segunda-feira, 3 de julho de 2017

Apple construiu escritório para adultos, triunfo póstumo de Steve Jobs, FSP



Noah Berger/Reuters
Campus da Apple em Cupertino, na Califórnia
Campus da Apple em Cupertino, na Califórnia

Uma espaçonave gigante aterrissou em Cupertino. Nas próximas semanas, os 12 mil funcionários da Apple começarão a se transferir para seu novo edifício com cara de disco voador, cuja construção durou oito anos e supostamente custou US$ 5 bilhões —o que faz dele o escritório mais caro do planeta.
O Apple Park é o triunfo póstumo de Steve Jobs; como projeto motivado pela vaidade, ele mais ou menos se equipara ao Palácio do Povo do ditador comunista Nicolae Ceausescu, em Bucareste.
Jobs detalhou as especificações como um verdadeiro maníaco por controle —o que ele era—, insistindo em portas impecáveis e no uso de pedras de uma pedreira do Kansas que passam por um processo de desgaste artificial para se assemelharem às paredes de um hotel em Yosemite do qual ele gostava. O capricho obsessivo e a grandiosidade do projeto fazem com que o mármore encomendado por Jacques Attali para a sede quando ele era presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) fique com cara de capacho.
Se eu fosse acionista da Apple, não estaria feliz. Exagerar na decoração da sede quase sempre quer dizer que a calamidade está a caminho. As coisas não terminaram bem para a Romênia de Ceausescu e para o Berd de Attali.
Se eu morasse em Cupertino, tampouco gostaria da obra. O Apple Park tem pelo menos 9.000 vagas de estacionamento, o que significa circulação excessiva de carros. É melhor para as cidades que os escritórios fiquem no centro, para que as pessoas não precisem se deslocar tanto e possam sair na hora do almoço a fim de gastar dinheiro em lojas locais.
Mas em meu papel de observadora de escritórios, estou dando pulinhos de alegria. Nas duas últimas décadas, três coisas ruins aconteceram com o design de escritórios, e o Apple Park põe fim a todas elas.
Primeiro, perdemos de vez a confiança nos escritórios, agora que trabalhadores nômades preferem trabalhar de casa ou de um café. O edifício de Jobs é um hino à importância dos escritórios em geral. Os críticos resmungam sobre a possibilidade de que o edifício se torne um elefante branco caso a Apple quebre, mas isso não é relevante. O que o Apple Park diz, alta e claramente, é que "estamos aqui para ficar e, com isso, construímos algo de bonito onde nosso pessoal possa trabalhar todos os dias".
A segunda coisa ruim é a confusão entre casa e trabalho. Os projetistas de escritórios que estão na moda adoram fazer com que espaços de trabalho se pareçam com os apartamentos horrendos de hipsters imaginários - o escritório do Airbnb em San Francisco está repleto de espaços com cara de salas de estar descoladas, cozinhas e até mesmo uma "caverna para nerds".
Até onde consigo ver, assistindo a um vídeo sobre a nova sede no YouTube e lendo a resenha inicial da revista "Wired" sobre ela, o edifício da Apple foi construído com base na ideia de que trabalho e casa são distintos. Não há nem mesmo serviços de creche no local, o que também representa progresso. Eu nunca quis que meu empregador cuidasse dos meus filhos. Queria contratar pessoas que eu escolhesse para me ajudar a tomar conta deles, e sair do trabalho na hora certa para assumir a tarefa, no final do expediente.
O mais radical é que o Apple Park foi feito para adultos. Nas duas últimas décadas, os escritórios vêm sendo construídos como se fossem abrigar alunos do ensino básico. O Google é líder mundial na infantilização da força de trabalho, com gramados de croquê feitos de grama artificial e escorregadores.
No escritório da empresa em Tel Aviv, o pessoal faz reuniões em ridículas cápsulas voadoras —cestas com hélices no topo. Essa tendência perniciosa —feia, estúpida e eivada de preconceito de idade— surgiu no Vale do Silício e se espalhou. Mesmo na quadradíssima sede nova da Confederação da Indústria Britânica em Londres, a decoração usa cores primárias, cápsulas e murais engraçadinhos.
O Apple Park deu as costas à diversão e escolheu a beleza, em lugar dela. Beleza é algo de sério e adulto —como o trabalho deveria ser.
O edifício tem duas outras vantagens: a democracia e o verde. Os escritórios fingem ser igualitários há décadas, mas enquanto permanecerem em edifício altos, o presidente-executivo sempre estará no topo. A espaçonave da Apple tem só quatro andares, e todo mundo terá a mesma vista, a melhor para um trabalhador: árvores. Cerca de nove mil delas serão plantadas - quase uma por pessoa.
O único escorregão é a tentativa da Apple de justificar a despesa. A companhia afirma que o ambiente imaculado provavelmente levará seu pessoal a produzir trabalho imaculado. Isso é asneira: muitas das melhores invenções da história surgiram em galpões.
De qualquer forma, a Apple não precisa se justificar. Tem dinheiro para queimar, e escolheu queimá-lo em algo esplêndido para seus trabalhadores. Como acionista, eu talvez não gostasse disso. Mas se fosse um dos 12 mil trabalhadores envolvidos, estaria contando ansiosamente os dias até a mudança.

domingo, 2 de julho de 2017

Presidente da Assembleia Legislativa fala a jornais regionais de SP


Aproximar a Assembleia Legislativa (Alesp) da população. Este é um dos objetivos da casa de leis estadual, que abriu suas portas para jornais regionais da capital. O SP Norte representou a Zona Norte ao lado de veículos da Zona Sul (Editora Juma, Pedaço da Vila) e Zona Leste (Acontece Agora e Paulistão Avenidas).
Em meio ao cabo de guerra que a casa está enfrentando com o governo do Estado em relação à aprovação de emendas parlamentares e a votação do aumento do teto para servidores públicos – a base governista insiste para que o tema entre em pauta –, o Presidente da Assembleia, Cauê Macris (PSDB), mostrou as novas medidas para melhorar a comunicação da casa com os paulistas.
A estrutura informativa da Alesp possui mais de cem funcionários, de acordo com Macris, e serão tomadas iniciativas para fortalecer os meios de comunicação da casa, envolvendo TV, rádio, agência de notícias e, sobretudo, mídias sociais. Uma licitação para a inclusão de uma agência de publicidade também está na pauta.
Biblioteca da Alesp, aberta ao público desde a última quarta-feira (29/6). (foto: Divulgação/Alesp)
“Apesar de serem segmentados [jornais regionais], vocês alcançam, às vezes, mais pessoas que algumas cidades do interior. Em São Paulo, os grandes não falam do dia a dia da população”, afirmou.
Macris enfatizou que o “dialogo da Alesp” é importante, pois a casa “tem um pacto com a população de cada bairro e região”. A aproximação da Alesp com a comunidade também inclui medidas como inauguração de um posto do Detran dentro da casa, e a recém-abertura da biblioteca para a população, antes com acesso apenas aos servidores.
“As pessoas pensam que aqui é fechado. Aqui é a casa do povo: tem os cursos, debates do dia a dia. A Alesp foi se encastelando, e o povo não sabe que isso [visitar] é possível”, disse.
O tema comunicação também chegou aos políticos. Para Macris, um dos fatos de os representantes não “estarem indo bem é porque não sabem se comunicar”, e citou o exemplo de João Doria (PSDB): “tem um monte de bom gestor, mas ele é um excelente comunicador”.
Cauê Macris, Presidente da Alesp. (foto: Divulgação/Alesp)
Entre as novidades da Alesp, está a criação do aplicativo Fiscaliza Cidadão, que será lançado em 30 dias, de acordo com Macris. O app vai permitir que o paulista “vigie” os deputados e o que a casa gasta.
Macris é o mais jovem deputado a assumir a presidência da casa, com 33 anos. O Presidente da Alesp defende a saída dos tucanos da base aliada de Michel Temer (PMDB), ao mesmo tempo que assegura a continuidade das polêmicas reformas trabalhista e previdenciária. “O PSDB não pode se valer do leve avanço do PIB no primeiro trimestre deste ano, resultado recém-divulgado, para justificar a permanência nos cargos. Muito menos usar a melhoria na atividade econômica para indultar aqueles que derraparam do ponto de vista ético”, afirmou em artigo publicado no início de junho na Folha de S.Paulo.

