segunda-feira, 21 de abril de 2014

Público do Brasileirão deve aumentar com inauguração de Arenas


Previsão é que novos estádios sejam responsáveis pelo crescimento da arrecadação com venda de ingressos

19 de abril de 2014 | 17h 00

Raphael Ramos - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Ao custo de R$ 8,1 bilhões, os 12 estádios da Copa do Mundo serão a grande novidade do Campeonato Brasileiro. Se confirmada a tendência já observada no último Nacional, essas arenas deverão ser as responsáveis por aumentar a média de público do campeonato e de arrecadação dos clubes com bilheteria.
Arena Corinthians deve ter grande público - Divulgação
Divulgação
Arena Corinthians deve ter grande público
No ano passado, as seis arenas utilizadas na Copa das Confederações tiveram no Campeonato Brasileiro um público médio 88% superior ao dos estádios antigos. De acordo com estudo feito pela consultoria BDO, Mineirão, Maracanã, Arena Pernambuco, Castelão, Mané Garrincha e Fonte Nova tiveram, em média, 21.774 torcedores por jogo. Nos demais estádios, a média foi de 11.612. A disparidade nos valores de bilheteria foi ainda maior: média de R$ 898.282,00 por jogo contra R$ 252.040,00.
Com os novos estádios, o Campeonato Brasileiro de 2013 teve a maior arrecadação com bilheteria da história (mais de R$ 176 milhões) e um acréscimo de público de 15% em relação do ano anterior, totalizando 5,7 milhões de torcedores em 380 jogos. Para este ano, a expectativa é que essas marcas sejam superadas novamente por causa da inauguração de arenas da Copa do Mundo.
O atual Campeonato Brasileiro marcará a abertura oficial de dois estádios: Arena Corinthians e Arena da Baixada. O Itaquerão receberá o seu primeiro jogo no dia 17 de maio, quando o Corinthians enfrenta o Figueirense. Na semana seguinte, a Fifa assume o controle da arena, palco da abertura da Copa.
O Atlético-PR ainda não definiu o cronograma de eventos em seu estádio, mas é possível que a primeira partida oficial da Arena da Baixada seja realizada no dia 18 de maio, quando o Furacão enfrenta o Chapecoense, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro.
Se em 2013 o Mané Garrincha, em Brasília, foi o estádio com a melhor média de público da competição com 36.644 pessoas por jogo, esse ano a expectativa é que o Itaquerão lidere a lista. A previsão da diretoria do Corinthians, apresentada pelo ex-presidente Andrés Sanchez em reunião do Conselho Deliberativo, é de que a média de público no novo estádio alvinegro supere os 50 mil torcedores.
FATOR NOVIDADEAssim como ocorreu no ano passado com o Mané Garrincha, a Arena Pernambuco e o Castelão, estádios que receberam jogos de equipes do eixo Rio-São Paulo como mandantes, o mesmo deverá acontecer com a Arena Pantanal, a Arena das Dunas e a Arena Amazônia, inauguradas este ano. Como as cidades de Cuiabá, Natal e Manaus não têm representantes na Série A do Nacional, os administradores desses estádios já negociam com alguns clubes a transferência de partidas para esses locais.
Em 2013, por exemplo, o Santos levou o jogo contra o Flamengo para Brasília, na despedida de Neymar para o Barcelona, e registrou dois recordes. O público de 63.501 pagantes foi o maior do campeonato enquanto a renda de R$ 6.948.710,00 foi a maior da história do futebol brasileiro - depois, foi superada pela bilheteria da final da Libertadores entre Atlético-MG e Olímpica, no Mineirão, de R$ 14.176.146,00.
PARADOA Copa do Mundo esfriou o mercado de contratações entre os clubes brasileiros. Como muitas empresas têm direcionado verbas de marketing para o Mundial, alguns clubes estão com dificuldades para encontrar patrocinadores. Sem dinheiro em caixa, os clubes, consequentemente, contratam pouco. É o caso do Santos, por exemplo, que tem sobrevivido de patrocinadores eventuais. "Nunca descartamos uma contratação, mas pretendemos ir com esse elenco até a Copa do Mundo", avisou o gerente de futebol Zinho. Como o Brasileiro será interrompido após a 9ª rodada, dirigentes admitem que estão esperando a Copa do Mundo para, então, irem às compras.

