Em pronunciamento após apuração, tucano manifesta 'absoluto respeito às urnas'
Thais Bilenky
SÃO PAULO
Com o pior desempenho do PSDB em eleições presidenciais de sua história, o candidato Geraldo Alckmin reconheceu a derrota neste domingo (7). Ele ficou em quarto lugar, com cerca de 5%.
Segundo sua equipe, o tucano ficará neutro no segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Uma reunião para discutir a questão foi marcada na terça-feira (9).
Terminada a apuração das urnas, Alckmin foi ao comitê da campanha, no Edifício Joelma, no centro da capital paulista, para um breve pronunciamento. Ele não respondeu a perguntas.
“Transmitir absoluto respeito pelo resultado das urnas, a manifestação dos eleitores. Destacar a nossa serenidade como democratas que somos, e humildade”, discursou. “Percorremos os quatro cantos do país dialogando com a população.”
Um grupo de cerca de 50 apoiadores compareceu. De políticos de expressão nacional apenas o senador José Serra (PSDB-SP) apareceu.
O desempenho de Alckmin foi pífio em São Paulo, estado que governou quatro vezes.
Não venceu em sua Pindamonhangaba natal, onde Bolsonaro obteve 60% dos votos.
Antes de sair o resultado, o tucano já era submetido a pressão do grupo de João Doria (PSDB) para deixar o comando nacional da sigla.
Se vencer a disputa pelo governo de São Paulo no segundo turno contra Márcio França (PSB), o ex-prefeito paulistano administrará o segundo maior Orçamento do país. O cargo o fortalecerá no PSDB, que nacionalmente sofreu derrotas na eleição deste domingo.
Caciques como Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO) não conseguiram vagas no Senado.
Na corrida para governador, o resultado em Minas Gerais é ruim para Alckmin, que confiava em uma vitória possivelmente no primeiro turno de Antonio Anastasia (PSDB). Segundo colocado, ele vai ir ao segundo turno com o outsider Romeu Zema (Novo).
Alckmin foi eleito presidente do PSDB em dezembro de 2017 para um mandato de dois anos. A segunda geração de tucanos paulistas em postos-chave já se articula para ascender internamente.
Formam uma trinca com Doria os prefeitos Bruno Covas, da capital, que assumiu o cargo quando o titular renunciou, e Orlando Morando, de São Bernardo do Campo, primeira e segunda maiores cidades administradas pelo PSDB, respectivamente.
“Acredito que Geraldo vai ele próprio reavaliar se deve ou não continuar na presidência do PSDB”, afirmou Morando.
Neste domingo, Doria montou estrutura separada de Alckmin para o pronunciamento após a votação. É reflexo de meses de campanhas apartadas, com escassas agendas conjuntas.
Apesar dos constrangimentos, o ex-prefeito acompanhou o presidenciável em sua seção eleitoral de manhã, pouco depois de dizer que votaria nele por solidariedade.
Alckmin não quis comentar a declaração, mas a senadora eleita Mara Gabrilli (PSDB) rebateu Doria. “Eu não voto por solidariedade, voto por convicção.”
Por outro lado, França foi ao comitê de campanha de Alckmin na noite de domingo.
À saída, o pessebista disse que “lealdade é um item vital para mim. Devo muito a ele pela oportunidade que me deu”.
Vice de Alckmin de 2015 a 2018, França disse ter certeza que teve o voto do presidenciável e que terá de novo, no segundo turno, “dele, da Lu e das crianças”.
Um dos principais motivos apontados para a derrota de Alckmin foi justamente o cenário em São Paulo. Sem conseguir evitar o palanque duplo, o ex-governador viu sua antiga base aliada ruir no estado, administrado pelo PSDB por 24 anos.
A disputa entre Doria e o governador Márcio França (PSB) fez com que Alckmin sumisse da eleição paulista. Sem aparecer nos programas eleitorais na TV nem ser citado em debates, perdeu terreno para Bolsonaro.
A derrota em casa também foi apontada como decisiva em 2014, quando o então candidato tucano, Aécio Neves, perdeu em Minas Gerais para Dilma Rousseff (PT).
Mas, naquele ano, Aécio passou ao segundo turno e chegou perto da vitória, com 51 milhões de votos, 48% do total.
Antes de Alckmin, o pior desempenho do PSDB foi na eleição presidencial de 1989. Mario Covas acabou em quarto, com 11,5% dos votos.
Depois dele, Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro turno em 1994 e em 1998. O senador José Serra duas vezes e o próprio Alckmin foram para o segundo turno nas disputas seguintes.
Com quase metade do horário eleitoral e a maior coligação da corrida presidencial, o tucano começou a corrida com status competitivo.
Nas últimas duas semanas, porém, sem subir nas pesquisas, começou a ser abandonado por aliados, inclusive do PSDB.
Suas agendas públicas não atraíram grandes públicos e poucos políticos de expressão o acompanhavam. Hostilidades e menções a Bolsonaro, embora pontuais, permearam a campanha.
Colaboradores de Alckmin atribuem o desempenho em parte à facada desferida contra Bolsonaro em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG). Internado, em estado de saúde inicialmente delicado, o candidato do PSL foi poupado de ataques dos adversários.
Interlocutores do tucano avaliam que a retomada da ofensiva, cerca de dez dias depois, chegou tarde e ainda responsabilizam o PT, que se absteve de criticar Bolsonaro, deixando a tarefa ser executada unicamente pelo tucano.
O PSDB foi fator de desgaste para Alckmin e candidatos tucanos em geral pelo país. A Lava Jato envolveu caciques tucanos como o próprio Alckmin e Serra.
Aécio se tornou réu por corrupção, Richa foi preso temporariamente e Perillo, alvo de operações.
Além disso, a participação no governo Michel Temer (MDB), o mais impopular da história, pesou contra os tucanos. Embora nunca tenha defendido a indicação de ministros ao governo nem tenha atuado em defesa de Temer nas duas denúncias contra ele, Alckmin acabou precisando responder pela decisão partidária reiteradas vezes ao longo dos últimos meses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário