Este capítulo do novo decreto que flexibiliza a posse de arma deixa clara uma característica do autodeclarado “cidadão de bem”. Ele quer que os direitos sejam respeitados, mas só aqueles que ele defende. Liberdades individuais que possam ir contra suas crenças devem continuar sendo negadas e hostilizadas.
Assim que Jair Bolsonaro disse no Twitter que devolve aos brasileiros “a liberdade de decidir”, chamou a atenção o argumento dos defensores do decreto no debate que se instaurou nas redes sociais. “Não quer ter arma, não compre”, diziam, apelando ao mesmo expediente que refutam quando os assuntos são a ampliação dos direitos reprodutivos e a legalização das drogas.
Sempre haverá argumentos, válidos ou não, na cabeça de quem defende uma causa. É compreensível, por exemplo, a crença de que uma arma dentro do armário possa garantir alguma proteção, mesmo que as estatísticas apontem que não. O que não dá para entender é que as mesmas pessoas que clamam pelo direito de se armar achem que têm a prerrogativa de decidir qualquer outra questão relacionada à vida de terceiros.
Se vale o “não quer ter arma, não compre”, o mesmo princípio precisa ser usado para aborto, maconha, casamento gay, eutanásia, suicídio assistido. Não se trata de ignorar ou mesmo nivelar as discussões sobre os temas. Cada um tem seus pormenores, que precisam ser levados em conta no que se refere à legislação.
Os países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos, nos quais os eleitores do presidente adoram mirar-se, têm evoluído no sentido de que as leis sejam cada vez mais liberais e garantam que as decisões individuais sejam respeitadas.
Enquanto isso, aqui parte da população ainda defende que a vida privada seja ditada por uma supernanny reaça, o Estado brasileiro. No final das contas, o que o “cidadão de bem” prega é simples de entender: liberdade para mim, cabresto e cana para você.
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