domingo, 9 de dezembro de 2018

Armas de brinquedo fazem sucesso no comércio de SP às vésperas do Natal, Agora

Lojistas de centros populares relatam alta de venda passada a eleição que debateu direito à posse

Camilla FeltrinClayton Castelani
SÃO PAULO
Vai ter tiroteio —de brincadeira— no Natal dos sobrinhos da contadora Patrícia Silva de Carvalho, 34. Na quinta-feira (6), a tia foi às compras na rua 25 de Março, no centro de São Paulo, e garantiu sete pistolas de jato d’água para os garotos, que têm entre 5 e 10 anos.
“Eles não pediram, mas eu resolvi comprar porque eles já brincam com as [armas] dos vizinhos”, afirma Carvalho, enquanto equilibrava o arsenal em um corredor lotado 
de consumidores.
A contadora Patrícia Silva Carvalho, que comprou sete pistolas de jato d’água para dar de presentes para sobrinhos, com idade entre 5 e 10 anos - Jardiel Carvalho/Folhapress
Não é de hoje que as armas de brinquedo fazem sucesso entre crianças, mas a busca pelos produtos neste ano tem impressionado lojistas do principal centro de comércio popular do país.
“Faz anos que eu tenho essas armas, mas neste ano a procura está demais”, diz o gerente da matriz da Armarinhos Fernando, Ondamar Ferreira. “Estamos vendendo cerca de 15% mais.”
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A demanda pelos itens está em alta na principal varejista do setor, a Ri Happy, que colocou modelos que disparam dardos esponjosos na lista de produtos mais desejados.
O sucesso das armas de brinquedo nas lojas da capital paulista coincide com o momento em que o debate sobre o direito de ter armas de fogo voltou à tona, com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
Contrária à brincadeira, a operadora de caixa Ana Karoliny de Oliveira Lima, 31, cedeu à vontade do filho de cinco anos. “Acho que o Bolsonaro é igual criança: gosta de armas. Então, tenho esperança de que o meu filho ainda vai ser presidente do Brasil.”
A batalha dos vendedores de armas de brinquedo é pelo bolso do consumidor. 
Para atrair clientes, seja no comércio ambulante do central, seja em shoppings, eles oferecem opções dos mais variados calibres e munições por preços a partir de R$ 9,90.
Para o motorista Luciano de Jesus, 37, e a empresária Nívea de Jesus, 42, valeu a pena sair de Guarujá para buscar na rua 25 de Março o presente do filho do casal.
A pistola Super Gun, da Pica-Pau, saiu por menos de R$ 10. “Lá em Guarujá está por R$ 40.”
Referência na modalidade disparo de dardos de esponja, os itens da linha Nerf, da Hasbro, duram pouco nas prateleiras, segundo a promotora da fabricante Rita de Cássia Lima da Silva, 21.
“Aqui na loja, vendemos mais de 200 armas por dia”, diz a profissional que trabalha na Armarinhos Fernando, onde os modelos mais vendidos custam entre R$ 45,90 e R$ 99,90. “O estoque fica quase vazio”, diz.
Armamentos de plástico também chegaram ao comércio da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, na zona oeste.
Em uma loja de presentes, pistolas fabricadas na China, que custam entre R$ 19,90 e R$ 30, passaram a dividir espaço com bijuterias. “É o que mais vendemos, mas há mães que se recusam a comprar”, diz a gerente Amanda Batista.
O Instituto Sou da Paz afirma que “seria especulação dizer que o sucesso dos brinquedos é reflexo do cenário político”, pois havia crescimento na demanda por armas mesmo antes da eleição.
Em 2017, as vendas subiram 16% em relação a 2016, segundo dados do instituto.
“O sucesso desses produtos entre as crianças é sintoma de uma sociedade violenta. Brinquedos simulam objetos do mundo dos adultos, no qual as armas sempre estiveram presentes”, diz Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Pesquisas do Brincar da PUC-SP.
A Abrinq (associação de fabricantes) informou que o setor espera crescimento de 8% nas vendas de todas as categorias de brinquedos.
A associação não tem levantamento específico sobre produtos, cujo ranking de vendas é classificado por grupos. Armas estão entre os esportivos.

