domingo, 17 de outubro de 2021

A existência de Deus na perspectiva de Voltaire, do blog Pensamento Extemporâneo

João Paulo Rodrigues Pereira

O homem é um ser caracterizado por grandes capacidades intelectuais e práticas, mas, em sua finitude, é concomitantemente um ser frágil que se encontra em meio a grandes forças externas, como a natureza e a sociedade, e forças internas, como os instintos e as paixões. Por causa de sua fragilidade, inquieta-se com o sentido de sua existência e sempre se pergunta qual o sentido de seu nascimento, de sua morte, da angústia, do medo, do sofrimento e do desespero. Diante disso, busca algo que lhe traga esperança, algo que lhe dê segurança e sentido para a vida, encontrando assim respostas na aceitação de um ser superior a ele, um ser perfeito e eterno, que é “Deus”.

Porém Deus não é um ser material, tangível, do qual facilmente se constate a existência. Por isso, sua existência foi e é uma questão muito discutida, principalmente no âmbito da filosofia. Vários filósofos escreveram sobre este tema e tentaram argumentar sobre a existência de Deus. Assim, será tratado neste artigo, especificamente, a perspectiva de Voltaire.

Voltaire (1694-1778) foi um filósofo francês iluminista considerado “deísta”1 (embora o próprio Voltaire use o termo teísmo para designar sua concepção de Deus). Acredita que Deus se manifesta ao homem não pela revelação histórica como a tradição judaico-cristã, mas através da razão, de modo que, negar a existência de Deus seria um absurdo, pois segundo ele: “Deus existe como a coisa mais verossímil que os homens podem pensar e a proposição contrária como uma das mais absurdas” (VOLTAIRE, 1978b, p.68).

No entanto, o filósofo em questão tem uma visão cética em relação à metafísica, pois a razão humana não é capaz de conhecer a natureza divina e a realidade transcendente. Ao contrário da presunção da antiga metafísica, que se gabava de tudo conhecer, Voltaire evita o conhecimento que supera o limite da natureza humana, porque segundo ele: “a verdadeira filosofia consiste em saber deter-se no ponto exato e nunca continuar sem um guia seguro” (ROVIGHI, 1999, p.355). Isto é, não existe um guia seguro para a metafísica, justamente por causa da insuficiência da razão em relação à realidade supra-sensível. .

Contudo, Voltaire acreditava numa certa ordem inerente à natureza. Uma prova desta ordem inerente é o fim com que cada coisa se relaciona, pois este fim comprova que existe uma função para cada coisa no universo, conforme se segue: “Não há arranjo sem objeto, nem efeito sem causa; logo tudo é igualmente o resultado, o produto de uma causa final; logo, é tão verdadeiro dizer que os narizes foram feitos para trazer lunetas, como é verdadeiro dizer que as orelhas foram formadas para ouvir os sons e os olhos para receberem a luz”. (VOLTAIRE, 1978a, p.191).

Deste modo, a partir da ordem inerente da natureza, Voltaire deduz duas provas da existência de Deus, as quais segundo ele resumiriam todas as outras provas e também todos os outros escritos sobre esta questão. Sendo assim, o primeiro argumento a ser considerado é exatamente esta ordem do universo, mas não só ela, como também o fim com que cada coisa se relaciona:

Quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, disso concluo que um ser inteligente montou as engrenagens desta máquina para que o ponteiro marque as horas. Assim quando considero as engrenagens do corpo humano, concluo que um ser inteligente montou os órgãos para serem recebidos e nutridos por nove meses na matriz: que os olhos nos são dados para ver, às mãos para segurar, e assim por diante. (VOLTAIRE, 1978b, p.63).

Por esse motivo, para Voltaire, como para Newton, Deus é o grande engenheiro ou mecânico que idealizou, criou e regulou o sistema do mundo (REALE, 2005, p.257), ou seja, se existe uma ordem no universo é porque alguém ordenou, e o relógio é uma prova inegável da existência do relojoeiro, assim como o mundo é uma prova evidente da existência de um Criador Supremo que é Deus. “Se Deus não existisse seria preciso inventá-lo, porém a natureza proclama a sua existência”. (REALE, 2005, p.257).

O segundo argumento a ser considerado é mais metafísico, partindo assim, do pressuposto da necessidade da existência de um Ser que exista necessariamente e seja eterno, pois se existe uma coisa ou existe eternamente ou foi criado por um Ser eterno que existe por si mesmo.

