ESTADÃO - 08/06
Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.
No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.
Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.
Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.
Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.
A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.
As depredações de quinta-feira na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.
Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e “da finança internacional” e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.
Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.
Falsa impressão. Pode ficar a impressão de que esses números estão relativamente estabilizados. Não estão. É uma inflação muito alta e persistente, em parte porque não há como trazer do exterior a maioria dos serviços. Com isso, os mecanismos da concorrência demoram mais a entrar em ação. Nesse campo, as duas únicas forças capazes de conter a alta são a puxada dos juros e a própria inflação que corrói o poder aquisitivo.
Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.
No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.
Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.
Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.
Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.
A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.
As depredações de quinta-feira na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.
Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e “da finança internacional” e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.
Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.
Falsa impressão. Pode ficar a impressão de que esses números estão relativamente estabilizados. Não estão. É uma inflação muito alta e persistente, em parte porque não há como trazer do exterior a maioria dos serviços. Com isso, os mecanismos da concorrência demoram mais a entrar em ação. Nesse campo, as duas únicas forças capazes de conter a alta são a puxada dos juros e a própria inflação que corrói o poder aquisitivo.