Descontraída manifestação contra novos prédios em Higienópolis
Café da manhã reúne cerca de 50 pessoas em frente a casarão na rua Itacolomi
Moradores de Higienópolis fizeram, sábado (2), uma descontraída manifestação contra a construção de dois arranha-céus, um de alto padrão e um de studios, em torno de um casarão centenário tombado na esquina das ruas Piauí e Itacolomi. Foi um café da manhã que reuniu cerca de 50 pessoas e não veio acompanhado de qualquer passeata ou gritaria, mas de muita conversa e conteúdo esclarecedor.
Os manifestantes estão inconformados com o empreendimento imobiliário, chamado Casa Piauí, das construtoras MPD e Helbor que vai ocupar um terreno onde outrora havia o jardim do casarão, que pertenceu à família do ex-presidente Rodrigues Alves e também abrigou o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e a Polícia Federal.
O que se alega é que não basta preservar só a antiga construção, que foi restaurada para virar um estande de vendas e, posteriormente um restaurante, mas também seu entorno.
O arquiteto Claiton de Paula, um dos diretores da Appit (Associação dos Proprietários, Protetores e Usuários de Imóveis Tombados) e membro do comitê coordenador do coletivo Pró-Higienópolis, afirma que além do objetivo específico de impedir que os prédios sejam erguidos, o café da manhã visa articular a população local e discutir problemas que afetam toda a cidade.
A Appit fez uma representação junto ao Ministério Público e pede a investigação e a apuração de uma possível aprovação irregular de uma obra que coloca em risco um bem cultural tombado.
O que se busca é que a legislação de preservação do patrimônio histórico estabelecida na ZEPEC (Zona Especial de Preservação Cultural) prevaleça sobre as normas de adensamento urbano da ZEU (Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana), que libera a verticalização.
Procuradas, a MPD Engenharia e a Helbor afirmam que "o empreendimento Casa Piauí segue em total conformidade com a legislação vigente e com o Plano Diretor da cidade" e que "reforçam seu compromisso com a população e com a preservação do patrimônio público". Dizem também que o projeto foi aprovado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).
"Estamos fazendo esses cafés da manhã todos os meses para criar uma associação de moradores. A gente quer difundir informação, promover o debate e criar vínculos com a vizinhança", afirma. "A associação que existia foi desativada há 15 anos e temos mantido esses encontros com um grupo crescente de pessoas para formarmos uma nova."
Na visão desse grupo de moradores de Higienópolis, o empreendimento é inadequado para o bairro, que já é o mais verticalizado de São Paulo, com maior densidade populacional da cidade —23 mil habitantes por quilômetro quadrado — e carece de áreas verdes. O único parque do bairro é o Buenos Aires. Além disso, Higienópolis já tem 95% de seus terrenos verticalizados e da paisagem do passado restaram apenas 20 casarões, 15 deles tombados.
A administradora de empresas Ana Clara Rebelo, que participou do café da manhã, diz que há mais ou menos um ano, quando começou o restauro do casarão, foi consultar o processo na Prefeitura para tentar entender o que ia acontecer no terreno.
"Aí começou a minha indignação: a gente tem um patrimônio tombado, uma casa com esse terreno e vão construir dois prédios enormes nesse quintal. Por que acabar com o entorno do imóvel?", questiona. "Não sou contra prédios, inclusive moro em um deles, mas acho que há coisas que precisam ser preservadas."
Higienópolis é um dos bairros mais antigos da cidade e um dos primeiros planejados. Sua urbanização começou em 1890. Por causa dos grandes terrenos passou a ser verticalizado em 1935, quando a família Matarazzo construiu um prédio na esquina da rua Piauí com a avenida Angélica.
"Esses casarões tombados precisam ser preservados. Não só sua arquitetura, mas também a ambiência", diz de Paula. "É importante que sejam mantidos em sua integridade." A ideia é que a legislação seja cumprida e se conservem os poucos espaços livres que restam no bairro.
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