Em cinco regiões, o aumento no número de roubos foi maior do que 100%, entre elas, a do Jaguaré, na zona oeste, e a da Avenida Paulista
25 de abril de 2014 | 22h 22
Daniel Trieli e Luciano Bottini Filho - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Dos 93 distritos policiais da cidade de São Paulo, 85 (91%) registraram aumento no número de roubos (exceto de veículos, carga e a bancos) no primeiro trimestre, ante o mesmo período de 2013, e 67 tiveram alta no total de roubos e furtos de veículos. Em cinco DPs (entre eles, o do Jaguaré, na zona oeste, e o que cobre a área da Avenida Paulista), o número de crimes mais do que dobrou.
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A meta para todo o Estado era que esses crimes ficassem estáveis. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que não é possível aplicar o mesmo teto para todos os DPs, já que há variação entre a criminalidade de cada local. Áreas onde não há muitos crimes, por exemplo, podem apresentar um aumento desproporcional com poucas ocorrências. A pasta afirmou que divulgaria quais eram os limites previstos para cada distrito, mas disse que eles ainda não estão finalizados.
O Estado já havia informado ontem que, só nos dois primeiros meses do ano, quase metade dos DPs paulistanos já havia estourado a meta trimestral de redução de criminalidade. O mais preocupante já era o 93.º DP (Jaguaré), que cobre a Cidade Universitária e parte do Butantã. Essa região teve um salto de 222 para 365 roubos entre o primeiro trimestre de 2013 e o de 2014, uma alta de 144,6%.
Os policiais da área afirmam que as favelas do bairro facilitam a fuga de criminosos. Além disso, o delegado titular do 93.º DP, Paulo Arbues Andrade, reclamou dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP), "que não permitem a entrada da Polícia Militar no câmpus".
"Em parte, a criminalidade cresceu", admitiu ontem o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira. "Nós sabemos que há uma tendência de aumento de roubos. Em parte, houve o impacto da diminuição de subnotificação e, por isso, estamos trabalhando." Grella se referiu à ampliação da delegacia eletrônica para roubos, no fim do ano passado, que teria reduzido a chamada cifra negra das estatísticas - o número de vítimas que não relatam os crimes às autoridades.
O secretário, como em outros balanços mensais, voltou a criticar o sistema criminal brasileiro e a legislação como fatores responsáveis pelos crimes contra o patrimônio. "Nós estamos atuando na inteligência, na integração e na investigação, mas é preciso também que haja um esforço do País no que se refere à questão da impunidade."
Tendências. Se os roubos estão incomodando o governo, os homicídios são um problema menor, apesar de o Estado não ter cumprido a meta de redução. "Nós não precisamos ter uma queda de 10%, 20%. Basta que haja uma tendência", disse o secretário. "Essas mudanças de indicadores não acontecem em um curto espaço de tempo."
Segundo Grella, o governo está tomando medidas como a contratação de novos policiais e um sistema de detecção de suspeitos trazido da polícia de Nova York, que analisa imagens de câmeras de segurança automaticamente. A operação deve começar em quatro meses.
Para maio, o secretário promete que haverá uma divulgação mais específica de crimes, como modalidades de roubo e perfil de homicídios. "Não temos medo da transparência. A partir do mês que vem, vamos publicar dados mais detalhados."
Com alta de 33%, número de roubos no 1º trimestre é o maior em 19 anos no Estado
Foram, respectivamente, 79.093 e 40.671 ocorrências, o que significa altas de 33,5% e 44,6%, em comparação com o mesmo período do ano passado
por Agência Estado
O Estado e a capital paulista registraram, nos primeiros três meses do ano, os maiores índices de roubos (exceto de veículos) desde 1995, quando os dados trimestrais começaram a ser divulgados. Foram, respectivamente, 79.093 e 40.671 ocorrências, o que significa altas de 33,5% e 44,6%, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 25.
Com o aumento dos crimes contra o patrimônio, nem o Estado nem a capital paulista conseguiram cumprir a meta de redução de criminalidade estabelecida pelo governo estadual em seu programa de bonificação a policiais civis e militares. Em dois critérios (roubos em geral e roubos e furtos de veículos), o objetivo era igualar os resultados do primeiro trimestre do ano passado. O terceiro objetivo era reduzir homicídios e latrocínios. Houve queda, mas aquém do esperado pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Com o estouro da meta, o programa de bonificação será alterado. Nesta sexta-feira, o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, anunciou que as metas estaduais e regionais serão excluídas neste trimestre. Nessa primeira fase, a avaliação será feita somente pelo resultado da delegacia ou da companhia da PM.
O Estado e a capital paulista registraram, nos primeiros três meses, os maiores índices de roubos desde 1995 (Foto: Divulgação)
No plano original, que ainda precisa ser aprovado pela Assembleia Legislativa, os policiais receberiam de R$ 500 a R$ 2 mil pelas metas trimestrais de roubos em geral, furto e roubo de veículos e vítimas de letalidade violenta (homicídios e latrocínios). Com a escalada da criminalidade, o primeiro trimestre não incluirá mais as metas de roubo e o bônus será de, no máximo, R$ 500. "Estamos excluindo o roubo e concentrando em roubo de veículos e em letalidade das áreas locais, para que sirvam de estímulo", disse Grella. "É uma solução inicial."
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), atribuiu o aumento nos roubos à nova forma de notificação de casos, por meio dos boletins de ocorrência eletrônicos no site da SSP. "Nós temos números mais verdadeiros. Antes, você tinha de ir à delegacia para fazer o boletim, o que dá trabalho e perde-se tempo. Hoje, você faz de casa", disse Alckmin. "Estatística não é para agradar ou desagradar. Ela é uma ciência para você ter planejamento e estabelecer diretrizes para eficiência do trabalho", disse o governador, que acredita no programa de metas como estratégia para a diminuição dos crimes no Estado. "Não atingiu agora, mas pode atingir mais à frente."
Mortes
O Estado teve redução de 3,3% nos assassinatos (de 1.189 para 1 150), o que não foi suficiente para atingir a meta de 7,4% de redução no número de vítimas de letalidade violenta. O mesmo aconteceu com a capital: redução de 4,9% (de 304 para 289 mortes), mas a meta de redução no número de vítimas era de 9%.
Para Alckmin, o objetivo era "ousado". "Quando você estabelece uma meta para ser atingida, ela pode ser até ousada. Nós não queremos que mantenha nem aumente (o crime contra a vida), nós queremos que reduza. É uma meta ousada. Nós temos um objetivo e um foco", disse o governador.