A política do cada um por si, OESP

Editorial
02 Julho 2017 | 03h00
A grave crise política que o País vive deixa em aberto uma ampla gama de questões fundamentais, inclusive no que diz respeito ao mandato do presidente Michel Temer, mas uma coisa é certa: até o final da atual legislatura, os parlamentares medirão exclusiva e cuidadosamente com a régua de seus próprios interesses políticos cada voto dado nas comissões e nos plenários do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Isso significa, na prática, que o governo terá de redobrar esforços para aprovar as reformas tão necessárias para a retomada do crescimento. Na verdade, a única reforma em que senadores e deputados estão interessados é a política. Mas não aquela necessária à completa reforma do falido sistema político-partidário, mas remendos pontuais como a criação de um generoso Fundo Eleitoral que em alguma medida seja capaz de substituir as doações de empresas, proibidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2015.
Os problemas e vícios do sistema político-partidário foram analisados pelo deputado petista Vicente Cândido (SP), relator do projeto dessa reforma. Em debate promovido na segunda-feira passada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Cândido foi categórico: “Hoje é muito difícil construir maioria. Nós temos um monte de general sem tropa. Os presidentes e líderes não têm mais os domínios e comandos de suas bancadas”.
A democracia abre espaço para o dissenso, inclusive dentro de partidos políticos. Mas nestes deve predominar a expectativa de um mínimo de coesão e coerência programática. O “cada um por si” vira regra quando as legendas partidárias renunciam à responsabilidade de desempenhar o papel de mediadoras políticas que lhes cabe numa democracia e passam a servir apenas aos interesses pessoais de seus membros. Essa é uma das razões principais que levaram o País à profunda crise que está vivendo em prejuízo daqueles que os parlamentares deveriam representar: os cidadãos.
Essa análise se sustenta na observação do comportamento atual dos três maiores partidos. O PMDB, o maior deles, coerente com sua insopitável vocação governista e com a condição de atual detentor do poder central, esforça-se, quase sempre sem sucesso, para manter suas várias correntes unidas em torno do presidente da República. Trata-se de tirar o maior proveito possível de uma condição excepcional – governar – que sabe que dificilmente se repetirá em futuro previsível. Mas o “PMDB da Câmara”, geralmente alinhado com Temer, não consegue se entender com o “PMDB do Senado”, liderado por Romero Jucá, que preside a legenda, e isso ajuda a tumultuar o ambiente político e prejudicar a agenda de reformas em boa hora adotada pelo presidente Temer. Não é lisonjeiro para o PMDB o fato de terem sido escolhidos profissionais reconhecidamente competentes para a equipe econômica, nenhum deles notoriamente ligado ao partido.
O PSDB, que hoje desempenha em relação ao Planalto o mesmo papel de aliado mais importante que o PMDB tinha nos governos do PT, mantém-se politicamente dividido em torno de caciques cujos interesses parecem ultimamente cada vez mais inconciliáveis. O partido mal consegue manter o compromisso de apoiar a agenda de reformas que foi a justificativa apresentada, um ano atrás, para aceitar o comando de Ministérios importantes.
O PT, agora na oposição, coisa que sabe fazer muito melhor do que governar, tem o caradurismo de se apresentar como “o novo” em política. Finge lutar por “Diretas Já”, mas o que deseja é que Michel Temer continue sangrando politicamente até o ano que vem, empenhado na tentativa de cumprir a agenda de reformas, de modo a garantir o discurso populista de Lula, se ele conseguir se livrar da cadeia.
A triste conclusão é que o Brasil, como qualquer país democrático, precisa dos políticos. Mas não pode contar com os que tem.