quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Embraer anuncia corte de 12,5% de sua força de trabalho devido à crise, FSP

 

SÃO PAULO

Em busca de uma nova parceria externa e buscando sinalizar ao mercado reação à crise, a Embraer anunciou nesta quinta (3) o corte de 4,5% de seus 20 mil empregados no Brasil e no exterior.

Eles se somarão a outros 10% dos 16 mil trabalhadores da empresa só nas unidades brasileiras que aderiram a programas de demissão voluntária.​ Ao todo, serão 2.500 os afetados.

Um Embraer E195-E2, da nova geração de aviões regionais da fabricante paulista
Um Embraer E195-E2, da nova geração de aviões regionais da fabricante paulista - Divulgação

Os motivos são dois: o impacto da pandemia da Covid-19 no setor aéreo e o fim do acordo segundo o qual a americana Boeing compraria a divisão de aviação comercial da Embraer.

Combinados, os fatores causaram R$ 2,95 bilhões de prejuízo à empresa no primeiro semestre deste ano.

O segundo trimestre registrou o pior resultado em 20 anos, com R$ 1,68 bilhão em perdas. Apenas 4 aviões comerciais e 13 executivos foram entregues, ante 26 e 25, respectivamente, no mesmo período de 2019.

Comparando primeiros semestres dos dois anos, a queda foi de 75%. A empresa afirma que não houve cancelamento de pedidos, mas sim mudança de datas de entregas a companhias aérea.

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A Associação Internacional de Transporte Aéreo estima que, após um pico de redução que chegou a mais de 90% nos principais mercados, 2020 feche com uma queda de 55% no volume de passageiros que voaram pelo mundo.

A entidade prevê que o nível de passageiros transportados só voltará ao patamar de 2019 em 2023 e o ganho segundo o quesito passageiro por quilômetro voado, em 2024.

A queda de demanda já havia obrigado as maiores fabricantes do setor, Boeing e a europeia Airbus, a fazer cortes. A primeira anunciou que demitirá em 2020 10% de seus 160 mil empregados e a segunda, 15 mil de seus 135 ml trabalhadores.

Em relação ao fracassado acordo com a Boeing, costurado desde dezembro de 2017 e aprovado no ano passado pelo governo brasileiro, que detém poder de veto sobre negócios da ex-estatal, o prejuízo é de outra ordem.

Financeiramente, foram gastos R$ 98 milhões no trabalho de desacoplar a área de aviação comercial, que faz os jatos regionais que dominam esse nicho do mercado. Mas o mais importante foi o impacto justamente esse destrinchamento, que paralisou a produção da Embraer em janeiro.

O divórcio, anunciado pela Boeing em abril, não foi amigável. Os americanos já viviam sua própria crise, com a paralisação da produção do 737 MAX devido a problemas que levaram a duas quedas, quando a Covid-19 chegou.

Acumulando prejuízos, não bancaram o desembolso de US$ 4,2 bilhões (R$ 22,5 bilhões nesta quinta) pela Embraer. Alegaram que os brasileiros não cumpriram cláusulas nunca reveladas do contrato, vistas como detalhes pelos negociadores daqui, e romperam o negócio.

A brasileira disse que a Boeing forçou o fim do contrato devido a seus problemas, de quebra buscando evitar pagamento de multas. O caso agora está numa corte de arbitragem em Nova York.

Com tudo isso, a Embraer anunciou que busca uma nova parceria no mercado internacional. O foco inicial deverá ser o desenvolvimento de uma nova família de aviões turboélice, de menor custo e tamanho. Especulam-se conversas com fabricantes chineses, indianos e japoneses.

Seus programas militares, por outro lado, não sofreram alteração dadas as particularidades do setor. O tereiro cargueiro C-390 da Força Aérea Brasileira foi entregue no último trimestre, e a empresa nutre esperança de desenvolver uma versão de transporte leve em conjunto com os militares.

Assim, o corte visa demonstrar ao mercado que a empresa não está passiva ante às dificuldades. "O objetivo é assegurar a sustentabilidade da empresa e sua capacidade de engenharia", afirmou a Embraer em nota.

A Embraer passou por uma reestruturação de sua equipe de comando, finalizada em julho, e fechou um acordo com consórcio de bancos para financiamentos de até US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhão nesta quinta) em quatro anos.

Paralelamente, tomou medidas em relação à força de trabalho.

Houve adesão à medida provisória do governo para reduizer salários e jornada por três meses, licenças remuneradas e férias coletivas. Três PDVs (planos de demissão voluntária) foram acionados, o que não foi aceito pelo sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, onde fica a sede da empresa.

O prazo de adesão a terceiro programa acabou na quarta (2). O Ministério Público do Trabalho afirmou que vai investigar as denúncias de que funcionários foram coagidos a aceitar o PDV, o que a Embraer nega.

A empresa já passou por outras crises em sua história de quase 51 anos. Em 1990, teve de demitir cerca de 4.000 pessoas, selando a crise que levou à sua privatização, em 1994. Em 2009, no bojo da crise econômica mundial, foram 4.300 demissões.

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Mariliz Pereira Jorge - Mais difícil do que vacina contra o coronavírus é uma para a estupidez do presidente, FSP

 A estupidez do movimento antivacina ganhou a chancela presidencial. Sabe-se lá que estrago pode provocar a declaração feita por Jair Bolsonaro sobre uma possível imunização contra o novo coronavírus. "Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina", disse.

Na sequência, veio a Secom (Secretaria de Comunicação) confirmar que não está nos planos do governo "impor obrigações". Do presidente à sua equipe, é muita gente desinformada. Ou mentirosa. Ou irresponsável. Provavelmente tudo isso. Vacinação é uma das medidas compulsórias que podem ser adotadas no combate à Covid-19, prevista em lei assinada por Bolsonaro.

É possível que ele desconheça que há vacinas obrigatórias na infância e que o descumprimento pode penalizar os responsáveis, inclusive com prisão. Mas sabemos que negacionistas estão aí desde sempre. A onda mais recente vem desde 1998, depois que um artigo publicado —e depois rejeitado— pela revista The Lancet relacionou a tríplice viral ao autismo. Um desastre.

Bolsonaro em café da manhã com parlamentares - Marcos Corrêa/PR

Sei de pessoas, aqui e acolá, inclusive conhecidos, que devem se achar o próprio alecrim dourado e resolveram não vacinar os filhos pelos "riscos". É gente culta, preocupada com a desigualdade, PhD em namastê, que só come orgânico, recicla e compra na livraria do bairro, mas acha que vacina só no rabo dos outros.

Além desses que não acreditam na segurança da profilaxia, uma pesquisa da Universidade de Pittsburgh (EUA) identificou mais três grupos. Os que desconfiam da ciência, aqueles que adoram tratamentos alternativos e os que compram teorias conspiratórias, incluindo a de que a gravidade da pandemia é falsa.

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Bolsonaro alimenta a insensatez até de quem se opõe ao seu governo mas desdenha desse tipo de prevenção. Ele se mostra de novo o pior líder diante da crise. O mundo inteiro quer uma vacina contra o coronavírus. Mas mais difícil do que essa só uma para a estupidez do presidente.

Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.