Três anos depois da eleição marcada pelo fenômeno da antipolítica e pela onda bolsonarista que ocupou o espaço da oposição ao PT, nomes da velha guarda do PSDB derrotados nas urnas em 2018 planejam voltar ao palco da política no próximo ano.
O principal deles é o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, candidato tucano que foi derrotado nas eleições presidenciais de 2018. Ele afirmou na semana passada que deve deixar a legenda, mas planeja voltar a concorrer ao Governo de São Paulo —para isso, negocia uma provável filiação ao PSD.
Ele não é o único. Ao menos outros três ex-governadores e um ex-senador tucanos, todos atualmente sem mandato, podem voltar às urnas em 2022. Miram disputas a governos estaduais, Senado e Câmara dos Deputados.
Governador do Pará por três mandatos, Simão Jatene, 72, tem sido incentivado por aliados a concorrer ao governo do estado pela quarta vez.
Em 2018, quando estava em seu último ano de gestão, ele não disputou cargo e apoiou para o governo o então deputado Márcio Miranda (DEM), que foi derrotado por Helder Barbalho (MDB).
À Folha Jatene reconhece o momento de dificuldade enfrentado pelo PSDB. Mas diz acreditar que, se tiver maturidade e equilíbrio, o partido pode fazer um movimento de resgate de seus valores históricos.
“Estamos diante de uma encruzilhada civilizatória e poucos têm conseguido caminhar nesta vereda sem tropeços. É óbvio que o PSDB cometeu seus equívocos, mas nada é eterno” afirma.
No âmbito local, Jatene defende a construção de um projeto de oposição a Helder Barbalho, que disputará a reeleição. Diz que há conversas com PSD, PV e Cidadania, mas até o momento sem definição sobre qual será o nome que vai liderar o grupo.
“Lamentavelmente, o governador tem feito uma gestão desastrosa e autoritária. Isso tem levado a uma reação da população. Não nego que existe uma lembrança e uma provocação para que eu volte a concorrer ao governo”, afirma.
Para conseguir emplacar mais uma candidatura, contudo, o tucano ainda tem dois obstáculos a superar até o próximo ano. O primeiro é conseguir unificar o PSDB local, já que parte do partido passou a apoiar Helder Barbalho.
O segundo obstáculo é no campo jurídico: Jatene teve suas contas de 2018 reprovadas pela Assembleia Legislativa do Pará, o que pode gerar implicações em torno da sua elegibilidade.
O tucano, contudo, classifica a rejeição das contas como uma manobra política, já que elas haviam sido aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado.
Outros dois líderes de expressão nacional do partido que podem voltar as urnas são o goiano Marconi Perillo e o paranaense Beto Richa.
Ambos foram derrotados para o Senado em 2018 e submergiram da política partidária após serem alvos de desdobramentos da operação Lava Jato.
Governador de Goiás por quatro mandatos, Marconi Perillo, 58, colocou o seu nome à disposição do partido para concorrer ao governo do estado em 2022 contra o governador Ronaldo Caiado (DEM), que deve disputar a reeleição.
Perillo foi derrotado na disputa para o Senado em 2018 e ficou em quinto lugar, com 7,5% dos votos. Desde então, o PSDB vive seu momento de maior fragilidade em Goiás. O partido havia eleito 75 prefeitos em 2016, caiu para 20 nas eleições de 2020 e agora tem 17.
“Claro que tivemos perdas, mas é natural. O governo do estado tem uma força muito grande para cooptar e essa foi uma prática constante de Caiado”, dispara o ex-governador Marconi Perillo.
Ele diz acreditar que o PSDB tem condições voltar a ser protagonista em Goiás, mesmo depois do revés de 2018.
Para isso, começa a reorganizar o partido, buscar novos líderes políticos e negociar alianças com outros partidos do campo de oposição a Caiado. Também participou, no início do mês, de um encontro com o governador de São Paulo João Doria (PSDB), pré-candidato a presidente.
Perillo classifica a última eleição estadual como atípica, por ter sido marcada por um forte discurso antipolítica. Diz que também pesou no resultado o fato de ter sido alvo de um mandado de busca e apreensão nove dias antes das eleições.
“Foi uma grande armação, uma coisa preparada para me derrotar. Mas o tempo vai passando e as coisas vão ficando mais claras”, afirma o ex-governador, que chegou a ser preso dois dias depois da eleição de 2018.
Batizada de Cash Delivery, a operação apurou supostos repasses indevidos a Perillo com base nas delações premiadas de executivos da Odebrecht. Em 2020, ex-governador foi condenado por prática de caixa 2 —o processo ainda corre em segunda instância.
No Paraná, Beto Richa, 55, também começa a se movimentar depois de três anos distante do dia a dia da política. Governador do Paraná de 2011 a 2018, ele foi derrotado na disputa para o Senado na última eleição —teve 3,7% dos votos e ficou em sexto lugar.
Aos poucos, começou a retomar postagens em redes sociais e estreitou o contato com prefeitos e líderes políticos. No início de julho, reapareceu em uma visita ao Paraná do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que é pré-candidato ao Planalto.
A assessoria do ex-governador informou que ele ainda não decidiu se vai concorrer a um cargo em 2022, mas a Folha apurou que seu objetivo é disputar uma cadeira de deputado federal.
Richa chegou a ser preso em setembro de 2018 em meio à campanha eleitoral por suspeitas de fraudes em licitações. Depois, em 2019, voltou a ser preso outras duas vezes. Na época, a defesa do ex-governador defendeu que as prisões não tinham fundamento.
Outro nome do PSDB que se movimenta para voltar ao palco da política nacional Arthur Virgílio Neto, 75, que encerrou em 2020 um ciclo de oito anos à frente da Prefeitura de Manaus.
Ele vai disputar as prévias no PSDB para ser candidato a presidente da República. Internamente, contudo, as suas chances são vistas como remotas no embate que deve polarizar entre João Doria e Eduardo Leite.
Caso não obtenha sucesso no plano de voo nacional, o caminho natural seria tentar voltar ao Senado, onde já cumpriu mandato entre 2003 e 2010 e ganhou notoriedade como um dos principais nomes da oposição ao então presidente Lula (PT).
No tabuleiro das disputas estaduais, o PSDB ainda mira governos de São Paulo, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Alagoas, mas com nomes novos.
Em São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia trocou o DEM pelo PSDB e será o candidato apoiado por João Doria. A situação é semelhante em Mato Grosso do Sul, onde o secretário Eduardo Riedel foi escolhido pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para a sua sucessão.
No Maranhão, o vice-governador Carlos Brandão deve ser candidato com apoio do governador Flávio Dino (PSB). Em Alagoas, por outro lado, o senador Rodrigo Cunha será o candidato do campo da oposição ao grupo do governador Renan Filho (MDB).