Há cerca de dez dias, a atriz Sydney Chandler iria participar de um vídeo e uma sessão de fotos para a prestigiada revista Variety. Ela é a estrela de "Alien: Earth", a primeira série da franquia "Alien", que estreia dia 12 no Disney+.
Mas a estrela de 29 anos cancelou a participação em cima da hora, enfurecendo o repórter da revista. O episódio levantou a questão: será que estamos cancelando nossos compromissos, encontros com amigos e dates em cima da hora com cada vez mais naturalidade, sem nos preocuparmos com as pessoas em que damos o cano?
O caso de Sydney, uma jovem atriz que recebeu a honrosa missão de continuar o legado de Sigourney Weaver na franquia do cinema, causou um choque porque ela se recusou a ir a compromissos considerados normais entre os artistas de Hollywood e do streaming. O repórter abre a matéria narrando o vaivém desgastante entre a equipe da estrela e a revista.
Primeiro, seu agente mandou uma mensagem ao repórter dizendo: "Ela está a caminho". Dez minutos depois, seu assessor de imprensa escreveu outra coisa: "Não. Ela não vai. Acabei de falar com ela. Seu consultor de moda e seu maquiador não estão respondendo. Ela também está muito doente". Difícil engolir a desculpa.
Não me parece que Sydney está sozinha. Com a hiper conectividade dos dias de hoje, cancelar um compromisso profissional, um barzinho com os amigos ou um date de aplicativo parece cada vez mais comum. "Ah, ele é muito meu amigo e não vai ligar. Aliás, ele mesmo fez isso outro dia". "Ah, era só um date... A gente nem se conhecia pessoalmente ainda. E além do mais, quais as chances de ser bom?" OK, mas então por que você marcou?
Existe ainda todo um cardápio de desculpas consagradas e bem aceitas, ao menos entre nós brasileiros. Está muito frio. A academia hoje me quebrou demais. Eu até queria ir, mas a idade pesou hoje, foi mal. Hoje a Raquel vai rasgar o vestido de noiva da Maria de Fátima em "Vale Tudo". (Como noveleiro, nem tenho argumento para rebater este último).
Morei cinco anos no Rio de Janeiro, onde os compromissos costumam ser, digamos assim, um pouco mais fluidos do que em São Paulo. Uma vez, marquei um cinema no sábado às 20h com um amigo. Às 19h55, eu o esperava na entrada do cinema, convencido de que ele só estava um pouco atrasado.
De repente, recebo sua mensagem no zap: "Amigo, não vou conseguir ir. Foi mal". Ainda dei a chance de ele me dar aquela desculpa social, ainda que naturalmente falsa: uma dor de barriga, uma enxaqueca, cachorro passando mal. Recebi um sincericídio: "Deu preguiça de cinema hoje. Vou ficar quietinho em casa mesmo. Bom filme aí". Lembrando: isso tudo cinco minutos antes de o filme começar.
Mas não vou ficar aqui só pagando de vítima do cancelamento –não aquele mais cruel e definitivo das redes, mas aquele real e literal, que aborta um encontro ou evento. Também tenho minha cota de cancelamentos em cima da hora, e peço sinceras desculpas aos amigos afetados. Talvez seja a hora de promover uma campanha por mais responsabilidade afetiva, por um mundo com menos gente tomando cano, bolo ou chá de cadeira.
Quem sabe não podemos sugerir ao nosso Congresso toda uma legislação anti-cano. A nova lei traria uma tabela com os prazos máximos de cancelamento permitidos. As infrações estariam sujeitas a multa: cinema, teatro, shows e eventos culturais seriam canceláveis até no máximo dois dias antes; aniversários, até uma semana antes; casamentos, até um mês antes; dates por aplicativo, até um dia antes; e um máximo de três cancelamentos por ano, sob pena de azar no amor por período indeterminado.
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