Avenida Tiradentes: a antiga estrada real cheia de história


Nos 1,8km de extensão, há prédios como a Estação da Luz, o mosteiro idealizado por Frei Galvão e o arco do presídio de Tiradentes

19 de abril de 2014 | 17h 11

Edison Veiga - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - A avenida homenageia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, mártir da Independência que viveu de 1746 a 1792. Mas o caminho já existia antes de o personagem histórico ter nascido. Era chamado de "estrada real de Guarepe", ou "Guaré", nome de um pequeno rio que corria na região.
Avenida tem 1,8km e liga a Estação da Luz a Marginal do Tietê - SEGIO CASTRO/ ESTADÃO
SEGIO CASTRO/ ESTADÃO
Avenida tem 1,8km e liga a Estação da Luz a Marginal do Tietê
"Nesse local ocorria criação de gado. Um pouco mais ao norte, havia um pouso de tropeiros", pontua o historiador e arquiteto Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).
No século 18, a avenida começou a ficar mais movimentada. Foi ali o local escolhido pelo religioso franciscano Antônio de Sant’Anna Galvão, o Frei Galvão (1739- 1822), para erguer um convento, chamado de Mosteiro da Luz. Frei Galvão atuou como arquiteto, mestre de obras, pedreiro e carpinteiro - ele assumiu o trabalho braçal ao lado dos escravos cedidos por famílias nobres para a construção. A técnica aplicada, a taipa de pilão, era comum na época.
Seus dotes de arquiteto resultaram em uma percepção da importância que o caminho, hoje avenida, teria para a cidade. Conforme assinala Toledo no livro Frei Galvão: Arquiteto (Ateliê Editorial), Frei Galvão alterou, durante a obra, a entrada da capela, originalmente com a face voltada para o sul. Foi uma previsão acertada de que a região onde hoje está a avenida seria movimentada. Então, criou novo frontispício, e a face principal da igreja passou a ser daquele lado. É por isso que o altar, cuja disposição original foi mantida, está à esquerda de quem entra - e não à frente, como de praxe.
Ali, antes existia uma ermida, construída em homenagem a Nossa Senhora da Luz, no início do século 17. "As obras para o novo templo devemos a Frei Galvão, que nessa empresa levou 48 anos até sua morte, em 1822. As obras foram iniciadas a 2 de fevereiro de 1774", conclui Toledo.
Acredita-se que a largura da via, excepcional para os padrões da época, seja um sinal da efervescência comercial da região. "Ali ocorriam habitualmente as chamadas ‘ferias de Pilatos’, como era conhecido o governador de São Paulo Melo Castro e Mendonça", pontua o arquiteto e historiador.
Documentos do Arquivo Histórico Municipal mostram que o caminho passou a ser chamado de Tiradentes em 1916. O batismo veio após a obra - a avenida, já com traçado semelhante ao atual, foi construída na gestão do primeiro prefeito de São Paulo, conselheiro Antonio da Silva Prado (1840-1929), que ocupou o cargo de 1899 a 1911.
É pequena, com apenas 1,8 km de extensão. Mas fundamental. Ali estão três estações do Metrô (Luz, Tiradentes e Armênia) e marcos históricos e culturais como a Pinacoteca do Estado, o Jardim da Luz, a Praça Coronel Fernando Prestes, o Museu de Arte Sacra e o já citado Mosteiro da Luz.
E para não dizer que Tiradentes, que era dentista, não está representado, a unidade do Centro Universitário Senac localizada na avenida conta com uma clínica odontológica que atende 600 pacientes por mês. A clínica existe desde 2003.
Marcos. Na Avenida Tiradentes funcionou, por mais de 60 anos, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - que quando foi transferida à Cidade Universitária, no Butantã, deu lugar a uma unidade da Faculdade de Tecnologia (Fatec).
Também são históricos o prédio-sede da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e o arco remanescente do Presídio Tiradentes. Este funcionou de 1852 a 1972. Durante a Era Vargas, abrigou presos políticos como o escritor Monteiro Lobato (1882-1948). O mesmo aconteceu na ditadura militar, quando até a atual presidente Dilma Rousseff esteve presa ali. O presídio foi demolido em 1985, mas o portal foi preservado "pelo valor simbólico que representa na luta contra o arbítrio e a violência institucionalizadas em nosso País em passado recente", conforme parecer do Condephaat, órgão estadual de proteção ao patrimônio.