Existo, portanto alguma coisa existe. Se algo existe, existiu desde toda eternidade, pois aquilo que é, ou é por si mesmo ou recebeu seu ser de outro. Se é por si mesmo, é necessariamente, sempre foi necessariamente e é Deus. Se recebeu o ser de outro, e este seu ser de um terceiro, aquele de quem este último recebeu seu ser deve ser necessariamente Deus, pois não podeis conceber um ser que dê o ser a um outro se não tiver o poder de criar. (VOLTAIRE, 1978b, p.64)

Neste argumento a existência de Deus é provada pelo fato de ter que existir um Ser que exista necessariamente por si mesmo. Pois se existe algo, existe necessariamente por si mesmo desde toda eternidade ou seu ser deriva de um outro ser que existe desde toda eternidade sendo o seu ser a origem de todos os outros seres. Logo, este ser necessário que existe por si mesmo é Deus. E por fim, basta agora examinar, segundo a reflexão de Voltaire, se o mundo material é este Ser necessário que existe por si mesmo e que é a origem dos outros seres que não são necessários.

Se este mundo material existisse por si mesmo de modo absolutamente necessário, seria contraditório pensar que a mínima parte dela poderia ser diferente de como é, pois, se o seu ser neste momento é absolutamente necessário, isso é suficiente para excluir qualquer outra maneira de ser. Ora está fora de dúvida que esta mesa sobre a qual escrevo, esta pena de que me sirvo, não foram sempre aquilo que são; estes pensamentos que traço sobre esta folha um momento antes nem sequer existiam, e não existem de modo necessário. Ora, se cada parte não existe com absoluta necessidade, é impossível que o todo exista por si mesmo. Eu produzo movimento; portanto um movimento antes não existia; portanto, não é essencial a matéria; portanto ela o recebe de outro; portanto, há um Deus que o comunica a ela. (REALE, ,2005 p.73.)

Desta forma, se a matéria existisse como uma necessidade absoluta, todas as partes dela deveriam existir necessariamente. Porém, as partes não existem necessariamente, pois uma mesa nem sempre foi uma mesa e uma caneta nem sempre foi uma caneta. Sendo assim, se as partes não existem necessariamente, o todo também não existe necessariamente. Logo, a matéria não existe necessariamente e não é Deus. Pois como se percebeu, Deus é um ser que existe necessariamente por si mesmo.

Portanto, fica claro no pensamento de Voltaire que Deus se revela aos homens por meio de sua razão, no entanto esta mesma razão não é capaz de conhecer a realidade transcendente. E a existência de Deus é algo inegável, pois a natureza proclama sua existência, ou seja, as provas de sua existência são tiradas da ordem inerente que existe na natureza e esta ordem se dá pelo fim com que cada coisa se relaciona no universo.

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2000.

REALE, Giovanni. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.

ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. São Paulo: Loyola, 1999.

VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1978a. (Os Pensadores)

VOLTAIRE. Tratado de Metafísica. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1978b. (Os Pensadores)

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[1] “Deísmo – Doutrina de uma religião natural ou racional não fundada na revelação histórica, mas na manifestação natural da divindade à razão do homem. O D. é um aspecto do iluminismo (v.), de que faz parte integrante.(…) O D. difundiu-se fora da Inglaterra como elemento do iluminismo: são deístas quase todos os iluministas franceses , alemães e italianos. Nem todos, porém, usam a palavra D. para designar sua crenças religiosas: Voltaire, p. ex., usa a palavra ‘teísmo’. (…) Nota-se, porém, que em relação ao conceito de Deus nem todos os deístas estavam de acordo. Enquanto os deístas ingleses atribuíam a Deus não só o governo do mundo (a garantia da ordem do mundo), mas também o do mundo moral, os deístas franceses, a começar por Voltaire, negam que Deus se ocupe dos homens e lhe atribuem a mais radical indiferença quanto a seu destino.” (ABBAGNANO, 2000, p. 238). Voltaire usa a palavra teísmo com o mesmo significado do deísmo para os demais iluministas, “afirmando que Deus governa o mundo e na retribuição do mal e do bem na vida futura. Porém , quanto à concepção de Deus nem todos os deístas comungam da mesma idéia. Enquanto os deístas ingleses atribuem a Deus o governo do mundo físico e do mundo moral, os deístas franceses, a começar por Voltaire, negam o governo do mundo moral (…), por isso, ele acredita que a historia é uma questão dos homens, inclusive o mal”(REALE, 2005, p. 257). 

