Solução é reduzir a sobreposição de linhas com o mesmo destino nas vias
Sou muito preocupado com conforto. Quase sempre ando por aí em um “Mercedes com chofer”, como dizia a antiga propaganda. E sou meio espaçoso. Na maior parte do dia, o veículo tem mais espaço livre que alguns apartamentos à venda na cidade. Por isso, não consigo entender aqueles que ficam parados no congestionamento, enjaulados em pequenas gaiolas.
O maior problema do sistema municipal de ônibus de São Paulo é o excesso de carros vazios e não o acúmulo de passageiros, como imagina quem conhece coletivos só por reportagens jornalísticas. Afinal, “cachorro que morde gente não é notícia”: os repórteres vão atrás da exceção, como os casos de transporte público abarrotado.
Esta semana fiz um teste. Peguei o corredor Santo Amaro - Nove de Julho - Centro, um dos mais importantes da cidade, que inspirou vias de outras capitais do mundo. De cara, chama atenção a quantidade de carros para o Terminal Bandeira, um atrás do outro. No centro expandido, mais passageiros embarcados nos bairros descem do que novos usuários sobem. No túnel sob a Paulista, estava sozinho no imenso biarticulado (e ainda faltavam 20 minutos para o ponto final).
Desci na FGV e comecei a contar os ônibus vazios que passavam: foram oito a cada dez. E mesmo os outros tinham pouca gente. Pode-se ver nisso um sinal de conforto, mas é um desperdício de dinheiro que encarece o custo da passagem e aumenta o pedaço do IPTU necessário para subsidiar o Bilhete Único. Toda a cidade paga, direta ou indiretamente.
Qual é a solução? Reduzir a sobreposição de linhas com o mesmo destino nas vias. No exemplo que citei, menos veículos indo vazios, um atrás do outro, para a praça da Bandeira. Essa é uma das novidades da nova rede de transportes públicos, em licitação em São Paulo, que vai diminuir 8% dos ônibus em circulação. Isso fará com que mais passageiros tenham que fazer baldeação ao chegar a um corredor. Com menos carros na pista, a viagem ficará mais rápida.
Mas, se isso é bom, por que não tirar mais ônibus? Porque há áreas da periferia onde há falta deles. Vai haver uma transferência para os bairros. E vai dar certo? Se a prefeitura for competente, sim. O sistema vai ficar melhor para quem anda de “Mercedes com chofer”.
Leão Serva
Ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.
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