sábado, 8 de junho de 2013

No teto da meta - CELSO MING

ESTADÃO - 08/06

Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.

No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.

Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.

Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.

Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.

A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.

As depredações de quinta-feira na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.

Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e “da finança internacional” e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.

Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.

Falsa impressão. Pode ficar a impressão de que esses números estão relativamente estabilizados. Não estão. É uma inflação muito alta e persistente, em parte porque não há como trazer do exterior a maioria dos serviços. Com isso, os mecanismos da concorrência demoram mais a entrar em ação. Nesse campo, as duas únicas forças capazes de conter a alta são a puxada dos juros e a própria inflação que corrói o poder aquisitivo.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Brasil deixa de arrecadar R$ 415 bilhões ao ano por sonegação


Renan Carreira, da Agência Estado
SÃO PAULO - Sonegar imposto é crime e custa caro ao Brasil: R$ 415 bilhões. O valor se refere ao que o País deixa de arrecadar por ano com a evasão fiscal, de acordo com estudo divulgado nesta quarta-feira, 5, pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz).
O Sindicato informa ainda que o valor estimado de sonegação tributária é superior a tudo que foi arrecadado em 2011 de Imposto de Renda (R$ 278,3 bilhões) ou de tributos sobre folhas e salários (R$ 376,8 bilhões). E é mais da metade do que foi tributado sobre bens e serviços (R$ 720,1 bilhões).
De acordo com o Sinprofaz, a arrecadação brasileira poderia ser 23% maior se fosse eliminada a evasão fiscal. "Isso significa que, se não houvesse sonegação de impostos, o peso da carga tributária poderia ser reduzido em até 20% e ainda sim se manter o mesmo nível de arrecadação", escreveu o presidente do Sinprofaz, Allan Titonelli Nunes, em nota.
O Sindicato chegou ao número após analisar 13 tributos que correspondem a 87,4% da arrecadação tributária no Brasil, entre eles IR, IPI, IOF, INSS, Cofins, CSLL, FGTS, ICMS e ISS. O Sinprofaz informou ainda que a população pode acompanhar a contagem da sonegação fiscal no endereço www.sonegometro.com.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

'A gente não pode valorizar um uso do rio em detrimento de outro', diz Rodolfo Costa e Silva


Coordenador do Comitê de Requalificação defende a criação de espaços de lazer, cultura, integrando os parques e clubes que ficam nas margens dos rios

04 de junho de 2013 | 2h 03

O Estado de S.Paulo
1. Há muito tempo, fala-se na despoluição dos rios da capital. O que pode fazer desse um plano diferente? Rodolfo Costa e Silva - Acho que a diferença é que esse é um plano global de recuperação ambiental e valorização urbanística. A gente não pode valorizar um uso do rio em detrimento de outro. Não podemos pensar só em navegação e não se preocupar com abastecimento de água ou amortecimento de enchentes.
2. Que avaliação o senhor faz das margens dos rios? Rodolfo Costa e Silva -Hoje, nossos rios estão tampados. Não fisicamente, mas oprimidos pelas marginais. Mas o que fazer? Tirar as marginais? Isso não é possível. Então acredito que a gente tenha de criar espaços onde é possível levar a cidade para dentro do rio. E as ciclovias já estão fazendo isso. Mas a ideia é criar espaços de lazer, cultura, integrando os parques e clubes que ficam nas margens dos rios.
3. Um projeto desse tamanho não deve enfrentar ceticismo? Rodolfo Costa e Silva - A solução tem de ser do tamanho do problema, do que São Paulo precisa. Um projeto desses pode mudar a vida na metrópole. Fala-se muito do Rio Maravilha (requalificação urbana da região da área portuária, no Rio). Mas o impacto desse projeto na vida de São Paulo pode ser muito maior do que o do Porto Maravilha no Rio.