A economia tem uma lei, a da oferta e da procura, pela qual, se alguém tem um produto que poucas pessoas querem comprar pelo preço pedido, ou o tem numa quantidade maior do que o número de interessados àquele preço, ele deve reduzir esse preço. Sinal de que estaria cobrando acima do razoável para se remunerar, mesmo que seja algo essencial, como roupa, pão, água e moradia. Isso do lado da oferta.
Do lado da procura, se alguém tem um produto que muitas pessoas querem comprar pelo preço pedido, ou o tem numa quantidade menor do que o número de interessados àquele preço, ou, ainda, se um pequeno número de pessoas está ávido por comprá-lo, ele pode subir seu preço, ainda que acima do razoável para se remunerar, e mesmo que seja algo essencial, como roupa, pão, água e moradia.
A maioria pobre da população, na sua precariedade teórica e alimentar, quando se põe a debater epistemologia, conceitua tal imperativo como ganância.
Segundo outro axioma econômico, se todos os indivíduos exercerem de forma absolutamente livre suas atividades (o ofício de padeiro é um dos citados), buscando satisfazer unicamente seu próprio interesse, sem pensar em mais ninguém, eles produzirão o bem comum, gerando bem-estar material para a sociedade e a riqueza das nações.
A população pobre reflete se tal postulado é uma doxa ou conhecimento científico —e acaba se dividindo, a partir da própria palavra grega doxa, em ortodoxos e heterodoxos.
Os primeiros creem que, desde que um modelo matemático, isolado em laboratório, comprove a premissa teórica, não importa que ela não se verifique na realidade, e a miséria do entorno vira uma sombra na caverna.
Os segundos, sentindo o mal-estar que eles, pobres, como maior parte da sociedade, sofrem, acham que os ortodoxos estão adotando apenas a parte do axioma pela qual eles mesmos devem exercer de forma totalmente livre suas atividades para satisfazer unicamente seus interesses.
Um dos maltrapilhos lembra que esse axioma contraria uma teoria anterior, que diz que os indivíduos, se deixados livres para fazer o que quiserem, acabarão, dada a escassez de recursos, num estado de guerra de todos contra todos, e que por isso é preciso haver uma autoridade que regule as atividades humanas, garanta a paz e o desenvolvimento.
Nesse ponto há um aprofundamento da discussão fenomenológica e alguns dos miseráveis propugnam por um acordo geral para criar tal autoridade (inexistente para eles), de modo a coibir a ganância e prover melhorias materiais; porém surgem correntes que contestam, dizendo que isso é repressão econômica, política e psicológica, ao que outras replicam afirmando, propedeuticamente, que sem repressão não há civilização.
Mas a essa hora, já acalorados, os pobres, todos com fome e sono, interrompem os debates e se dispersam, indo à busca de algo para comer e um lugar para dormir.
Alguns encontram um sopão e um abrigo. Outros não, e roncam os pulmões e o estômago nas calçadas. São poucos, de melhor sorte, os que conseguem uns trocados nos sinais, o que é cada vez mais difícil com o Pix, e se dirigem à primeira padaria.
Mas o preço do pão está acima da sua capacidade de pagamento. E, se eles, com seu dinheiro engruvinhado, insistirem muito, o preço subirá mais um pouco.
É a lei.
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