segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Quarto colocado, Alckmin tem pior desempenho da história do PSDB, FSP

Em pronunciamento após apuração, tucano manifesta 'absoluto respeito às urnas'

Thais Bilenky
SÃO PAULO
Com o pior desempenho do PSDB em eleições presidenciais de sua história, o candidato Geraldo Alckmin reconheceu a derrota neste domingo (7). Ele ficou em quarto lugar, com cerca de 5%.
Segundo sua equipe, o tucano ficará neutro no segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Uma reunião para discutir a questão foi marcada na terça-feira (9).
Terminada a apuração das urnas, Alckmin foi ao comitê da campanha, no Edifício Joelma, no centro da capital paulista, para um breve pronunciamento. Ele não respondeu a perguntas.
“Transmitir absoluto respeito pelo resultado das urnas, a manifestação dos eleitores. Destacar a nossa serenidade como democratas que somos, e humildade”, discursou. “Percorremos os quatro cantos do país dialogando com a população.”
Um grupo de cerca de 50 apoiadores compareceu. De políticos de expressão nacional apenas o senador José Serra (PSDB-SP) apareceu.
O desempenho de Alckmin foi pífio em São Paulo, estado que governou quatro vezes. 
Não venceu em sua Pindamonhangaba natal, onde Bolsonaro obteve 60% dos votos.
Antes de sair o resultado, o tucano já era submetido a pressão do grupo de João Doria (PSDB) para deixar o comando nacional da sigla.
Se vencer a disputa pelo governo de São Paulo no segundo turno contra Márcio França (PSB), o ex-prefeito paulistano administrará o segundo maior Orçamento do país. O cargo o fortalecerá no PSDB, que nacionalmente sofreu derrotas na eleição deste domingo.
Caciques como Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO) não conseguiram vagas no Senado.
Na corrida para governador, o resultado em Minas Gerais é ruim para Alckmin, que confiava em uma vitória possivelmente no primeiro turno de Antonio Anastasia (PSDB). Segundo colocado, ele vai ir ao segundo turno com o outsider Romeu Zema (Novo).
Alckmin foi eleito presidente do PSDB em dezembro de 2017 para um mandato de dois anos. A segunda geração de tucanos paulistas em postos-chave já se articula para ascender internamente.
Formam uma trinca com Doria os prefeitos Bruno Covas, da capital, que assumiu o cargo quando o titular renunciou, e Orlando Morando, de São Bernardo do Campo, primeira e segunda maiores cidades administradas pelo PSDB, respectivamente.
“Acredito que Geraldo vai ele próprio reavaliar se deve ou não continuar na presidência do PSDB”, afirmou Morando.
Neste domingo, Doria montou estrutura separada de Alckmin para o pronunciamento após a votação. É reflexo de meses de campanhas apartadas, com escassas agendas conjuntas.
Apesar dos constrangimentos, o ex-prefeito acompanhou o presidenciável em sua seção eleitoral de manhã, pouco depois de dizer que votaria nele por solidariedade.
Alckmin não quis comentar a declaração, mas a senadora eleita Mara Gabrilli (PSDB) rebateu Doria. “Eu não voto por solidariedade, voto por convicção.”
Por outro lado, França foi ao comitê de campanha de Alckmin na noite de domingo.
À saída, o pessebista disse que “lealdade é um item vital para mim. Devo muito a ele pela oportunidade que me deu”.
Vice de Alckmin de 2015 a 2018, França disse ter certeza que teve o voto do presidenciável e que terá de novo, no segundo turno, “dele, da Lu e das crianças”. 
Um dos principais motivos apontados para a derrota de Alckmin foi justamente o cenário em São Paulo. Sem conseguir evitar o palanque duplo, o ex-governador viu sua antiga base aliada ruir no estado, administrado pelo PSDB por 24 anos.
A disputa entre Doria e o governador Márcio França (PSB) fez com que Alckmin sumisse da eleição paulista. Sem aparecer nos programas eleitorais na TV nem ser citado em debates, perdeu terreno para Bolsonaro.
A derrota em casa também foi apontada como decisiva em 2014, quando o então candidato tucano, Aécio Neves, perdeu em Minas Gerais para Dilma Rousseff (PT).
Mas, naquele ano, Aécio passou ao segundo turno e chegou perto da vitória, com 51 milhões de votos, 48% do total.
Antes de Alckmin, o pior desempenho do PSDB foi na eleição presidencial de 1989. Mario Covas acabou em quarto, com 11,5% dos votos. 
Depois dele, Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro turno em 1994 e em 1998. O senador José Serra duas vezes e o próprio Alckmin foram para o segundo turno nas disputas seguintes.
Com quase metade do horário eleitoral e a maior coligação da corrida presidencial, o tucano começou a corrida com status competitivo. 
Nas últimas duas semanas, porém, sem subir nas pesquisas, começou a ser abandonado por aliados, inclusive do PSDB. 
Suas agendas públicas não atraíram grandes públicos e poucos políticos de expressão o acompanhavam. Hostilidades e menções a Bolsonaro, embora pontuais, permearam a campanha.
Colaboradores de Alckmin atribuem o desempenho em parte à facada desferida contra Bolsonaro em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG). Internado, em estado de saúde inicialmente delicado, o candidato do PSL foi poupado de ataques dos adversários.
Interlocutores do tucano avaliam que a retomada da ofensiva, cerca de dez dias depois, chegou tarde e ainda responsabilizam o PT, que se absteve de criticar Bolsonaro, deixando a tarefa ser executada unicamente pelo tucano.
O PSDB foi fator de desgaste para Alckmin e candidatos tucanos em geral pelo país. A Lava Jato envolveu caciques tucanos como o próprio Alckmin e Serra. 
Aécio se tornou réu por corrupção, Richa foi preso temporariamente e Perillo, alvo de operações.
Além disso, a participação no governo Michel Temer (MDB), o mais impopular da história, pesou contra os tucanos. Embora nunca tenha defendido a indicação de ministros ao governo nem tenha atuado em defesa de Temer nas duas denúncias contra ele, Alckmin acabou precisando responder pela decisão partidária reiteradas vezes ao longo dos últimos meses.

