Confrontos produtivos de ideias e o avanço da ciência podem ocorrer mesmo em ambientes ideologicamente carregados. Um bom exemplo disso é o debate "nature vs. nurture" (natureza contra criação).
Até um par de décadas atrás, a contenda servia como teste ideológico. Quem afirmasse que genes eram importantes para definir as características de uma pessoa era considerado de direita. O pessoal da esquerda defendia que eram variáveis ambientais, como alimentação, educação etc., que explicavam o indivíduo.
Apesar do ruído de fundo, a discussão racional não parou e vai surgindo um novo consenso: genes e ambiente são ambos importantes e também são inextrincáveis. Genes influem em qual ambiente uma pessoa escolherá viver e ambientes influem sobre quais serão as características genéricas que favorecerão (ou prejudicarão) uma pessoa.
"The Social Genome", de Dalton Conley, é mais um bom livro que tenta mostrar como ocorre essa complexa dança entre genes e ambiente, entre nature e nurture.
O autor começa na genética molecular, mais especificamente nos PGIs, os índices poligênicos, que permitem estimar predisposições genéticas para certos traços ou doenças, e os utiliza como ferramenta para reanalisar categorias sociológicas, como nível de instrução, classe social, expectativa de vida etc.
Uma das chaves explicativas do livro é a noção de homofilia, que é a tendência das pessoas de procurarem seus semelhantes. Se você gosta de estudar, se associará, na escola, a um grupo de colegas que também goste de estudar, o que provavelmente exacerbará sua predisposição inicial para o estudo. Isso vale não só para estudo, mas para várias outras características, incluindo hábito de fumar, peso corporal etc., que impactam sobre outras características, como renda, saúde e por aí vai.
Um dos achados intrigantes e contraintuitivos que Conley mostra no livro é que amigos têm entre si maior similaridade genética do que com indivíduos escolhidos ao acaso. É como se fossem pelo menos primos em quarto grau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário