segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Entidades querem tombamento do trólebus Machadão, FSP

 Vicente Vilardaga

São Paulo

Alguns elementos da paisagem urbana estão grudados na memória da população paulistana. Um deles é o trólebus, veículo conectado à rede de eletricidade por via aérea que roda em São Paulo desde 1949.

Ainda há 200 circulando na cidade (já foram 500), mas, tudo indica, que eles desaparecerão completamente das ruas em pouco tempo, substituídos por ônibus elétricos a bateria. Desde 2023, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) diz que quer acabar com eles. A Ambiental Transportes, empresa que os opera, vai na mesma direção.

A prova da seriedade dessa intenção é que a mais antiga linha de trólebus, a 408A/10, que liga a rua Machado de Assis, na Aclimação, à rua Cardoso de Almeida, em Perdizes, e é apelidada de Machadão, já passou pela mudança.

Trólebus Machadão
Modelo de trólebus que circulava até duas semanas atrás na linha 408A/10, apelidada de Machadão - Vicente Vilardaga

A empresa Ambiental fez o pedido à SPTrans para trocar os veículos que circulam pela linha. E a troca foi feita. De duas semanas para cá todos os ônibus que fazem o percurso são elétricos da cor verde.

A linha tem importância histórica, pelo seu pioneirismo, e afetiva, dada por pessoas que a utilizam há décadas. É considerada também a mais cênica da cidade, por passar em vários pontos turísticos, como o edifício Itália, a avenida São Luís, a praça João Mendes e o Pátio do Colégio. Além do mais, seus ônibus não são poluentes.

Diante disso, alguns moradores de Perdizes e entidades como o Movimento de Defesa do Trólebus e o Respira São Paulo e querem pedir o tombamento da linha, como uma forma de preservar o passado do transporte na cidade. O que está acontecendo com os trólebus é o mesmo que aconteceu com os bondes a partir da década de 1940.

"O que nos surpreendeu foi a Ambiental ter escolhido justamente a primeira linha de trólebus do país para começar a fazer a substituição", diz Fábio Klein, presidente do Movimento de Defesa do Trólebus. "Estão sendo tirados de circulação veículos que já se mostraram altamente eficientes ao longo da história. Isto não deveria acontecer."

A imagem mostra dois ônibus de cor verde, estacionados em uma área aberta. Um dos ônibus tem a inscrição 'ÔNIBUS 100% ELÉTRICO' em destaque, enquanto o outro exibe a frase 'ÔNIBUS MOVIDO A BATERIA - AR MAIS PURO'. Ambos os ônibus possuem portas abertas e estão posicionados em um ângulo que permite ver parte de suas laterais. O céu está nublado ao fundo.
Ônibus a bateria vão substituir os trólebus e os veículos a diesel e dominar a frota da cidade - Adriano Vizoni/Folhapress

Jorge Françozo, do Respira São Paulo, diz que o movimento reivindica que a linha volte a operar com trólebus porque ela é um patrimônio histórico, toda a rede aérea foi renovada e os veículos ainda têm 11 anos em média e longa vida útil.

"Ela não pode ser desativada. Seria um desperdício de dinheiro público", diz. "A nossa ideia é que os trólebus continuem operando e quando eles tiverem que ser trocados nos próximos anos, que seja por novos trólebus que também têm uma bateria, chamados de e-Trol."

A Amora (Associação do Moradores e Amigos de Perdizes) estuda participar da discussão do tombamento, já que os trólebus do Machadão fazem parte da tradição da região e devem ser considerados patrimônio histórico.

A Amora lança, no dia 30 de agosto, o movimento Preserva Perdizes, para conscientizar a população sobre as mudanças no bairro, como a rápida verticalização e a chegada do metrô. O destino da linha 408A/10 pode ser um de seus temas.

Participantes da Jornada do Patrimônio
Cerca de 60 pessoas participaram do passeio de trólebus entre os bairros de Perdizes e Aclimação - Georgia Ayrosa

Neste domingo (17) circulou aquele que talvez seja o último trólebus do Machadão. Foi uma movimentação atípica e especial.

A Ambiental pôs um veículo vermelho em circulação para transportar os participantes de um evento da Jornada do Patrimônio, promovida pela Prefeitura. Foi uma visita guiada, com cerca de 60 participantes, que cumpriu o percurso de ida e volta do ônibus mostrando os elementos mais relevantes de sua paisagem.

"Mais uma vez, o trólebus ficou lotado", diz Maria Luiza Paiva, idealizadora e organizadora do evento. "A terceira edição do passeio mostrou que a população da cidade tem um grande interesse pela linha e se preocupa com o seu futuro."

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