sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Energia em questão, por Rodolfo Landim



O ano de 2013 chegou, o mundo não acabou, o temido abismo fiscal americano foi ao menos adiado por alguns meses e o noticiário colocou em voga uma nova grande catástrofe por acontecer, o racionamento de energia elétrica no país.
Em pouco tempo, começamos a receber uma enxurrada de dados estatísticos, opiniões de todos os tipos e feitios as quais no mínimo devem deixar o cidadão comum apreensivo e receoso quanto à seriedade e o profissionalismo com que esse importantíssimo tema vem sendo tratado.
O parque de geração brasileiro foi construído em sua grande maioria a partir de investimentos realizados por companhias estatais. Contudo, antes da virada do século, ocorreram claras dificuldades de manutenção daquele modelo e a crise de abastecimento ocorrida no Brasil em 2001 acabou chegando em meio a um processo de mudanças estruturais no setor elétrico.
Apesar de todo o seu impacto negativo, a crise trouxe o benefício de alertar a sociedade sobre a necessidade de criar um novo modelo, com regras mais claras, de forma a evitar a continuidade das indefinições regulatórias que afastavam potenciais investidores desse setor.
O novo marco regulatório estabelecido trouxe importantes contribuições. Para começar, foram mais bem estabelecidos os mecanismos para a inserção de outros tipos de geração de energia elétrica em uma matriz predominantemente hídrica. Isso foi algo fundamental, dados o caráter emergencial da viabilização de nova capacidade de geração no país e o longo prazo para a implantação dos projetos de hidrelétricas.
Além disso, foi criada a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), de forma a preencher uma lacuna existente no planejamento do setor depois da perda desse papel pela Eletrobras.
Dentro dessa nova estrutura, foram realizados leilões bem-sucedidos para a ampliação do nosso parque de geração buscando o menor custo marginal de energia para o sistema e por meio de concessões com significativa participação privada. Adicionalmente, apesar de as manchetes recentes enfocarem principalmente os atrasos na interligação de um parque de geração eólica no interior do país, o sistema de transmissão foi reforçado.
Isso tornou possível a transferência de uma maior quantidade de energia entre os subsistemas de geração, não só evitando desperdícios como reduzindo o risco de desabastecimento.
Também não parecem ser justas as críticas direcionadas à operação do sistema. O despacho das usinas térmicas, as quais possuem um maior custo de geração, só deve ser ampliado à medida que o risco do desabastecimento cresce.
No limite, seria uma insanidade mandar despachar térmicas jogando água fora pelo vertedouro das hidrelétricas.
Por outro lado, deixar que o nível dos reservatórios fique muito baixo sem autorizar o despacho de térmicas seria um contrassenso. Por essa razão, a operação é conduzida por técnicos com base nos resultados de modelos matemáticos complexos, que vêm sendo aperfeiçoados ao longo dos anos.
Eles levam em consideração uma grande quantidade de variáveis e têm por objetivo otimizar o custo de energia, sempre dentro de uma margem de segurança satisfatória.
As precipitações desde o início do período chuvoso na cabeceira dos rios com os maiores aproveitamentos energéticos foram inferiores à média histórica, o que deflagrou o alarmismo de plantão.
No entanto, o período de maior precipitação ainda está longe do fim, as decisões para evitar o risco de desabastecimento parecem estar sendo tomadas e o nível de garantia de fornecimento futuro de energia vem sendo mantido dentro dos limites tecnicamente aceitáveis.
Assim sendo, melhor seria voltar o foco da sociedade para discussões de problemas estruturais ainda por resolver, a começar pela incompreensível e repetida decisão de praticamente eliminar a presença de barragens nos novos projetos hidrelétricos.
São elas que permitem a regularização da vazão dos rios, a garantia do suprimento às turbinas de geração nos períodos de estiagem e a otimização do potencial gerador das bacias hidrográficas
Rodolfo Landim
Rodolfo Landim, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve às sextas, a cada duas semanas, na versão impressa de "Mercado".

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