quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Atraso bem-vindo nas escolas cívico-militares, editorial FSP

 Tarcísio de Freitas (Republicanos) já conseguiu se livrar de alguns ranços ideológicos de seu padrinho político, Jair Bolsonaro (PL). No caso das câmeras corporais usadas por agentes da Polícia Militar, passou de crítico a apoiador.

Na educação, porém, o governador de São Paulo insiste nas escolas cívico-militares —promessa feita à base bolsonarista.

Devido a atrasos na seleção dos policiais aposentados e a ações na Justiça, o modelo, que deveria entrar em vigor neste semestre, talvez só seja adotado em 2026. Espera-se que esse adiamento possa contribuir para uma reavaliação que leve ao abandono de uma iniciativa educacional desprovida de evidências de melhoria em aprendizagem.

Segundo o plano, serão contratados 208 policiais para atuar como monitores em projetos de ética, cidadania e civismo, além de cuidar de aspectos disciplinares, como entoação de hinos e uso de uniformes pelos alunos.

Pela tarefa, cada agente receberá R$ 301,70 por dia, o que pode render até R$ 6.000 mensais, caso a carga máxima de 40 horas seja cumprida. O gasto estimado pelo governo paulista é de cerca de R$ 7,2 milhões.

Não há solução mágica para eliminar os gargalos na educação. Escolas militares de fato têm notas superiores, mas isso não se deve à disciplina da caserna, e sim a verbas maiores e a um rígido processo seletivo de estudantes.

De mais de 5.500 escolas da rede de ensino, só 302 se interessaram pelo programa e 132 receberam aval da comunidade. A Secretaria de Educação do estado selecionou 100 unidades.

O problema é que, como revelou a Folhaapenas 22 delas não alcançaram as médias estaduais do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mais recente, relativas a 2023, para o 9º ano do ensino fundamental (5,1) e o ensino médio (4,2) —enquanto o plano da gestão Tarcísio, em fevereiro de 2024, era implantar o modelo em escolas com baixo desempenho no Ideb.

Além disso, 90 atendem alunos de nível socioeconômico médio alto, de acordo com critérios do Ministério da Educação (MEC).

O estado mais poderoso do país ainda não conseguiu superar o impacto da pandemia no ensino, enquanto outros mais pobres já o fizeram. Em 2019, as referidas pontuações do Ideb foram de 5,3 e 4,2, respectivamente.

É preciso abandonar crendices e bandeiras ideológicas e expandir iniciativas que têm aporte em dados técnicos, como o ensino integral, as mudanças exigidas pela reforma do ensino médio e a educação profissionalizante.

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