domingo, 24 de agosto de 2025

Marcos de Vasconcellos - Entre Trump e Powell, a Bolsa escolheu o segundo, FSP

 Pela leitura das notícias, a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos foi tratada por Eduardo Bolsonaro como a bala de prata para tirar a tornozeleira do pai, o ex-presidente, atualmente inelegível, Jair Messias. A novidade sufocaria a economia e minaria a popularidade de Lula, permitindo ao deputado federal em terras estrangeiras indicar a si próprio como salvador.

Não se sabe o real crédito de Eduardo na guerra tarifária de Trump. Pelas mensagens enviadas ao pai, seria grande. Pelas publicações em suas redes sociais, seria insignificante. O efeito político imediato foi no sentido contrário. Lula ganhou popularidade ao comprar briga. Na economia, a Bolsa —um de seus termômetros— indica que os investidores já não dão tanta importância ao caso.

Em julho e agosto, com o anúncio do tarifaço e a carta de Donald Trump tentando interferir no julgamento do Bolsonaro, o Ibovespa, principal indicador da nossa Bolsa, sofreu uma sequência de quedas. Bastou, no entanto, uma fala de Jerome Powell, presidente do Fed (banco central dos EUA), nesta sexta-feira (22) para o índice voltar aos 137 mil pontos, acima do que estava no fatídico 10 de julho, quando o presidente dos EUA mirou os canhões do "tarifaço" contra o Brasil.

A imagem mostra duas pessoas em um ambiente de construção. À esquerda, um homem com cabelo claro, usando um terno escuro e uma gravata rosa. À direita, um homem com cabelo grisalho, vestido com um terno escuro e segurando um capacete branco. O fundo apresenta estruturas de madeira e tubulações expostas, sugerindo que o local está em reforma.
Presidente dos EUA, Donald Trump, e chair do Fed, Jerome Powell, durante tour pelo prédio do banco central americano - Kent Nishimura - 24.jul.25/Reuters

É claro que o mundo é complexo e não há só uma explicação para cada queda ou alta. Como se diz no mercado financeiro: "caiu porque venderam, subiu porque compraram". E aí é importantíssimo lembrar que quem compra e vende volumes com o poder de movimentar a Bolsa inteira são os grandes fundos estrangeiros.

Nesse ponto, não adianta tentar se orientar pelo humor dos vizinhos do condomínio, o que eles acham do mercado, do governo ou das tarifas. Quando Powell dá a entender que há espaço para cortar juros nos Estados Unidos em setembro, os gestores de fortunas olham para o tabuleiro e pensam que dá para assumir um risco a mais em mercados emergentes, como o nosso.

Se você tratar o mercado como ente soberano, que define os preços de acordo com os riscos e retornos esperados, a opinião política deveria ser a última coisa a ser considerada ao decidir sobre seus investimentos. Neste ano, o Ibovespa subiu 14,5%. Desde janeiro de 2023, no início do terceiro mandato de Lula, a alta foi de quase 30%. Mesmo com a taxa de juros (tradicional detratora da Bolsa) em níveis alarmantes.

De janeiro a agosto, os estrangeiros aplicaram R$ 20,6 bilhões na Bolsa brasileira. Isso está acima do valor do aporte anual dos gringos em 5 dos últimos 9 anos, diz estudo da empresa Quantum.

Isso aconteceu ao mesmo tempo em que as apostas nas quedas dos preços das ações dispararam. O aluguel de ações aumentou 42% no primeiro semestre, movimentando R$ 138 bilhões, segundo o jornal Valor Econômico. Você aluga ações basicamente para fazer vendas a descoberto, lucrando na queda do papel. O salto se deu, principalmente, pelo aumento da participação do investidor pessoa física, diz o jornal.

Enquanto o investidor brasileiro parece se orientar pelas manchetes com Trump, Bolsonaro e Lula, os donos do dinheiro dão atenção aos sinais de Jerome Powell, cuja caneta aponta os caminhos da grana do mundo.


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