Frase de Zezé Motta ecoa uma importante canção do musical South Pacific
Há dias, em entrevista para Victoria Azevedo (Mônica Bergamo, 21/6), Zezé Motta disse algo importante: “Ninguém nasce racista, mas aprende a ser racista”. Conheço Zezé há 40 anos, o suficiente para saber que, em outros países, seu valor como atriz, cantora e mulher teria ido ainda mais longe e faria dela uma instituição.
Sua frase para Mônica é só uma amostra da pessoa inteligente que ela é e remete, não sei se de propósito, a uma importante canção americana, “You’ve Got to Be Carefully Taught”, de “South Pacific”, musical de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, de 1949, filmado em 1958 (“Ao Sul do Pacífico”) por Joshua Logan.
A história se passa numa ilha da Polinésia durante a Segunda Guerra. A canção se sucede ao choque de uma tenente americana, Nellie, ao descobrir que Emile, um francês por quem se apaixonara e residente havia muito por lá, é viúvo de uma nativa —e que as duas crianças de olhos amendoados, que ela julgava “da casa”, são filhas dele. Há uma subtrama envolvendo um oficial, Cable, que também se apaixona por uma jovem da ilha, sabendo que não poderá se casar com ela e levá-la para os EUA.
Nellie diz que não é racista, mas que aquele sentimento é mais forte do que ela —“nasceu com ela”. E, então, Cable a contesta, cantando: “Ninguém nasce racista/ Mas aprende a ser racista.// Você é ensinado a odiar e temer/ É ensinado desde criança/ Isso é martelado em seu ouvido/ Até você aprender.// Você é ensinado a ter medo/ De peles diferentes da sua/ E de traços que não se parecem com os seus.// Tem de ser muito bem ensinado.// Ensinado antes que seja tarde/ Antes dos seis, sete, oito anos/ A odiar as pessoas que seus pais odeiam.” Perdão pela tradução livre.
Um produtor tentou cortar a canção como “ofensiva”. Mas Rodgers e Hammerstein não permitiram, e ela foi escutada nas 1.925 récitas de “South Pacific” numa Broadway branca e atônita.