentes culturas agrícolas. Os números de economia e proteção ambiental são consideráveis. Fora isso, ficou clara a necessidade de maior autonomia frente aos fertilizantes químicos, pois eles são, em sua maioria, importados. Com isso, o caso da soja brasileira pode ser um impulsionador para que se avance ainda mais no uso de biofertilizantes no país”, afirma Souza.

O artigo Microbiome Research as an Effective Driver of Success Stories in Agrifood Systems – A Selection of Case Studies (doi: 10.3389/fmicb.2022.834622) pode ser lido em https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmicb.2022.834622/full.

terça-feira, 19 de julho de 2022

No embate entre Lula e Bolsonaro, imagine quem é Davi e quem é Golias, FSP

 Três estátuas fenomenais, inspiradas no Antigo Testamento, mostram o triunfo de Davi sobre Golias. Pelo relato bíblico, o gigante filisteu propôs aos hebreus que, em vez de guerrearem todos, só ele e um oponente lutassem. Quem matasse o adversário subjugaria o povo inimigo.

Golias desceu para o campo de batalha com um escudeiro. Media 2,20 metros. Vestia uma couraça de bronze de 60 quilos. Estava de capacete e calçava botas metálicas. Levava dardo, espada, lança. Segundo as escrituras, era um "campeão". Ao vê-lo, os hebreus foram "tomados de pavor".

Na ilustração da coluna estão fotografados 5 rascunhos referentes à três estátuas históricas de Davi. No primeiro e segundo rascunhos está representado com linhas finas à caneta o Davi de Donatello. No rascunho do meio, feito em linhas rápidas de pincel, o Davi de Michelangelo. Por último, dois os rascunhos feitos em carvão da escultura do Davi de Bernini.
Ilustração publicada em 15 de julho - Bruna Barros

Davi nem combater podia, por ser demasiado jovem para se alistar. Era um pastor ruivo de "gentil aspecto". Foi olhado com desdém pelo rei Saul ao se dispor a enfrentar o incircunciso. O garoto explicou ao soberano que destroçava as feras que buscavam abocanhar-lhe as ovelhas.

"O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, me livrará da mão desse filisteu", falou ele ao rei. Então disse Saul a Davi: "Vai, e o Senhor esteja contigo".

Davi vestiu a armadura real, pôs o elmo de bronze na cabeça e cingiu a espada. Mas não estava acostumado a tanto peso e se despiu. Marchou rumo a Golias com o cajado, cinco pedras lisas no alforje e a atiradeira.

PUBLICIDADE

Ao ver que o adversário era um "mancebo", o gentio ameaçou: "Darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo". Davi atirou-lhe uma pedra que —pimba!— pegou bem no meio da testa.

Golias caiu de cara no chão. O pastor tomou-lhe a espada e o decapitou. Os filisteus fugiram em polvorosa. Quando Saul morreu, Davi foi coroado rei de Israel.

As três esculturas famosas de Davi foram feitas ao longo de quase dois séculos. A primeira é de Donatello, de 1440: um bronze de 1,58 metro que está no Bargello, em Florença. Foi a primeira estátua de alguém nu desde a Antiguidade grega, mil anos antes.

Escultura em material negro de um homem de chapéu segurando uma espada
'Davi' esculpido pelo artista italiano Donatello - Wikipedia

Ela mostra o efebo longilíneo e de chapéu com louros. Como a cabeça de Golias está a seus pés, a briga acabou há pouco. A magreza do hebreu contrasta com a cabeçorra do filisteu —sinal da superioridade da inteligência, da vitória da astúcia sobre a força bruta.

A segunda escultura, de 1504, é um mármore de Michelangelo que também está em Florença, na Academia. Nu da cabeça aos pés, com mais de cinco metros, esse Davi é admirado pela harmonia anatômica. Que não é impecável: a mão direita é maior que a esquerda.

