Elon Musk anunciou nesta sexta-feira (13) a suspensão temporária do acordo para comprar o Twitter. As ações da empresa desabam em Wall Street.
Segundo o bilionário, a aquisição depende da confirmação do número de usuários com contas de spam ou falsas na rede. No início deste mês, o Twitter havia estimado que contas falsas ou de spam representavam menos de 5% de seus usuários ativos diários —a rede divulgou ter 229 milhões de usuários que receberam publicidade no primeiro trimestre deste ano.
Segundo o dono da Tesla, reduzir o número dessas contas seria um de seus principais motivos para comprar a plataforma.
O bilionário também já havia declarado que pretendia introduzir novas ferramentas, abrir o código dos algoritmos, combater os bots e autenticar "todos os humanos".
Ele também disse que pretendia fechar o capital da empresa e, em entrevista posterior, afirmou que poderia reabri-lo após um intervalo.
Em entrevista nesta semana, Musk afirmou que restabeleceria a conta no Twitter do ex-presidente dos EUA Donald Trump, por considerar a proibição "moralmente errada".
Nesta sexta, o Twitter não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da agência Reuters. Os representantes de Musk ou sua empresa Tesla Inc não estavam imediatamente disponíveis para comentar.
A compra —uma das maiores da história corporativa— poderá tornar Musk um barão das redes sociais, com poder de controlar o que ele mesmo definiu como a "praça pública de fato do mundo".
O homem mais rico do mundo ofereceu, no final de abril, US$ 44 bilhões pela empresa.
As ações do Twitter caíram 19% nas negociações pré-mercado em Nova York nesta sexta, após o anúncio de Musk. Não houve novo registro no site da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA explicando o comentário de Musk na manhã de sexta-feira.
Com a queda, os papeis atingiram o nível mais baixo desde que Musk divulgou sua participação na empresa no início de abril, segundo a agência Reuters.
A empresa de mídia social disse que enfrenta vários riscos até que o acordo com Musk seja fechado, incluindo se os anunciantes continuariam gastando no Twitter em meio a "possível incerteza em relação a planos e estratégias futuras".
BILIONÁRIO PROMETEU USAR DINHEIRO PRÓPRIO NA COMPRA
Homem mais rico do planeta segundo a lista de bilionários da Forbes, com uma fortuna estimada em aproximadamente US$ 219 bilhões (R$ 1,1 trilhão), o CEO da Tesla havia informado que usaria uma parte de seu próprio patrimônio para ter a própria rede social.
Ao anunciar no final de abril o fechamento do acordo para adquirir o Twitter, declarou que desembolsaria quase metade do valor total —cerca de US$ 21 bilhões (R$ 104,3 bilhões)— em patrimônio pessoal —na pessoa física.
O modelo desenhado para a operação, contudo, acabou colocando sob pressão outros negócios do bilionário sul-africano —a fabricante de carros elétricos Tesla, por exemplo, viu suas ações afundarem com a perspectiva de que fossem dadas em garantia de empréstimos.
Musk articulava um empréstimo coletivo de até US$ 25,5 bilhões (R$ 126,6 bilhões) junto a grandes bancos de Wall Street, liderados pelo Morgan Stanley, que assessorou o bilionário durante as negociações pelo Twitter.
Desse montante, cerca de US$ 12,5 bilhões (R$ 62 bilhões) seriam oriundos de um empréstimo garantido pela participação detida por Musk na montadora Tesla. A fatia do bilionário na fabricante de veículos elétricos é estimada em cerca de US$ 170 bilhões (R$ 844,2 bilhões).
Investidores viram nessa medida o risco de que Musk tenha que vender parte de sua participação na empresa para honrar o compromisso assumido no financiamento do Twitter.
Segundo reportagem da agência Bloomberg, entre outras hipóteses levantadas por especialistas de mercado para que Musk garanta os recursos necessários estão atrair sócios para investir no negócio ou vender ativos que não as empresas sob seu controle —criptomoedas, por exemplo.
Em julho do ano passado, ele afirmou que detinha Bitcoin, Ether e Dogecoin, embora a quantidade não seja conhecida.
Já os outros US$ 13 bilhões (R$ 64,5 bilhões) deverão ser obtidos no mercado por meio da emissão de dívidas de empresas controladas pelo empresário.
MULTA PELO ROMPIMENTO DO ACORDO É DE US$ 1 BILHÃO
Pessoas familiarizadas com o negócio afirmam que Musk teria se comprometido a pagar uma multa caso o negócio fracasse por motivos não relacionados a problemas de financiamento.
O valor seria de US$ 1 bilhão, considerado baixo nesse tipo de negociação —equivale a menos de 1% da fortuna do bilionário.
Não está claro como tal cláusula se aplicaria se Musk determinasse que os números de usuários do Twitter estavam incorretos.
Nesta quinta (12), a empresa confirmou a saída de dois executivos e também suspendeu a maioria das contratações na empresa, ainda sob a expectativa de que Elon Musk assumisse a plataforma.
Kayvon Beykpour, gerente geral que lidera a área de pesquisa, design e engenharia no Twitter, deixará a empresa, juntamente com o líder de produtos Bruce Falck, informou um porta-voz do Twitter à agência de notícias AFP.
Beykpour disse que foi demitido. "A verdade é que não era assim que eu imaginava deixar o Twitter, e não foi minha decisão", informou em um tuíte Beykpour, que cumpria licença-paternidade quando recebeu a notícia.
Segundo ele, o CEO do Twitter, Parag Agrawal, pediu que ele deixasse a empresa, argumentando que "deseja conduzir a equipe por um caminho diferente".
A plataforma também confirmou que suspendeu novas contratações a partir desta semana, e que está incorporando apenas cargos essenciais.
Fundado em 2006 com a proposta de ser uma rede de compartilhamento de status entre indivíduos em textos de no máximo 140 caracteres (posteriormente ampliados para 280), o Twitter transformou-se em um espaço relevante de debate, com a presença de formadores de opinião, políticos e celebridades.