Imagine se do dia para a noite a Vale simplesmente desaparecesse. A mineradora está avaliada em algo como US$ 37 bilhões (R$ 224 bilhões). Esse número é similar ao valor estimado da operação do TikTok nos Estados Unidos (algo como US$ 40 bilhões, ou R$ 242 bilhões). O aplicativo acaba de deixar de funcionar no país. É como se a Vale evaporasse do dia para a noite.
O dano indireto também é grande. Há milhões de pessoas que precisam do TikTok para conseguir fechar as contas do mês nos EUA. Como em se tratando de internet o vácuo não existe, outras plataformas vão acabar se beneficiando com os refugiados do TikTok: Instagram e Youtube Shorts sendo os principais.
Mas há outras menos óbvias que estão também ganhando usuários. Dentre elas o XiaoHongShu, que foi alçado ao primeiro lugar de aplicativos mais baixados na loja da Apple. E o Lemon8, que foi para a segunda posição.
Ambos os aplicativos são chineses. A imprensa tem relatado momentos de epifania com o XiaoHongShu, que já angariou cerca de 1 milhão de usuários dos EUA. Usuários dos EUA conversando com usuários chineses e se emocionando. É curioso porque o aplicativo está todo em chinês. Com o sucesso inesperado não deu tempo nem de providenciar uma versão em outra língua.
Baixei o app para ver como funciona e se os brasileiros, novidadeiros que somos, já estão na área. Uma primeira diferença com o TikTok é que ele pergunta na saída quais são seus conteúdos de interesse. Há linhas editoriais pré-definidas: viagem, gastronomia, cinema e assim por diante.
O segundo ponto é que tal como no TikTok o número de seguidores é irrelevante para o potencial de viralização. Se alguém posta algo que tem apelo, o conteúdo pode ser mostrado para milhões de pessoas, mesmo que a conta tenha poucos seguidores.
Há também uma aba para visualizar conteúdo de pessoas que estão perto da sua localização. Fui nela para tentar entender a presença brasileira. E o resultado é: muito poucos. Uma moça chamada Ericka escrevendo uma mistura de chinês e português, postando um vídeo na praia. Uma turista chinesa com a camisa do São Paulo. Uma brasileira fazendo cosplay e escrevendo em mandarim. Um grupo visitando o Masp. O território parece ainda virgem para ser conquistado pelo verde e amarelo.
O Xiaohongshu é controlado pela empresa Xingin com sede em Xangai, que tem como investidores o Alibaba e o fundo GGV. Já o Lemon8, que é mais parecido com o Instagram, foi lançado nos EUA em 2023 e é da ByteDance, a mesma dona do TikTok. O aplicativo é mais focado em estilo de vida. Lembra um pouco o que era o Instagram antes dele copiar o modelo do TikTok.
O que acontecerá com esses aplicativos? A mesma lei que baniu o TikTok, chamada PAFACA (Protegendo Americanos Contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros) dá autoridade ao presidente dos EUA para banir aplicações de qualquer país considerado como adversário (essa lista inclui hoje China, Rússia, Coreia do Norte e Irã).
A Suprema Corte dos EUA manteve a validade da lei, com o argumento de que a segurança nacional se sobrepõe à Primeira Emenda (que garante liberdade de expressão). Com isso, o poder de fazer desaparecer "Vales" continua pleno. Aguardemos os próximos capítulos.
Já era – Uma internet global
Já é – Uma internet fraturada, em que cada país cria suas próprias barreiras
Já vem – Conflitos geopolíticos se intensificando por causa da rede
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