A distorção tem razão de ser porque o herói hebreu é mostrado antes de apedrejar Golias. Daí as veias saltadas da mão direita que se contrai. O olhar tenso e o semblante aflito são de alguém que pondera, prepara-se para agir. É com esses detalhes que Michelangelo celebra a observação atenta e o raciocínio.

A terceira estátua, também de mármore, foi talhada por Bernini em 1624. Tem tamanho natural (1,70 metro) e está na Vila Borghese, em Roma. Ela abandona a tranquilidade apolínea das duas abordagens renascentistas que a antecederam e entra com tudo no tumulto barroco.

Davi está no meio da refrega. Em ponto de bala, tem o torso torcido e gestos eloquentes. Momentos antes de mandar pedra em Golias, morde os lábios com força e fúria. O mármore se move para demonstrar a preponderância da ação sobre a razão. Na hora do vamo-vê, o que conta é o ato.

O primeiro biógrafo de Bernini, seu filho Pier Filippo, escreveu que ele se olhava no espelho ao esculpir o rosto do pastor audaz. Biógrafos posteriores acrescentaram que quem segurava o espelho era o cardeal Maffeo Barberini, em vias de ser eleito papa com o nome de Urbano 8º.

Escultura em material mármore branco de um homem que se flexiona para arremessar uma pedra
'Davi' esculpido por Gian Lorenzo Bernini em 1623 - Wikipedia

No ótimo "Bernini and His World" (Lund Humphries, 288 págs.), lançado no início do ano, Livio Pestilli diz que tais versões são falsas. Um potentado cinquentão da corte romana não iria se meter num estúdio, cheio de pó de mármore, para servir de assistente a um escultor de 25 anos.

Em qualquer versão, contudo, o tempestuoso Bernini viu a si mesmo como Davi. Assim como Donatello e Michelangelo, gays, talvez tenham posto algo de si nos seus Davis —que, para vários estudiosos, exaltam o corpo masculino.

A subjetividade importa, seja de um fariseu colossal, um pastor judeu, artistas do Renascimento ou do Barroco. Sobretudo porque eles representam algo maior: uma crença, uma nação, uma estética. Fica aqui então um desafio à imaginação da leitora. Não é preciso Bíblia nem estátuas.

Em vez de milhões de brasileiros se trucidarem, seria melhor que só dois duelassem. No embate entre Lula e Bolsonaro, no homem contra homem, imagine quem é Davi e quem é Golias.


Defensoria Pública de SP começa a oferecer assistência jurídica a policiais, SBT News

 


Tem direito ao benefício agentes acusados por atos praticados em serviço ou de folga que possuam vínculo com a atuação policial | Reprodução

Tem direito ao benefício agentes acusados por atos praticados em serviço ou de folga que possuam vínculo com a atuação policial | Reprodução

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo começou, nesta 3ª feira (19.jul), a oferecer assistência jurídica para policiais militares e civis em processos que tenham ligação com o exercício da profissão. A medida foi implementada por meio da assinatura de um convênio pelo governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), pela manhã. O tucano classificou o anúncio como uma "conquista justa" dos policiais do estado.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Tem direito ao benefício os agentes acusados por atos praticados em serviço ou de folga. Entre esses atos, homicídio doloso tentado ou consumado; lesão corporal grave ou seguida de morte; abuso de autoridade; tortura; e fuga de pessoa presa. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), eles representam 95% das acusações contra policiais.

Para atender as demandas dos agentes, a SSP e a Defensoria Pública estabelecerão um fluxo. O Executivo estadual reforça que o benefício é opcional. Policiais em formação que participam de operações de segurança também podem solicitar a assistência jurídica gratuita a partir de agora.

Antes da assinatura do convênio, a Defensoria Pública vinha defendendo os PMs apenas nos plantões do Tribunal de Justiça Militar ou quando o Poder Judiciário indicava - isto valia para os policiais civis também.