sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Tarifa busca justiça social e equilíbrio financeiro, FSP

Novo valor permite manter gratuidades em SP

Ônibus circula pela avenida Paulista - Rivaldo Gomes - 2.jan.19/Folhapress
Edson Caram
A nova tarifa do transporte público na cidade de São Paulo reflete uma preocupação da Prefeitura em promover justiça social. Isso porque, com os R$ 4,30 propostos, a municipalidade consegue manter a gratuidade a estudantes, maiores de 60 anos e pessoas com deficiência, sem aumentar o valor do subsídio. Com isso, ficam assegurados recursos para outras políticas públicas em áreas como educação e saúde, por exemplo, sem comprometer o Orçamento.

Como se sabe, sem o subsídio da Prefeitura às gratuidades, seria necessário reajustar a tarifa para R$ 6,89, o que não seria justo com a população que paga pelo transporte. Por outro lado, não é justo também que o município concentre cada vez mais recursos ao subsídio do transporte público, comprometendo investimentos em outras áreas. O que se fez, então, foi uma engenharia para se obter o equilíbrio financeiro.

Os valores do subsídio ao sistema municipal de transporte coletivo público foram de R$ 2,9 bilhões em 2017 e R$ 3 bilhões em 2018. Para 2019, a previsão da Lei Orçamentária é de R$ 2,6 bilhões.

É preciso que se diga, também, que o reajuste proposto apenas recompõe a inflação desde 2016, já que a cidade não teve aumento na passagem dos ônibus nos anos de 2016 e 2017. Em 2017, o país estava em um cenário de crise econômica, e a administração que assumiu fez um grande esforço para manter o preço em R$ 3,80.

Assim, o novo preço da nova tarifa baseia-se na inflação acumulada dos últimos três anos, de acordo com o IPC-Fipe, de 13,06%. Mesmo após a recomposição da tarifa e oferecendo integração gratuita em até quatro ônibus por três horas, São Paulo continua tendo uma tarifa mais acessível do que outras cidades da Região Metropolitana.

Outro ponto importante é que, com a mudança, o valor do vale-transporte, que é pago pelo empregador, passará a ser de R$ 4,57 a partir de 30 dias após o reajuste da tarifa dos ônibus municipais. O trabalhador não pagará nada a mais com a mudança. O desconto de seu salário continuará sendo de 6%, conforme define a legislação trabalhista.

Dessa forma, o vale-transporte para as empresas deixará de ser subsidiado pelos impostos municipais pagos pela população, e o valor das novas tarifas será utilizado para custear o sistema de transporte por ônibus da cidade. Já o transporte ao passageiro continua sendo subsidiado.

A estimativa é que essas mudanças tragam uma economia de R$ 500 milhões ao ano. E, como se disse, esse valor pode ser investido em outras políticas públicas. Além disso, o governo tem a certeza de que, com a nova licitação do transporte público municipal, ocorrerá uma racionalização do sistema, acabando por exemplo com as linhas sobrepostas, o que também contribuirá para redução de custos e melhora na eficiência. A Prefeitura segue trabalhando para promover justiça social e excelência nos serviços prestados.
Edson Caram
Secretário municipal de Mobilidade e Transportes

    Aparatos do poder, Ruy Castro FSP

    Se Witzel não fizer muita besteira, terá direito a cetro, manto e coroa

    Nossos governantes adoram os aparatos do poder, como faixas, títulos, diplomas simbólicos de universidades e um certo tratamento imperial. Um colega de farra de Fernando Collor na Ipanema dos anos 70 foi à sua posse na Presidência em 1990. Ao chegar sua vez na fila, abraçou-o e o chamou, como sempre, de “Fernando”. Collor se desvencilhou, como se estivesse sendo abraçado por um lagarto saído do brejo, e disse: “Presidente, para você”. 
    Lula ficava deslumbrado ao lado de cabeças coroadas e governantes mundiais. José Sarney e Michel Temer, não se sabia por quê, tinham a ilusão de ser intelectuais, e gostavam de se perfilar na foto com intelectuais de verdade. E, faça-se justiça, Fernando Henrique Cardosonão ficou mais vaidoso na Presidência —já nasceu com toda a vaidade que seus próximos conseguiam aturar. 
    Já o imperador D. Pedro 2º nunca foi visto de coroa e só usava a faixa de monarca quando o protocolo exigia. Sabia muito bem quem era. Os primeiros presidentes da República também dispensaram a faixa. Quem a adotou —e por cima da farda, que usou em cada dia de governo— foi o marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). Daí, a faixa se tornou parte da foto oficial e até os ditadores militares ousaram ostentá-la. 
    No futebol do passado, os clubes campeões posavam marcialmente no gramado, com todo mundo de faixa. Isso acabou —hoje, os jogadores apenas se jogam uns sobre os outros. E não acompanho os concursos de Miss Brasil há mais de 50 anos, donde não sei se as misses ainda usam faixa. Mas as rainhas do rádio, posso garantir que não —porque não existem mais rainhas do rádio.
    Aqui no Rio, o novo governador, Wilson Witzel, mandou confeccionar uma faixa e passou os primeiros dias de mandato sem tirá-la nem para dormir. Ótimo. Se não fizer muita besteira pelos próximos quatro anos, terá direito a trono, cetro, manto de arminho e coroa.
    O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, no Palácio Guanabara
    O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, no Palácio Guanabara - André Gomes de Melo/Secom
    Ruy Castro
    Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

    quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

    Supernanny reaça, Mariliz Pereira Jorge .FSP

    Este capítulo do novo decreto que flexibiliza a posse de arma deixa clara uma característica do autodeclarado “cidadão de bem”. Ele quer que os direitos sejam respeitados, mas só aqueles que ele defende. Liberdades individuais que possam ir contra suas crenças devem continuar sendo negadas e hostilizadas. 
    Assim que Jair Bolsonaro disse no Twitter que devolve aos brasileiros “a liberdade de decidir”, chamou a atenção o argumento dos defensores do decreto no debate que se instaurou nas redes sociais. “Não quer ter arma, não compre”, diziam, apelando ao mesmo expediente que refutam quando os assuntos são a ampliação dos direitos reprodutivos e a legalização das drogas. 
    Sempre haverá argumentos, válidos ou não, na cabeça de quem defende uma causa. É compreensível, por exemplo, a crença de que uma arma dentro do armário possa garantir alguma proteção, mesmo que as estatísticas apontem que não. O que não dá para entender é que as mesmas pessoas que clamam pelo direito de se armar achem que têm a prerrogativa de decidir qualquer outra questão relacionada à vida de terceiros. 
    Se vale o “não quer ter arma, não compre”, o mesmo princípio precisa ser usado para aborto, maconha, casamento gay, eutanásia, suicídio assistido. Não se trata de ignorar ou mesmo nivelar as discussões sobre os temas. Cada um tem seus pormenores, que precisam ser levados em conta no que se refere à legislação. 
    Os países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos, nos quais os eleitores do presidente adoram mirar-se, têm evoluído no sentido de que as leis sejam cada vez mais liberais e garantam que as decisões individuais sejam respeitadas. 
    Enquanto isso, aqui parte da população ainda defende que a vida privada seja ditada por uma supernanny reaça, o Estado brasileiro. No final das contas, o que o “cidadão de bem” prega é simples de entender: liberdade para mim, cabresto e cana para você.