quarta-feira, 19 de maio de 2021

Cloroquina, mentiras sobre China e críticas de Kátia Abreu; veja 4 pontos da fala de Ernesto à CPI da Covid, FSP

 Em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo confirmou que mobilizou a estrutura do Ministério das Relações Exteriores para a compra da hidroxicloroquina e afirmou que o processo contou com a atuação do presidente Jair Bolsonaro.

Ernesto também mentiu sobre seus atritos com a China, país fornecedor de matéria-prima para a fabricação de vacinas, e os ataques que ele próprio desferiu ao país asiático.

Veja, abaixo, quatro pontos do depoimento.

HIDROXICLOROQUINA

À CPI Ernesto Araújo confirmou informação divulgada pela Folha de que o governo Bolsonaro mobilizou a estrutura diplomática brasileira para adquirir hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.

"Naquele momento, março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos para hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina, fomos informados pelo Ministério da Saúde", disse.

E, embora Ernesto tenha citado o mesmo mês de março, o Itamaraty continuou acionando o corpo diplomático, em telegramas de junho, para garantir o fornecimento de hidroxicloroquina, mesmo depois de sociedades médicas terem desaconselhado o uso apontando efeitos colaterais graves.

O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou diretamente se houve participação do presidente da República no processo. "Sim", respondeu Ernesto.

MENTIRAS SOBRE ATAQUES À CHINA

Em um dos momentos mais acalorados da sessão da CPI, o ex-chanceler negou que tenha feito qualquer ataque ao país asiático.

"Não vejo nenhuma declaração que eu tenha feito como antichinesa. Em notas oficiais, nos queixamos do comportamento da Embaixada da China, mas não houve nenhuma declaração que se possa classificar como antichinesa", afirmou.

Presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) então contrapôs Ernesto e relembrou artigo escrito pelo ex-ministro no qual usa a expressão "comunavírus". "Na minha análise pessoal, Vossa Excelência está faltando com a verdade. Então, eu peço que não faça isso. Não faça isso", disse.

CRÍTICAS DE KÁTIA ABREU

As contradições de Ernesto foram foco do discurso da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que fez uma dura fala contra o ex-chanceler.

A parlamentar afirmou que o comportamento do então chanceler com a China foi nocivo para o país, em particular na aquisição de vacinas. "Que bajulação à China? Eu quero bajular qualquer país que tenha vacina", afirmou.

Ao terminar sua fala, Kátia disse que Ernesto colocou o Brasil na condição de pária e de irrelevância. Afirmou que o ex-chanceler é um "negacionista compulsivo". "O senhor no MRE [Ministério de Relações Exteriores] foi uma bússola que nos direcionou para o caos, que nos levou ao iceberg, ao naufrágio", disse.

OFERTA DA PFIZER

Ernesto afirmou que não avisou o presidente sobre a carta da farmacêutica porque presumiu que ela já havia sido entregue ao mandatário, alegando que Bolsonaro era o destinatário do documento. "Presumia que o presidente da República já soubesse", afirmou.

Após tensão, sindicalistas escrevem para Doria pedindo que não venda sede dos Metroviários, FSP

 Centrais sindicais enviaram carta ao governador, João Doria (PSDB), a fim de pedir que desista da venda do terreno em que funciona a sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, na rua Serra do Japi, na zona leste da capital.

No documento, assinado nesta terça-feira (18), eles tentam convencer o tucano que, além da crise sanitária, sofrem com recorrentes ataques que limitam suas atividades.

O governo marcou para o próximo dia 28 a abertura dos envelopes com propostas sob a justificativa de conter a crise no sistema de transporte, o que causou tensão com os metroviários.

“Em um período tão grave para o país com a gravíssima crise sanitária e econômica e diante dos recorrentes ataques que limitam e inibem os sindicatos para o exercício das suas finalidades, solicitamos a sua atenção para a fundamental continuidade da cessão desse imóvel que permitirá ao Sindicato manter suas atividades e o atendimento aos trabalhadores e às trabalhadoras”, diz trecho da carta.

O documento, com data desta terça-feira, é assinado UGT (União Geral dos Trabalhadores), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Força Sindical, além da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e a NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores) e a CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros).

A sede funciona desde 1986, e a concessão tem sido renovada pelos governadores desde então.

Antonio Delfim Netto - Menos mal do que parece, FSP

 Os números recentes da atividade econômica no Brasil revelam um fato curioso. A despeito das confusões políticas ininterruptas que se arrastam e se agravam mês a mês, o setor produtivo brasileiro parece ter dominado a arte de trabalhar em um país que se revela cada vez mais preso na disfuncionalidade e inoperância da política.

A resiliência da economia à segunda onda não é particular ao Brasil. Na Europa, por exemplo, que para frear a segunda onda da pandemia implementou "lockdown" de verdade —não restrições à mobilidade para "inglês ver"—, a queda na atividade foi muito menos pronunciada tanto frente à primeira onda quanto ao esperado pelos analistas. Com isso, as projeções de atividade em algumas economias começam a ser revistas para cima.

Isso sugere alta capacidade do setor produtivo em se adaptar-se à Covid-19, o que era esperado conforme se desse o aprendizado e a apreensão de informações sobre a doença. Esse fator comum indica também que, caso fosse essa a única preocupação de alguns, mais poderia ter sido feito para conter o avanço do vírus no Brasil com pouco impacto sobre a economia.

Mas o que chama a atenção por aqui é que isso ocorra apesar da algazarra política, da CPI e do já conhecido expediente do presidente em conduzir o país num ambiente de elevadas incertezas e na base do conflito permanente. Talvez o mundo real tenha resolvido esquecer/ignorar governo e Congresso. Se for isso, é uma excelente notícia e uma fórmula necessária para conviver com eles —e sobreviver!