20.mai.2021 às 23h15
Uma técnica desenvolvida pela UFV (Universidade Federal de Viçosa), em Minas Gerais, pode reduzir em até oito vezes o tempo para início da recuperação da área destruída pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. A técnica prevê a utilização de vegetação que existia na região.
A barragem B1 da mina Córrego do Feijão se rompeu em 25 de janeiro de 2019 e resultou na morte de 270 pessoas. Onze vítimas ainda não foram localizadas. A lama que desceu da estrutura atingiu áreas de mata atlântica e chegou ao rio Paraopeba, em um dos maiores desastres ambientais do país.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) calculou em 269,94 hectares a área destruída. A Vale afirma que com o rompimento foram impactados diretamente 132 hectares de floresta.
A primeira etapa do trabalho dos pesquisadores da UFV foi colher amostras do DNA de espécies vegetais na área atingida que sobreviveram ao tsunami de lama.
“Em parceria com a Vale, resgatamos o DNA de espécies importantes na estrutura das florestas da região", afirma oGleison dos Santos, professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV.
Foram coletados DNA de jacarandá, caviúna, ipê amarelo, braúna e jequitibá. A técnica prevê a produção de cópias das plantas para garantir que não haja perda de constituição genética. Ao todo foi recolhido material de dez espécies vegetais.
"Mudas que poderiam levar mais de oito anos para florescer devem iniciar esse processo em entre 6 e 12 meses, o que contribuirá efetivamente para acelerar a recuperação da biodiversidade da região", afirma a mineradora. Segundo a Vale, a técnica já começou a ser utilizada para a reabilitação florestal da área e a previsão é que sejam plantadas 5.000 mudas "copiadas" nos próximos três anos.
Segundo Santos, porém, a recuperação pode ser ainda mais rápida do que a prevista pela Vale. O especialista afirma que os clones das árvores poderão florescer com um ano, ante dez anos de suas matrizes naturais.
A técnica desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa foi criada para salvar espécies com risco de extinção ou, ainda, para recuperação de áreas degradadas por desastres ambientais.
"O primeiro passo é ir à área atingida e identificar as árvores danificadas que correm o risco de morrer. Coletamos um pedaço de mais um menos 20 cm da copa dessa árvore e levamos para o laboratório", relata o professor. A partir desse momento, o DNA da espécie é identificado. O laboratório funciona acoplado a uma estufa.
Uma série de hormônios de crescimento é injetada na planta que, com tempo entre 6 e 8 meses, é levada para a área em que será colocada no solo. "Uma árvore plantada normalmente, para cumprir sua função máxima na natureza, florescendo e deixando semente, levaria até dez anos. Com essa técnica, o tempo é de um ano", afirma o professor.
Segundo o representante da UFV, um percurso de 150 km ao longo do rio Paraopeba, entre Brumadinho e Pompéu, na Região Central de Minas Gerais, área atingida pela lama da Vale, passará por recuperação utilizando o processo desenvolvido pela escola.