Bomba da Lava Jato explode nas urnas e varre quase tudo pelo caminho, FSP


Favorecidos pelos efeitos da operação, candidatos excêntricos atropelam nomes tradicionais



Janaina Paschoal durante congresso em 2016; nas eleições deste ano, a advogada e professora se tornou a deputada estadual mais votada na história
Janaina Paschoal durante congresso em 2016; nas eleições deste ano, a advogada e professora se tornou a deputada estadual mais votada na história - Bruno Santos - 20.nov.16/Folhapress
Enganou-se quem achava que a Lava Jato já havia produzido todo seu efeito eleitoral no pleito de 2016 e que marchava lentamente para a esterilização. A bomba de nêutrons da operação sobre a vida partidáriaexplodiria apenas neste domingo, 7 de outubro de 2018.
Varreu quase tudo o que encontrou pelo caminho, em especial nas regiões mais desenvolvidas do Brasil.
Candidatos das legendas mais estabelecidas, em torno das quais organizou-se o jogo do poder ao longo dos últimos 30 anos, foram atropelados por postulantes excêntricos.
PSDB foi arruinado. O PT, bastante avariado nas localidades mais prósperas, ganhou o direito de disputar uma batalha de vida ou morte pelo Palácio do Planalto, em condições duríssimas, no próximo dia 28.
No Congresso, um bloco de novos entrantesarrastados pela voragem conservadora de Jair Bolsonaro, insinua-se como um dos maiores da legislatura que se inicia em fevereiro. É copiosa a lista de velhas lideranças partidárias que perderam o assento.
Um eleitorado mais numeroso e, sobretudo, diferente daquele que debutava nas eleições diretas presidenciais há quase três décadas foi o responsável por essa mudança de era na política partidária brasileira.
Para cada 100 eleitores com ensino médio ou superior, há menos de 50 com escolarização inferior —essa relação era de 100 para 170 em 1994. Hoje o contingente dos mais escolarizados supera o dos com menor formação por 50 milhões de eleitores.
Passou o tempo em que os anseios do eleitor mediano se restringiam a necessidades básicas da subsistência. A decência na vida pública, a opressão dos burocratismos cotidianos, a ineficiência dos serviços do governo e a insegurança nas cidades foram incorporadas ao acervo de preocupações que definem o voto.
O cinismo, o mais do mesmo e a falta de autocrítica e de renovação nos partidos outrora hegemônicos saem castigados destas eleições. O que foi posto no lugar, entretanto, não é necessariamente melhor.

Brasil à direita, Opinião FSP

Na eleição presidencial tida como a mais imprevisível desde 1989, passaram ao segundo turno as duas forças políticas que se destacavam nas pesquisas desde o ano passado.
A surpresa, só devidamente dimensionada depois do fechamento das urnas, foi a impressionante onda que se formou nos momentos finais em favor de Jair Bolsonaro (PSL) e de seus aliados nos pleitos estaduaise legislativos.
Por pouco o capitão reformado, que passou a maior parte da campanha recolhido, vítima de um abominável ataque a faca, não saiu vencedor já neste domingo (7). Os votos do Nordeste, onde ainda se impõe a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), levaram Fernando Haddad à rodada final.
Bolsonaristas de origem ou de ocasião surpreenderam nos maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, o correligionário Major Olímpio apareceu à frente na disputa pelo Senado. Finalista e em tese favorito na corrida ao Bandeirantes, o tucano João Doria já declarou apoio ao capitão.
Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) passou ao segundo turno na primeira colocação, dias depois de declarar apoio ao capitão; no Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) disparou à frente do ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM), com quem fará o confronto definitivo.
Se as eleições municipais de 2016 já mostravam uma guinada conservadora do eleitorado, agora caminhou-se mais à direita —e com rejeição a líderes mais tradicionais.
Com uma pregação tosca, de tons frequentemente autoritários, e um programa ultraliberal encampado na última hora, Bolsonaroconquistou ampla vantagem nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, tomando redutos que haviam escolhido o PSDB há quatro anos.
PT, embora tenha chegado ao segundo turno da eleição presidencial pela quinta vez consecutiva, sofreu derrotas cruciais —que agora põem em xeque o sucesso da estratégia nacional arquitetada desde a prisão de Lula.
Subestimou-se, de maneira geral, a intensidade da rejeição ao partido, em particular nos grandes centros urbanos e entre os eleitores de renda alta e média. Dilma Rousseff (MG) e Eduardo Suplicy (SP)perderam vagas dadas como certas no Senado; Fernando Pimentel deixará o governo mineiro.
Haddad se amparou exclusivamente no prestígio do líder único e imutável da legenda —que não fez a autocrítica pela corrupção em seus governos nem soube oxigenar seu pensamento econômico.
Falta muito ao PT, neste momento, para liderar uma esquerda com agenda factível, assim como Bolsonaro ainda não mostrou preparo e consistência para conduzir a direita emergente. Um segundo turno radicalizado não será a melhor chance para que ambos demonstrem sua capacidade de governar.