Sérgio Camargo foi acusado de assédio moral anos antes de comandar a Palmares, FSP

 Eduardo Moura

BELO HORIZONTE

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, foi nesta semana afastado pela Justiça das atividades relacionadas à gestão de pessoas da instituição. Dessa forma, ele fica proibido de nomear e exonerar servidores.

A decisão acontece no âmbito de uma ação do Ministério Público do Trabalho que pede o afastamento de Camargo da presidência da Palmares por denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da instituição.

Muito antes de assumir o cargo no governo Bolsonaro, Camargo já tinha sido acusado de assédio moral por ex-colegas. Alguns dos relatos sobre o seu histórico profissional foram revelados pelo site Alma Preta em março deste ano. A reportagem pediu um posicionamento de Camargo em relação às acusações por meio da assessoria de imprensa da Fundação Palmares, mas não obteve retorno até a publicação.

O atual presidente da Palmares é jornalista e passou por importantes veículos de imprensa na capital paulista. "Sou jornalista e tenho lugar de fala!”, ele postou no Twitter no início do mês passado, ao afirmar que passaria a chamar os principais veículos de imprensa do país de "marginais". É uma reação a como a imprensa vem cobrindo sua gestão na Fundação Cultural Palmares.

Em 1995 ele trabalhou como repórter free-lancer na Folha. De 2000 e 2015, ele bateu ponto no prédio de três andares onde funcionava a Agência Estado, no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo, conforme informa seu currículo no site da Palmares e segundo quatro ex-colegas ouvidos por este repórter, mas que preferiram não se identificar.

No turno da madrugada, Scamar —contração do nome e sobrenome de Camargo e como era conhecido pelos colegas— chegou a ter cargo de chefia. O trabalho consistia em compilar material vindo de agências de notícias e jornais de grande circulação para montar uma espécie de newsletter impressa que resumia as principais notícias do Brasil e do mundo, inicialmente enviada por fax aos leitores.

Das 22h às 5h do dia seguinte, Camargo às vezes trabalhava ouvindo Mahler e Schubert no fone de ouvido —e dava boas dicas de música clássica aos colegas, dizem. Entre os assuntos para a hora do cafezinho, musculação era um de seus tópicos preferidos.

Também fazia piadinhas homofóbicas e preconceituosas, mas eram os anos 2000, quando era mais comum fazer vista grossa a esse tipo de coisa. Colegas de Redação também destacam que Camargo se posicionava fortemente contra cotas raciais.

Quando ele chegou a um cargo mais alto na hierarquia da madrugada, sua postura ficou mais rígida. Há relatos de que Camargo tratava um jornalista em específico, que ocupava um cargo mais baixo na hierarquia, a mão de ferro —passava maiores demandas e atentava para detalhes mínimos. Eventuais erros eram motivo para Camargo desmerecer o funcionário, chegando a dizer que o subordinado era um péssimo jornalista.

Ex-colegas disseram a este repórter que Camargo gritava ofensas e quase partiu para a agressão física contra o profissional. Após o episódio, o jornalista foi transferido para outro setor e foi afastado pouco tempo depois, enquanto Camargo seguiu no posto.

Antes disso, outro jornalista da casa, mas que não trabalhava no mesmo departamento, também entrou em rota de colisão com Camargo. Ele havia apresentado um atestado médico para uma ausência no trabalho. Quando o atual presidente da Palmares soube que, na verdade, o colega tinha faltado para ir a um show do cantor Elton John, tratou logo de contar para a chefia.

No site da Fundação Palmares, o currículo de Camargo vai só até 2015. Foi esse o ano em que ele se desligou da Agência Estado.

A partir daí, Camargo partiu em um périplo para terras mais ao norte no Brasil. Ele chegou a morar no Rio Grande do Norte e no Maranhão, segundo seu pai, o escritor Oswaldo Camargo, confirmou em entrevista recente. Ex-colegas dizem que, após não ter conseguido se recolocar como jornalista, ele teria passado a vislumbrar a possibilidade de prestar concurso público e que, no Nordeste, teria trabalhado em um bar e restaurante.

Além de gostar de Mahler e musculação, Dostoiévski e Beyoncé, Camargo é há muito um entusiasta de novas tecnologias e demonstrava gosto por redes sociais desde sua época na Agência Estado.

Até meados de 2019, seu feed era composto por fotos de família e viagens —até que, em agosto daquele ano, ele postou uma frase da ativista conservadora pró-Trump Candace Owens. “Se você tem uma visão permanente de si mesmo como vítima, você se torna o seu próprio opressor” é a mensagem atribuída a ela.

