sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Lisboa desconversa sobre ser ministro de Haddad e indica nome, FSP

conomista defende permanência da equipe e sugere Ana Paula Vescovi para assumir a Fazenda

Alexa Salomão
SÃO PAULO
Não posso dizer se vou aceitar ou recusar um cargo para o qual nem fui convidado." Com essa frase, o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, comenta as especulações de que seria cotado a ministro da Fazenda de um eventual governo do petista Fernando Haddad, candidato à Presidência da República.
"Haddad é meu amigo, dá aula no Insper. Ele sabe que tenho divergências em relação ao programa do PT para a área econômica. Baixei na internet, li e muito do que está ali não funciona", diz ele, que também é colunista da Folha.
Entre 2003 e 2005, Lisboa foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele conta ter "adorado" exercer o cargo pela possibilidade de formular políticas públicas, temática que estuda e acompanha diariamente nos últimos cinco anos.
Economista Marcos Lisboa é presidente do Insper - Reinaldo Canato - 4.out.17/Folhapress
"Ministro é uma função mais política, é como um CEO, um presidente de empresa", diz Lisboa.
Na avaliação dele, a origem das especulações em torno de sua indicação para ser ministro de Haddad pode ser uma associação inadequada de informações.
"Algum gênio —uma dessas pessoas que gosta de parecer que sabe tudo, que tem informação privilegiada— associa que eu fui do ministério, que o Haddad leciona no Insper, sendo assim, eu vou ser ministro se ele ganhar a eleição. Mas as coisas não funcionam assim", diz.
Lisboa conta que tem conversado com muita gente nesta campanha. Defende que o momento pede diálogo e união de esforços, mais ainda na economia. Vital é reunir as melhores pessoas para enfrentar a crise que, ele reforça, vai piorar se as medidas corretas não forem adotadas.
Na avaliação de Lisboa, a equipe econômica da Fazenda está pronta. "A melhor equipe para a Fazenda é essa que está aí, manteria todas as pessoas e já tem até ministro: Ana Paula Vescovi", diz.
Lisboa avalia que ela deixou o Tesouro "arrumado" antes de ir para Fazenda. "Tem todas as habilidades e competência para assumir o ministério", diz ele.
Ex-secretária do Tesouro Nacional e hoje segunda da pasta, no posto de secretária-executiva, Vescovi era secretária de Fazenda do estado do Espírito Santo quando foi convidada para integrar a gestão de Michel Temer. Antes, atuou por dez anos na Secretaria de Política Econômica da Fazenda nos governos tucano e petista.
Lisboa diz, porém, que seria preciso reforçar a interlocução do governo com os demais Poderes em outras frentes, porque simplesmente não há interlocução adequada hoje nem com o STF (Supremo Tribunal Federal) nem com o Congresso, afirma.
Na Casa Civil, diz Lisboa, seria importante ter um político habilidoso, com bom trânsito no Legislativo, mas que compreendesse a estrutura da máquina pública e a dimensão do problema fiscal.
"O melhor nome para o cargo é Paulo Hartung", diz Lisboa. Com longa carreira política, Hartung foi deputado, senador e está no segundo mandato como governador do Espírito Santo pelo MDB.
"Também seria necessário escolher um bom advogado-geral da União: um Carlos Ari [Sundfeld], um Daniel Goldberg", diz.
Sundfeld é especialista em direito público e leciona na FGV Direito SP, em São Paulo.
Goldberg trabalhou no primeiro mandato de Lula, como titular da então Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, órgão incorporado ao atual Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Teve atuação marcada pelo combate à formação de cartéis. Hoje é mais conhecido por atuar na gestão de capital.
"Não mexeria no BNDES, nem no Ministério do Planejamento. As equipes estão azeitadas", diz Lisboa. Exemplo: a Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, do Planejamento) avaliou tudo que pode ser privatizado.
"Com a atual equipe está tudo pronto, em várias áreas, é só aplicar', diz Lisboa.

Se você não quer nem Bolsonaro, nem o PT, saiba que não é o único, FSP

Existe no país massa de 79,5 milhões de pessoas que não pretende votar em nenhum dos dois candidatos

Caso a tendência indicada pelas pesquisas eleitorais se mantenha, parte dos brasileiros vai seguir para o segundo turno das eleições presidenciais como se estivesse indo para o cadafalso.
São os eleitores que não querem nem Jair Bolsonaro (PSL), nem a volta ao poder do PT, de Fernando Haddad e do ex-presidente Lula.
Existe hoje no país uma massa de 79,5 milhões de pessoas, ou 54% da população, apta a votar que, segundo a mais recente pesquisa Datafolha, não pretende votar em Bolsonaro ou Haddad no primeiro turno (já excluídos os 5% ainda indecisos).
É claro que nem todos têm ojeriza aos dois candidatos ao mesmo tempo. Eleitores de João Amoedo (Novo) declaram voto em Bolsonaro no segundo turno. E boa parte dos simpatizantes de Ciro Gomes (PDT) não teria problema em escolher Haddad.
A rejeição a Bolsonaro chega hoje a 43% do eleitorado, enquanto a de Haddad está em 29% e subindo, conforme o Datafolha. É difícil saber qual o percentual de pessoas que rejeitam os dois. É possível intuir, contudo, que não são poucos os que classificam esse eventual segundo turno como um pesadelo.
Ainda assim, esses eleitores parecem caminhar à mercê daqueles que defendem propostas extremistas. Seus votos estão espalhados entreGeraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), candidatos nanicos, e até mesmo entre aqueles que preferem não escolher ninguém tamanha sua revolta –um percentual que chegou ao recorde de 12%.
“O sistema político está esfacelado depois das revelações da Operação Lava Jato. E quem mais sofreu nesse processo foi o centro, que não consegue se organizar”, explica o cientista político Fernando Abrucio.
O ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) fez um apelo aos demais candidatos para que se unam em uma ampla aliança contra os extremistas. Até agora parece que suas palavras caíram em terreno seco.
Os candidatos não parecem dispostos a abrir mão de seus projetos de poder em prol da sociedade. Vão deixar aos eleitores a difícil tarefa de evitar a crise por meio do voto útil. Só que, até agora, sem um terceiro colocado competitivo, as pesquisas não dão muita pista de para quem esse voto útil poderia migrar.
Raquel Landim
Repórter associada da Folha, escreve sobre economia há 18 anos.