domingo, 24 de agosto de 2025

Julgamento de Bolsonaro trará novidades, Elio Gaspari- FSP

 

Agosto começará em setembro, com o julgamento de Jair Bolsonaro e do estado-maior da trama golpista de 2022/23. Correndo por fora, poderá vir o início dos trabalhos da CPI da roubalheira dos aposentados.

A divulgação, pela Polícia Federal, de diálogos e documentos dos Bolsonaro apimentou o caso, trazendo para o debate a trama que influenciou o comportamento do governo de Donald Trump. No dia 9 de julho, ele exigiu que o processo contra o ex-presidente fosse extinto "IMEDIATAMENTE" (ênfase dele). Foram palavras ao vento, desmoralizadas pela revelação dos diálogos do deputado Eduardo Bolsonaro com seu pai.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixa o hospital DF Star, onde foi realizar exames. Apoiadores foram ao local para apoiar Bolsonaro - Pedro Ladeira/Folhapress

A diplomacia destrambelhada de Trump e de Marco Rubio, seu secretário de Estado, entrou num beco com poucas saídas. A tese segundo a qual o Brasil desrespeita os direitos humanos de seus cidadãos não fica em pé, mesmo para advogados americanos. O deputado Jim McGovern, autor da Lei Magnitsky, usada para sancionar o ministro Alexandre de Moraesclassificou o gesto de "vergonhoso".

Depois de uma condenação de Bolsonaro, uma eventual persistência de Trump carregará um peso adicional. O Brasil nunca teve um contencioso de tão baixa qualidade com os Estados Unidos, capaz de contaminar outros itens da agenda da Casa Branca.

Falando em nome do governo americano (sem mandato para isso), Bolsonaro disse a Silas Malafaia: "Se não começar votando a anistia não tem negociação sobre tarifa". Referia-se à própria anistia. Seu filho, acampado em Washington, era mais cauteloso, tremendo que uma "anistia light" deixasse o pai de fora e desarticulasse duas armações.

Quem acompanha essa crise tem um palpite. Depois da condenação de Bolsonaro e seu estado-maior golpista, o Congresso poderá aprovar a "anistia light" temida pelo deputado.

Tratando da divulgação, pela Polícia Federal, das conversas de Eduardo Bolsonaro com seu pai, o governador de São PauloTarcísio de Freitas, reclamou, perguntando "onde o Brasil vai parar" com esse tipo de conduta (da PF).

Errou o alvo. Deveria ter perguntado a que ponto se chegou com um deputado tratando de assuntos de Estado com linguagem de gafieira com um ex-presidente da República.

Tarcísio precisa calcular até onde levará sua gratidão a Bolsonaro.

O governador Tarcisio de Freitas (Republicanos) no palco da Igreja Lagoinha durante evento em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

A ASTÚCIA DE BRAGA NETTO

O general Walter Braga Netto chegou à quarta estrela e ocupou o Ministério da Defesa. Com tamanho desempenho, seria o caso de pensar que soubesse cuidar da sua segurança.

No dia 9 de fevereiro de 2024, quando Alexandre de Moraes havia proibido que os dois se comunicassem. O general da reserva mandou a seguinte mensagem a Bolsonaro:

"Estou com este número pré pago para qualquer emergência. Não tem zap."

Esperto, Braga Netto desconsiderou a possibilidade da apreensão do celular de Bolsonaro.

Ex-interventor na segurança do Rio de Janeiro, o general não aprendeu nada.

Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul, deixou o PSDB e se aninhou no PP.

homem de azul ao centro do palco com pessoas; ao lado, mulher de branco fala ao microfone
Eduardo Riedel, então no PSDB, durante campanha ao Governo de Mato Grosso do Sul, ao lado da ex-ministra Tereza Cristina (PP) - Eduardo Riedel no Facebook

O partido de Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas, exauriu-se. Acabou-se muito mais pelas suas virtudes do que pelos defeitos. No seu esplendor, teve 1,3 milhão de filiados e oito governadores, inclusive os de São Paulo e Minas Gerais.

Quando for escrita a história deste período, vai-se descobrir que ele foi uma fracassada tentativa de exercício do poder pelos social-democratas. O que vinha a ser esse poder, não se sabe direito. Sabe-se, contudo, que o ocaso dos tucanos coincide com uma polarização pobre, pedestre e primitiva.

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