quarta-feira, 19 de maio de 2021

Antonio Delfim Netto - Menos mal do que parece, FSP

 Os números recentes da atividade econômica no Brasil revelam um fato curioso. A despeito das confusões políticas ininterruptas que se arrastam e se agravam mês a mês, o setor produtivo brasileiro parece ter dominado a arte de trabalhar em um país que se revela cada vez mais preso na disfuncionalidade e inoperância da política.

A resiliência da economia à segunda onda não é particular ao Brasil. Na Europa, por exemplo, que para frear a segunda onda da pandemia implementou "lockdown" de verdade —não restrições à mobilidade para "inglês ver"—, a queda na atividade foi muito menos pronunciada tanto frente à primeira onda quanto ao esperado pelos analistas. Com isso, as projeções de atividade em algumas economias começam a ser revistas para cima.

Isso sugere alta capacidade do setor produtivo em se adaptar-se à Covid-19, o que era esperado conforme se desse o aprendizado e a apreensão de informações sobre a doença. Esse fator comum indica também que, caso fosse essa a única preocupação de alguns, mais poderia ter sido feito para conter o avanço do vírus no Brasil com pouco impacto sobre a economia.

Mas o que chama a atenção por aqui é que isso ocorra apesar da algazarra política, da CPI e do já conhecido expediente do presidente em conduzir o país num ambiente de elevadas incertezas e na base do conflito permanente. Talvez o mundo real tenha resolvido esquecer/ignorar governo e Congresso. Se for isso, é uma excelente notícia e uma fórmula necessária para conviver com eles —e sobreviver!

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