sábado, 19 de janeiro de 2013

Inspeção veicular


CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Ontem, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, defendeu um "pacto metropolitano" a ser coordenado pelo governo do Estado, para evitar a sangria de R$ 320 milhões na arrecadação anual do Município.
Essa evasão, alega Haddad, é produzida pela perda de participação do Município de São Paulo na arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), coletado pelo Estado, porque um número crescente de proprietários prefere licenciar seus veículos em municípios vizinhos para, assim, evitar a inspeção veicular, que só é cobrada em São Paulo.
Esse pacto parece fadado ao fracasso. Se os outros prefeitos estão ganhando com a inspeção em São Paulo, não serão eles que farão jogo contra eles. Se é para evitar evasão de arrecadação então é preciso tratar da guerra fiscal, que garante o emplacamento em outros Estados, com o objetivo de pagar um IPVA mais baixo em Minas ou no Paraná. É o caso das locadoras de veículos.
A baixa probabilidade de sucesso desse pacto não tira o mérito da proposta do prefeito Haddad, que é de acabar de uma vez com essa inspeção veicular. A obrigatoriedade do serviço começou em 2008, por iniciativa do prefeito anterior, Gilberto Kassab. No primeiro a no de vigência, alcançou apenas veículos a diesel. Progressivamente, o programa foi-se expandindo para todos os carros licenciados em São Paulo. O argumento do ex-prefeito foi da necessidade de despoluir a cidade e de reduzir doenças e mortes causadas por agressões aos sistemas cardiorrespiratórios das pessoas.
Mais uma história da carochinha. O serviço de inspeção veicular foi montado para dar mais uma fonte de renda, por dentro e por fora, para as autoridades municipais. Se fosse para combater a poluição do ar e os problemas de saúde, a inspeção veicular se concentraria nos veículos mais rodados. Mas, desde o início, o alvo preferencial do programa foram carros relativamente mais novos.
Não faz mesmo sentido submeter a esse tratamento carros que ainda gozam de garantia de fábrica. É um incompreensível ato de desconfiança na capacidade da indústria nacional de fabricar veículos com motor regulado e na capacidade da rede de concessionárias de zelar por essa e outras condições, por ocasião das revisões programadas.
Só faz sentido manter um serviço de inspeção veicular para controle das emissões se for de âmbito nacional. O ex-secretário do Verde e do Meio Ambiente do município Eduardo Jorge calcula que nada menos que 800 mil veículos com placa de outros municípios circulam diariamente sem nenhuma regulação nas ruas da cidade. Por que eles podem e o paulistano, não? (São Paulo tem cerca de 7 milhões de veículos e, desses, apenas 3,8 milhões estão em atividade.)
Além disso, em torno de 25% da atual frota paulistana circula em condições irregulares, sem licenciamento, sem segurança, sem seguro obrigatório e sem pagamento de multas.
Mais importante do que um serviço de checagem de emissão de poluentes seria a aferição (também nacional) das condições de segurança dos veículos. Mais mortes e mais acidentes são produzidos no trânsito por problemas de freio, de amortecedores ineficientes e de estado precário dos pneus do que por emissão de poluentes. E, no entanto, as autoridades não parecem especialmente mobilizadas em resolver o problema.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Energia em questão, por Rodolfo Landim



O ano de 2013 chegou, o mundo não acabou, o temido abismo fiscal americano foi ao menos adiado por alguns meses e o noticiário colocou em voga uma nova grande catástrofe por acontecer, o racionamento de energia elétrica no país.
Em pouco tempo, começamos a receber uma enxurrada de dados estatísticos, opiniões de todos os tipos e feitios as quais no mínimo devem deixar o cidadão comum apreensivo e receoso quanto à seriedade e o profissionalismo com que esse importantíssimo tema vem sendo tratado.
O parque de geração brasileiro foi construído em sua grande maioria a partir de investimentos realizados por companhias estatais. Contudo, antes da virada do século, ocorreram claras dificuldades de manutenção daquele modelo e a crise de abastecimento ocorrida no Brasil em 2001 acabou chegando em meio a um processo de mudanças estruturais no setor elétrico.
Apesar de todo o seu impacto negativo, a crise trouxe o benefício de alertar a sociedade sobre a necessidade de criar um novo modelo, com regras mais claras, de forma a evitar a continuidade das indefinições regulatórias que afastavam potenciais investidores desse setor.
O novo marco regulatório estabelecido trouxe importantes contribuições. Para começar, foram mais bem estabelecidos os mecanismos para a inserção de outros tipos de geração de energia elétrica em uma matriz predominantemente hídrica. Isso foi algo fundamental, dados o caráter emergencial da viabilização de nova capacidade de geração no país e o longo prazo para a implantação dos projetos de hidrelétricas.
Além disso, foi criada a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), de forma a preencher uma lacuna existente no planejamento do setor depois da perda desse papel pela Eletrobras.
Dentro dessa nova estrutura, foram realizados leilões bem-sucedidos para a ampliação do nosso parque de geração buscando o menor custo marginal de energia para o sistema e por meio de concessões com significativa participação privada. Adicionalmente, apesar de as manchetes recentes enfocarem principalmente os atrasos na interligação de um parque de geração eólica no interior do país, o sistema de transmissão foi reforçado.
Isso tornou possível a transferência de uma maior quantidade de energia entre os subsistemas de geração, não só evitando desperdícios como reduzindo o risco de desabastecimento.
Também não parecem ser justas as críticas direcionadas à operação do sistema. O despacho das usinas térmicas, as quais possuem um maior custo de geração, só deve ser ampliado à medida que o risco do desabastecimento cresce.
No limite, seria uma insanidade mandar despachar térmicas jogando água fora pelo vertedouro das hidrelétricas.
Por outro lado, deixar que o nível dos reservatórios fique muito baixo sem autorizar o despacho de térmicas seria um contrassenso. Por essa razão, a operação é conduzida por técnicos com base nos resultados de modelos matemáticos complexos, que vêm sendo aperfeiçoados ao longo dos anos.
Eles levam em consideração uma grande quantidade de variáveis e têm por objetivo otimizar o custo de energia, sempre dentro de uma margem de segurança satisfatória.
As precipitações desde o início do período chuvoso na cabeceira dos rios com os maiores aproveitamentos energéticos foram inferiores à média histórica, o que deflagrou o alarmismo de plantão.
No entanto, o período de maior precipitação ainda está longe do fim, as decisões para evitar o risco de desabastecimento parecem estar sendo tomadas e o nível de garantia de fornecimento futuro de energia vem sendo mantido dentro dos limites tecnicamente aceitáveis.
Assim sendo, melhor seria voltar o foco da sociedade para discussões de problemas estruturais ainda por resolver, a começar pela incompreensível e repetida decisão de praticamente eliminar a presença de barragens nos novos projetos hidrelétricos.
São elas que permitem a regularização da vazão dos rios, a garantia do suprimento às turbinas de geração nos períodos de estiagem e a otimização do potencial gerador das bacias hidrográficas
Rodolfo Landim
Rodolfo Landim, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve às sextas, a cada duas semanas, na versão impressa de "Mercado".