O tom e a frequência das postagens começa a partir daí a escalar rápido. Uma famosa fotografia em que o jornalista usa uma camisa azul foi postada nessa época —originalmente, a camisa era vermelha, mas a cor foi alterada digitalmente. Camargo foi nomeado para o cargo na Palmares em novembro de 2019.

Segundo os relatos coletados pelo Ministério Público do Trabalho, alguns deles revelados também no programa Fantástico, da Globo, Camargo manteve ainda o jeito truculento de tratar seus funcionários.

Nos depoimentos, funcionários da Palmares afirmaram que Camargo associa pessoas de “cabelos altos” em referência a penteados afro a malandros. Além disso, servidores concursados teriam pedido demissão por causa de um clima de terror psicológico criado na instituição sob o comando do atual presidente do órgão, que perseguiria o que ele define como "esquerdistas".

Funcionários ainda dizem que Camargo chamava um ex-diretor da Palmares de “direita bundão” por não exonerar “esquerdistas” da Palmares. Além do afastamento, o Ministério Público do Trabalho também pede que Camargo pague indenização de R$ 200 mil por danos morais, segundo a TV Globo.

Nas redes sociais, ele segue criticando o movimento negro, o jornalismo e até mesmo as acusações de assédio moral. "Na verdade, presido um reino de terror e tortura, mwahahahahaha...", publicou na semana passada.

Nesta segunda, logo após a divulgação da decisão da Justiça, ele postou que a acusação de assédio moral é “mera narrativa gerada por militantes de esquerda e traíras que tive a infelicidade de nomear". "Estou tranquilo e confiante.”

A reportagem entrou em contato com a Fundação Palmares para pedir um posicionamento sobre as acusações de assédio moral —tanto as recentes quanto as antigas. Não houve resposta até o momento da publicação.

Nomeado por Roberto Alvim, ex-secretário especial da Cultura, em novembro de 2019, Camargo acumula polêmicas e toma decisões questionadas na Justiça desde que foi escolhido para o cargo.

Ele chegou a deixar a presidência da fundação no mês seguinte à nomeação, após a Justiça acatar uma ação civil que pedia a sua suspensão. O pedido dizia que ele contrariaria o cargo em razão de suas várias críticas feitas a Zumbi dos Palmares e ao movimento negro. No ano passado, no entanto, o Superior Tribunal de Justiça derrubou a decisão.

À frente do órgão, que é responsável por preservar memória e cultura negra, Camargo empreendeu uma cruzada ideológica. Em junho deste ano, a Palmares publicou um relatório intitulado "Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista", segundo o qual metade do acervo de livros da instituição seria excluído —entre os os títulos expuragados, estariam os de autores como Karl Marx, Friedrich Engels e Lênin, mas também Max Weber, Eric Hobsbawm, H. G. Wells, Celso Furtado, Carlos Marighella e Marco Antonio Villa.


Nova rede social tem limite de 100 posts por usuário e zero curtidas, The News

 Na era da abundância, quanto vale a escassez? É nisso que uma nova rede social americana acredita e quer espalhar entre seus usuários. A Minus, fundada em Chicago, é a primeira rede que possui um limite de posts por usuários.

Ao contrário do Instagram e do TikTok, que querem que usuários postem mais e mais, a plataforma só permite que cada usuário poste 100 vezes durante toda sua passagem pelo aplicativo.

O objetivo? Ser algo provocador para uma sociedade que passa cada vez mais tempo conectada e dependente. Segundo o fundador, a ideia é fazer com que as pessoas pensem efetivamente antes de postar.

  • Logicamente, por ser do contra, na Minus também não existem curtidas ou contagens de seguidores. risos. Uma rede social sem algoritmos.

Modelo de negócios sustentável ou só alarde?

Aparentemente, é muito mais um desejo pessoal do fundador — Ben Grosser, um professor e artista da Universidade de Illinois — de alertar a sociedade, do que algo que ele realmente pretende monetizar ou tornar escalável.

O timing 

A plataforma vem no momento em que o Facebook está sendo duramente criticado depois dos relatos de uma ex-funcionária, Frances Haugen, sobre as políticas da empresa de priorizar lucro em vez da saúde mental e privacidade dos usuários.

Olhando além do fato… É bem provável que a Minus não se torne a próxima grande rede social, mas ousamos dizer que algo diferente do que estamos acostumados está por vir — mais próximo da Minus do que do TikTok.