'Aos domingos, ninguém quer derrubar o Minhocão' (definitiva)


Arquiteto que tem entre suas obras a sede do canal TV 5, em Paris, defende reformas à derrubada de prédios

20 de abril de 2014 | 2h 07

EDISON VEIGA, MÔNICA REOLOM - O Estado de S.Paulo
'Arquitetos devem aumentar o prazer de viver', disse Frédéric Druot - Daniel Teixeira/Estadão
Daniel Teixeira/Estadão
'Arquitetos devem aumentar o prazer de viver', disse Frédéric Druot
Ele é radicalmente contra demolições. Quaisquer demolições. Por economia e pelas possibilidades que uma reforma oferece a algo já erguido. "Não precisamos matar ninguém por causa de uma dor de dente", compara. O arquiteto francês Frédéric Druot esteve em São Paulo no início do mês, a convite da Escola da Cidade. Autor do livro Plus, ele tem no currículo obras como a sede do canal televisivo TV5 Monde, em Paris. Confira trechos da entrevista ao Estado.
Qual sua opinião sobre nossos problemas urbanos?
Fiquei fortemente impressionado porque São Paulo, ao contrário de Paris, aceitou sua modernidade. Vocês fizeram da coisa contemporânea o seu cotidiano, e não a sua exceção. Posso dizer que São Paulo é uma cidade de vida. Eu adoro São Paulo por essas razões e pelo relacionamento que ela faz entre sua escala e seu caos, a estratificação de seus movimentos e suas luzes, pela potência inacreditável de uma vegetação sempre pronta a assumir as construções, o asfalto das vias, o pavimento das calçadas. Não conheço precisamente as dificuldades paulistanas, mas as imagino: problemas de habitação, fortes contrastes sociais, problemas de mobilidade. Mas penso que a capacidade de prazer deve ser posta em primeiro lugar. Prefiro falar e observar o que há de bom antes de falar sobre o que não funciona. De um ponto de vista metodológico, São Paulo permite que milhões de pessoas vivam e trabalhem, ou seja, apresenta capacidades inacreditáveis, sem planificação global. A resolução das dificuldades poderia ser simples e permitir, em uma economia controlada e frágil, uma evolução notável e generosa. É preciso para isso que haja decisões políticas não convencionais. É preciso se endereçar aos milhares de arquitetos brasileiros talentosos e colocar a questão: "como podem vocês aumentar generosamente o prazer de viver essa ou aquela situação urbana, a cada local, ponto por ponto?". A potência política urbana tem um dever, que é o de se endereçar a cada um e a todos. Resta o crack, o poder de compra, a precariedade, a equidade social, que são problemas políticos e que, sozinhos, a arquitetura não pode regrar.
O senhor é contra qualquer tipo de demolição. Poderia explicar as razões para essa postura?
É uma posição radical, que não deixa espaço ao talvez. É uma posição ao mesmo tempo política, social, arquitetônica e econômica. Política porque ela pertence à organização da cidade. Geralmente, uma decisão de demolição é tomada por uma organização que não participou da construção do prédio ou do bairro que ela pretende assassinar. Social, porque a decisão geralmente é tomada por organizações que não têm o uso da coisa a demolir e porque, quando se demole um imóvel de residência, se demole a residência de qualquer um, de uma família. Arquitetônica e econômica, porque o bom senso gostaria que se utilizasse o preço das demolições de imóveis existentes para fazer, com o mesmo orçamento ou menos, um projeto novo, com dois, três vezes mais espaço, mais conforto, mais luz, mais prazer. A meu ver, planificar as demolições de bairros, imóveis e estradas é uma proposição preguiçosa de urbanistas e de poderes políticos.
O senhor defenderia a reforma em vez da demolição de casos emblemáticos, como os edifícios São Vito e Mercúrio?
Mil vezes, sim... Mas é tarde demais. Eu olhei a implantação desses prédios no bairro, a organização de suas plantas, o sistema construtivo dos andares e das fachadas. Nada me parecia perigoso a ponto de necessitar uma demolição. A problemática da densidade da população no interior do prédio não tem nada a ver com a capacidade estrutural do imóvel. A questão que foi abordada era social e não arquitetônica ou urbana. A gente não precisa matar ninguém por causa de dor de dente. Assim, a pergunta é: como melhorar as condições de vida dos habitantes? Graças a algumas adaptações e evoluções, pode ele se tornar mais eficiente? Se nós não podemos acomodar todo mundo ali, o que podemos oferecer àqueles que não cabem nesse prédio? Se, ao final de todas essas questões, a resposta definitiva for que o imóvel não pode mais abrigar residências, então por que imaginá-lo como viável para outras funções, sejam elas escritórios, comércio, atividades sociais, culturais ou religiosas? Mas não demolir!
E o Elevado Costa e Silva, o Minhocão? Parte da sociedade pede há décadas a demolição...
Aos domingos, ninguém quer derrubar o Minhocão. Porque ele se transforma em uma pista para bicicletas, em uma área de lazer. E, se ele for demolido, onde vão passar as centenas de milhares de carros que precisam da via diariamente?
Qual aspecto de São Paulo mais chamou a sua atenção?
O sorriso das pessoas.