terça-feira, 29 de maio de 2018

O fim da era diesel, FSP


No caminho de Bento Gonçalves para Porto Alegre no fim de semana, perto de Novo Hamburgo um bloqueio de caminhoneirospedia preço tabelado para o diesel e intervenção militar já. As reivindicações não poderiam ser mais retrógradas, sobretudo em comparação com a Hamburgo original, na Alemanha.
Nesta quinta-feira (31) 214 mil veículos movidos a esse combustível serão banidos de duas avenidas importantes da cidade portuária alemã. São caminhões, ônibus e carros a diesel mais velhos, os 2/3 da frota desse tipo na cidade que poluem o ar acima de padrões mais exigentes.
A fração diesel extraída do petróleo é um combustível muito eficiente, que não exige a produção de faíscas por velas para entrar em combustão, principal diferença entre motores do ciclo Diesel e Otto (gasolina e etanol).
A queima do diesel, no entanto, tem a desvantagem de emitir grande quantidade de compostos de nitrogênio (NOx) e enxofre (SOx), que causam danos à saúde humana e ambiental. No centro dos problemas está o material particulado fino (PM2,5), que penetra fundo em nossos pulmões.
A União Europeia fixou um limite de 40 microgramas de enxofre por metro cúbico no ar das cidades, e Hamburgo está entre as 80 cidades alemãs que não conseguem cumprir tal padrão. Parece provável que outros municípios do país e do continente a sigam nas restrições ao diesel.
O assunto tornou-se particularmente sensível depois do chamado Dieselgate, escândalo de fraudes na medição das emissões de motores que pôs a Volkswagen na berlinda e logo engolfou a indústria automobilística na Europa e nos Estados Unidos.
Só a VW está desembolsando US$ 25 bilhões em multas nos EUA. Um engenheiro seu naquele país, Oliver Schmidt, foi sentenciado a sete anos de prisão pelo papel no engodo que fazia motores testados em bancada produzirem menos emissões do que nas condições de rodagem.
 A Toyota anunciou que vai abandonar neste ano o mercado de motores a diesel na Europa. A Nissan divulgou que vai pelo mesmo caminho nos próximos anos.
Não é só a poluição do ar que condena o futuro do diesel. Assim como outros combustíveis fósseis (carvão, gasolina, gás natural) cuja queima produz gases do efeito estufa, ele também está na mira das metas para redução de emissões fixadas pelo Acordo de Paris (2015) contra o aquecimento global.
A saída para combater uma perigosa mudança do clima, no médio e longo prazos, está na eletrificação da frota, que avança a passos rápidos na Europa. Enquanto as vendas de carros a diesel caíam 17% no primeiro trimestre deste ano no continente, as de veículos elétricos aumentaram 25%.
Estados Unidos e Brasil, felizmente, nunca aderiram ao frenesi europeu com carros de passeio a diesel (à parte o fascínio com pseudo-utilitários de luxo, os SUVs), agora em queda livre. Mas ambos se tornaram dependentes dos caminhões.
Cerca de dois terços das cargas entre EUA, México e Canadá circulam por esse modal. Uma proporção similar à do Brasil, onde a Confederação Nacional de Transportes (CNT) estima que 60% do movimento se faz por rodovias.
Deu no que deu. Filhos e netos de caminhoneiros viciados em diesel, no entanto, terão muito mais com que se preocupar, no futuro, além do preço na bomba.
 
Marcelo Leite
É repórter especial da Folha, autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp).

Piquetes impedem reunião do Conselho Universitário Comunicado da Reitoria, Unicamp

A Reitoria da Unicamp informa à comunidade acadêmica que foi obrigada a cancelar a reunião do Conselho Universitário (Consu) marcada para a data de hoje em razão dos piquetes que impediram a entrada dos conselheiros no prédio da Secretaria Geral.

A Reitoria envidou todos os esforços para que a reunião fosse realizada, porém estes não surtiram efeito. Mesmo depois de a Reitoria ter recebido representantes dos professores, dos funcionários e dos alunos para dialogar, os acessos à sala de reuniões do Consu continuaram obstruídos.
Diante do cancelamento da reunião, deliberações sobre diversos assuntos do interesse da Unicamp tiveram de ser adiadas – entre eles, a homologação do reajuste salarial de 1,5% proposto pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp).

Como o assunto não pôde ser debatido pelo Consu, conforme determinava a Deliberação Consu-A-020/2017 (Artigo 1º, Parágrafo 1º, Item IX), segundo a qual todas as propostas de aumento salarial apresentadas pelo Cruesp devem ser submetidas à aprovação dos conselheiros por implicar aumento perene de despesas orçamentárias, o reajuste de 1,5% ainda não poderá ser concedido.

A Reitoria lamenta a postura do movimento sindical, que impediu o debate democrático seguindo as normas institucionais da Universidade.
Reitoria da Unicamp
Campinas, 29 de maio de 2018

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Problema da cidade é o excesso de ônibus vazios, FSP

Solução é reduzir a sobreposição de linhas com o mesmo destino nas vias

Sou muito preocupado com conforto. Quase sempre ando por aí em um “Mercedes com chofer”, como dizia a antiga propaganda. E sou meio espaçoso. Na maior parte do dia, o veículo tem mais espaço livre que alguns apartamentos à venda na cidade. Por isso, não consigo entender aqueles que ficam parados no congestionamento, enjaulados em pequenas gaiolas.
O maior problema do sistema municipal de ônibus de São Paulo é o excesso de carros vazios e não o acúmulo de passageiros, como imagina quem conhece coletivos só por reportagens jornalísticas. Afinal, “cachorro que morde gente não é notícia”: os repórteres vão atrás da exceção, como os casos de transporte público abarrotado.
Esta semana fiz um teste. Peguei o corredor Santo Amaro - Nove de Julho - Centro, um dos mais importantes da cidade, que inspirou vias de outras capitais do mundo. De cara, chama atenção a quantidade de carros para o Terminal Bandeira, um atrás do outro. No centro expandido, mais passageiros embarcados nos bairros descem do que novos usuários sobem. No túnel sob a Paulista, estava sozinho no imenso biarticulado (e ainda faltavam 20 minutos para o ponto final).
Desci na FGV e comecei a contar os ônibus vazios que passavam: foram oito a cada dez. E mesmo os outros tinham pouca gente. Pode-se ver nisso um sinal de conforto, mas é um desperdício de dinheiro que encarece o custo da passagem e aumenta o pedaço do IPTU necessário para subsidiar o Bilhete Único. Toda a cidade paga, direta ou indiretamente.
Qual é a solução? Reduzir a sobreposição de linhas com o mesmo destino nas vias. No exemplo que citei, menos veículos indo vazios, um atrás do outro, para a praça da Bandeira. Essa é uma das novidades da nova rede de transportes públicos, em licitação em São Paulo, que vai diminuir 8% dos ônibus em circulação. Isso fará com que mais passageiros tenham que fazer baldeação ao chegar a um corredor. Com menos carros na pista, a viagem ficará mais rápida.
Mas, se isso é bom, por que não tirar mais ônibus? Porque há áreas da periferia onde há falta deles. Vai haver uma transferência para os bairros. E vai dar certo? Se a prefeitura for competente, sim. O sistema vai ficar melhor para quem anda de “Mercedes com chofer”.
Leão Serva
Ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.