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Metade da comida do mundo vai parar no lixo, diz relatório



Atualizado em  10 de janeiro, 2013 - 10:13 (Brasília) 12:13 GMT
Alimentos jogados no lixo
Promoções nos supermercados e preferências dos consumidores agravaram o problema
Um relatório de uma organização britânica indica que até metade de toda a comida produzida a cada ano no mundo, ou cerca de dois bilhões de toneladas, vai parar no lixo.
O documento, intitulado Global Food; Waste not, Want not ("Alimentos Globais; Não Desperdice, Não Sinta Falta", em tradução livre), diz que o desperdício está ocorrendo devido a uma série de motivos, entre eles as condições inadequadas de armazenamento e a adoção de prazos de validade demasiadamente rigorosos.
Outro problema é a preferência dos consumidores por alimentos com um formato ou cor específicos. O estudo diz que até 30% das frutas, verduras e legumes plantados na Grã-Bretanha sequer são colhidos por causa de sua aparência.
O desperdício de alimentos também implica em desperdício de recursos usados para a produção deles, como água, áreas para agricultura e energia, alertou o relatório publicado pela Institution of Mechanical Engineers, uma organização que representa engenheiros mecânicos e reúne cem mil membros no Reino Unido.

Ofertas nos supermercados

A ONU prevê que até 2075 a população mundial chegue a 9,5 bilhões de pessoas, um acréscimo de 3 bilhões em relação à população atual, o que reforça a necessidade de se adotar uma estratégia para combater o desperdício de alimentos e, assim, tentar evitar o aumento da fome no mundo.
De acordo com o relatório, o equivalente a entre 30% e 50% dos alimentos produzidos no mundo por ano, ou seja, entre 1,2 bilhão e 2 bilhões de toneladas, nunca são ingeridos.
Além disso, nos Estados Unidos e na Europa, metade da comida que é comprada acaba sendo jogada fora.
"A quantidade de comida desperdiçada e perdida no mundo é assombrosa. Isto é comida que poderia ser usada para alimentar a crescente população mundial além de aqueles que atualmente passam fome."
Tim Fox, diretor da Institution of Mechanical Engineers
Tim Fox, diretor de Energia e Meio Ambiente da Institution of Mechanical Engineers, disse que o desperdício é "assombroso". "Isto é comida que poderia ser usada para alimentar a crescente população mundial além de aqueles que atualmente passam fome."
"As razões desta situação variam das técnicas insatisfatórias de engenharia e agricultura à infraestrutura inadequada de transporte e armazenamento, passando pela exigência feita pelos supermercados de que os produtos sejam visualmente perfeitos e pelas promoções de 'compre um, leve outro grátis', que incentivam os consumidores a levar para casa mais do que precisam", disse.

Água

O relatório alertou que atualmente 550 bilhões de metros cúbicos de água estão sendo desperdiçados na produção de alimentos que vão para o lixo.
E o problema pode se agravar. Segundo a Institution of Mechanical Engineers, o consumo de água no mundo chegará a até 13 trilhões de metros cúbicos por ano em 2050 devido ao crescimento da demanda para produção de alimentos.
Isso representa até 3,5 vezes o total de água consumido atualmente pela humanidade e gera o temor de mais escassez do recurso no futuro.
O alto consumo de carne tem grande influência nesse aumento de demanda, visto que a produção de carne exige mais água do que a produção de alimentos vegetais.
"À medida que água, terra e energia passam a ser mais disputados devido à demanda da humanidade, os engenheiros tem um papel crucial a desempenhar no sentido de prevenir a perda e o desperdício de alimentos, desenvolvendo formas mais eficientes de produção, transporte e armazenamento", disse Fox.