E Temer foi uma ponte para o futuro, Samuel Pessoa, FSP

Presidente entregará a Bolsonaro uma economia muito melhor do que a que recebeu

Ficará para os livros de história a avaliação dos impactos de longo prazo do impedimento da presidente Dilma sobre o funcionamento do sistema político e da economia.
O que se sabe hoje é que Temer entregará a Jair Bolsonaro uma economia muito melhor do que a que recebeu.
No entanto, não houve aprovação no governo Temer de medidas que solucionem o desequilíbrio fiscal estrutural, dado pelo crescimento do gasto obrigatório além do crescimento da economia.
O controle do gasto obrigatório requer controlar o gasto previdenciário e com pessoal.
As últimas medidas de controle do gasto obrigatório foram a reforma do abono salarial, do seguro-desemprego, do auxílio-doença e das pensões por morte, ainda em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma.
No entanto, houve no governo Temer fortíssimo esforço em controlar os gastos discricionários. Após ano muito ruim em 2016, em que o déficit público estrutural, isto é, ajustado ao ciclo econômico, foi de 1,3% do PIB, no biênio 2017 e 2018 este será de, respectivamente, 0,7% e 0,3% do PIB, segundo os cálculos de meu colega do Ibre Bráulio Borges.
Três medidas importantes constituem o principal legado econômico do governo Temer: a reforma trabalhista, incluindo a aprovação da lei da terceirização que atualizou nossas instituições do trabalho para a quarta revolução industrial; a mudança na regulação do BNDES e a maior transparência na concessão de subsídios pelo banco; e a aprovação da emenda constitucional 95, que estabeleceu um limite superior para o crescimento do gasto primário da União de 2017 até 2026.
Houve inúmeras outras medidas importantes. Vale consultar o documento “Balanço e Perspectivas Econômicas 2016-2018”, do Ministério da Fazenda. O leitor encontrará as conquistas, os desafios e os riscos à frente, bem como depoimentos de secretários da Fazenda e o acesso ao texto que detalha as medidas do governo Temer na área econômica.
Mas, se não se encaminhou o problema fiscal estrutural, qual o benefício do impedimento da presidente Dilma?
Além do ganho de eficiência que teremos com diversas das medidas, a aprovação da emenda constitucional do teto do gasto ancorou a política fiscal e contribuiu, portanto, para que o risco-país caísse e estancasse a desvalorização cambial.
A queda do risco-país começou a ocorrer já no início de 2016, em parte pela própria dinâmica da economia internacional, mas também pela redução da crise política com a saída de Dilma e a aprovação do teto do gasto.
Adicionalmente, a mudança no Banco Central recompôs a credibilidade da política monetária, que havia sido perdida quando houve sinais de que o Banco Central sob Dilma tinha perdido independência.
Assim, o Banco Central conseguiu reduzir a inflação com menor perda de produto e custo fiscal muito menor. Essa forte redução do custo fiscal deveu-se à queda sustentável dos juros no período.
Bolsonaro recebe o país com o mesmo problema fiscal que havia em 2016. De fato, estamos numa crise fiscal aguda desde 2014.
O governo Temer conseguiu comprar tempo. Tempo suficiente para chegarmos inteiros até um novo presidente eleito e, portanto, com delegação para liderar o processo —cuja última palavra é sempre do Congresso— de solução do conflito distributivo.
O Congresso terá de encontrar R$ 300 bilhões no Orçamento do setor público, por meio de corte de gastos e elevação de impostos. Se não o fizer, cairemos no abismo inflacionário.
Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance. É doutor em economia pela USP.