terça-feira, 17 de agosto de 2021

Palácio Capanema e a arquitetura da destruição, Alvaro Costa e Silva, FSP

 O antigo Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, é o mais importante monumento arquitetônico construído no Brasil no século 20. Mesmo em eterna reforma, que se arrasta desde 2014, o edifício está na lista do feirão de imóveis que o ministro da Economia planeja oferecer à iniciativa privada. Tombado pelo Iphan em 1948, três anos após a inauguração, o palácio no abandonado Centro do Rio pode virar bingo de miliciano ou igreja de picareta. Para Paulo Guedes, tanto faz, é preciso encher a caixinha eleitoral.

Nos jardins do Capanema, destaca-se o Monumento à Juventude Brasileira, esculpido por Bruno Giorgi em granito de Petrópolis, com quatro metros de altura. Na composição, o casal de jovens caminha em direção ao prédio, o rapaz ligeiramente à frente da moça, representando o futuro do país. Futuro que, se valer a vontade de Bolsonaro, não haverá.

Monumento à Juventude Brasileira, no jardim do Palácio Capanema, em reforma desde 2014
Monumento à Juventude Brasileira, no jardim do Palácio Capanema, que está em reforma desde 2014 - Alvaro Costa e Silva

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou a repetir a cantilena pastoral de que a universidade deveria ser para poucos no Brasil. E Guedes, não satisfeito com o desastre da reforma trabalhista de Temer, leva ao Congresso a minirreforma que troca salário por bolsa, reduz o FGTS, cria emprego sem vínculo e torna permanente o corte de jornada.

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O palácio tem o nome do ministro, mas poderia ter o de Carlos Drummond de Andrade, que ali trabalhou por quase 30 anos. Foi o poeta que sugeriu a Capanema abandonar o projeto do catedrático Archimedes Memória e convidar Lúcio Costa para elaborar novo plano, do qual Le Corbusier foi consultor e Oscar Niemeyer, idealizador do desenho final, que incorpora o pilotis à cidade, fazendo do espaço entre as colunas um passeio público.

O Capanema foi erguido onde ficava o morro do Castelo, botado abaixo. O escandaloso leilão de agora lembra a derrubada do Palácio Monroe, ex-Senado Federal, pelo regime militar. Como falou o Arthur Dapieve, é a arquitetura da destruição.

Vista do Palácio Capanema, no Centro do Rio, em reforma desde 2014
Fachada do Palácio Capanema, no Centro do Rio, em reforma desde 2014 - Alvaro Costa e Silva

O Palácio Capanema é dos brasileiros, Cristina Serra, FSP

 O amigo Rubem Braga estava na Itália, como correspondente de guerra, e Vinicius de Moraes escreveu-lhe em carta: “... está no tempo de caju e abacaxi, e nas ruas já se perfumam os jasmineiros. Digam-lhe que tem havido poucos crimes passionais em proporção ao grande número de paixões à solta. Digam-lhe especialmente do azul da tarde carioca, recortado entre o Ministério da Educação e a ABI [Associação Brasileira de Imprensa]. Não creio que haja igual mesmo em Capri.”

O poeta falava da sede do Ministério da Educação, o Palácio Capanema, que foi —e ainda é— um manifesto de modernidade ética e estética num país arcaico. A construção é uma síntese do talento brasileiro e condensa um projeto de futuro, saído das mentes brilhantes dos arquitetos Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira e Ernâni Vasconcelos. Tem jardins de Burle Marx, painéis de azulejos e afrescos de Candido Portinari, esculturas de Bruno Giorgi e Celso Antônio de Menezes.

Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do ministro Gustavo Capanema, que encomendara o prédio, registrou as qualidades da obra: “Dias de adaptação à luz intensa, natural, que substitui as lâmpadas acesas durante o dia; […] Das amplas vidraças do 10º andar descortina-se a baía vencendo a massa cinzenta dos edifícios. Lá embaixo, no jardim suspenso do Ministério, a estátua de mulher nua de Celso Antônio, reclinada, conserva entre o ventre e as coxas um pouco da água da última chuva, que os passarinhos vêm beber, e é uma graça a conversão do sexo de granito em fonte natural. Utilidade imprevista das obras de arte”.

Paulo Guedes pretende leiloar o Capanema que, aliás, é tombado desde 1948. Seu plano estúpido e obscurantista é fazer do Brasil um país que não mais se reconheça, banido do seu próprio rosto, sem memória nem medida da nossa singularidade criativa. Que o simples, belo e elegante Capanema seja o símbolo da nossa resistência e da nossa sobrevivência.


Revista Forbes Brasil - Junho 2021 16.08.21 Energia solar e o agronegócio, por Roberto Rodrigues

 São Paulo - O crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, 1,2% maior do que o do último trimestre de 2020, suportado em boa parte pelo crescimento de 5,7% da agropecuária no mesmo período, traz um cenário animador para a economia em 2021.


No entanto, a seca intensa que se abate há alguns meses sobre amplas regiões no sudeste, no sul, leste e centro-oeste do país pode levar a uma séria crise hídrica com escassez nos reservatórios das usinas hidrelétricas dessas regiões.

As autoridades do setor energético já fizeram acionar as termelétricas, que são caras, poluentes e responsáveis pelas bandeiras vermelhas na conta de luz, mais cara, na cidade e no campo. Vale lembrar um fato bastante comentado: cerca de 46% da matriz energética brasileira é renovável, enquanto no mundo todo a parcela renovável é de apenas 14%. E a agroenergia oriunda da cana-de-açúcar ( bioeletricidade a partir do bagaço e da palha da planta), do etanol (também de milho) e do biodiesel de oleaginosas representa 17% da matriz. Ou seja, a contribuição do agro para a economia nacional transcende a alimentação.

Um dos principais insumos para o sucesso de nossa competitiva atividade rural é, sem dúvida, a disponibilidade de energia nas fazendas de todos os tamanhos e tipos de produção. É a eletricidade que toca, por exemplo, os diferentes modelos de motores, as bombas para irrigação indispensável na horticultura que gera as verduras, legumes, frutas e flores. Ou as grandes áreas de café, produtos cítricos e até algodão. Não há refrigeração de carnes, leite e derivados sem eletricidade; nem na regulagem de temperatura nas criações de vacas leiteiras, frangos e suínos; na iluminação; em cercas elétricas; no monitoramento das propriedades rurais; nos escritórios agrícolas onde a internet tem papel central na gestão.

Diante dessas demandas todas, têm crescido nas fazendas brasileiras a geração e o uso da energia solar produzida localmente. Desde 2012, os produtores rurais já investiram cerca de R$ 3,4 bilhões em energia solar, gerando mais de 21 mil empregos. O setor rural responde, hoje, por 13,1% de toda a potência instalada em sistemas de geração própria com a fonte fotovoltaica.