quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Eles têm milhões em ativos e alta renda, mas planejam morrer sem ter nada no banco; entenda, OESP

 Por Eleanor Pringle (Fortune)

Bilionários como Warren Buffett e Steve Jobs deixaram claro que suas enormes fortunas não serão passadas para seus filhos. Em vez disso, muitos, incluindo Bill Gates, escolheram gastar seu dinheiro em filantropia durante suas vidas.

Mas integrantes de todos os espectros de riqueza estão adotando cada vez mais a mesma ideia — muitos tentam gastar ou doar todo o seu dinheiro antes de morrer, em vez de deixá-lo para que filhos, familiares ou amigos herdem. O plano deles é “morrer com zero” — ter absolutamente nada em suas contas bancárias quando estiverem em seu leito de morte.

Ideia do 'Die with Zero' ganha força nos EUA
Ideia do 'Die with Zero' ganha força nos EUA Foto: S.../Adobe Stock

É uma ideia que ganhou força nos últimos anos, impulsionada pelo lançamento de Die with Zero, um best-seller do Wall Street Journal escrito por Bill Perkins. Para alguns, morrer com zero não está apenas mudando suas vidas, mas também a das pessoas para quem estão doando seus bens. Para outros, é uma ideia em princípio interessante que se torna impossível na velhice.

‘Faça o bem agora — não espere até estar morto’

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Elena Nuñez Cooper planeja doar milhões de dólares ao longo de sua vida para causas beneficentes — e ensinar qualquer filho que venha a ter no futuro a fazer o mesmo.

A fundadora de 32 anos da Ascend PR, empresa com sede em Chicago que também atua como assessoria para escritórios de família, disse que viu muitos conflitos familiares surgirem de negociações sobre dinheiro através de seu trabalho. É uma dinâmica da qual ela está ansiosa para se manter afastada.

“Isso me perturba”, disse. “É triste quando você tem segmentos inteiros da família que não se falam por causa de dinheiro. Quero eliminar qualquer animosidade à medida que (meu marido e eu) gastamos.”

“Meus avós nos contaram quanto vamos herdar, mas no fundo da sua mente você pensa: ‘Eu não preciso disso, não me importo com isso’. Sou uma pessoa relacional e me importo muito com meus relacionamentos.”

Uma abordagem de morrer com zero ou gastar significa que Nuñez Cooper e seu marido — que compartilham US$ 4 milhões em patrimônio pessoal — podem estabelecer um conjunto mais “flexível” de metas financeiras, desde presentear amigos recém-casados com uma bela lua de mel até planejar tirar um ano de folga quando tiverem filhos.

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Embora atualmente Nuñez Cooper doe milhares de dólares através de seu fundo beneficente, ela planeja aumentar isso para sete dígitos em seus 40, 50 e 60 anos.

“Acredito que a quem muito é dado, muito é esperado”, adicionou Nuñez Cooper — que escolheu não receber um salário do seu próprio escritório de família. “Preferiria criar meus filhos, e talvez netos, com a ideia de que temos um dever de fazer o bem no mundo, e que esse bem deve ser feito agora. Planejar para o futuro é ótimo, mas, se você tem dinheiro agora, faça o bem agora — não espere até estar morta.”

O casal também planeja ensinar a seus possíveis filhos o valor do trabalho desde jovens e encorajá-los a doar uma parte de cada salário aos seus próprios fundos beneficentes.

“Você pode morrer com zero — você só tem de ser inteligente sobre isso”, disse Nuñez Cooper. “Você deveria ter treinado seus netos, filhos, sobrinhos e sobrinhas a usar o dinheiro com sabedoria para que não dependam de um pagamento.”

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‘Por que dedicar sua vida ao trabalho das 9 às 17?’

Não há uma ciência exata para morrer com zero, admitiu James Beckett, coach de finanças pessoais do Reino Unido, mas ele está mais preocupado em “desperdiçar sua vida” do que em ficar sem dinheiro.

Beckett estima que morrerá por volta dos 88 anos e planeja ter apenas dinheiro suficiente para manter um teto sobre sua cabeça e comida na mesa até então.

Embora o jovem de 32 anos possua uma casa, Beckett e sua parceira estão abertos a vender a propriedade e morar de aluguel se isso significar obter mais de seu dinheiro na velhice.

Beckett — que ganha perto de seis dígitos no Reino Unido — disse que não conseguia pensar em nenhuma desvantagem em seu plano, que permitiu ao casal viajar para os EUA anualmente nos últimos três anos, além de férias no México, na Espanha e na Irlanda e viagens para festivais de música como o Glastonbury.

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Essa crença é chave para a liberdade de morrer com zero, disse Beckett, pois as pessoas precisam estar “investidas nas vantagens” da ideia ao invés de temer as desvantagens.

“É uma pena ver as pessoas morrendo com tanto dinheiro em um emprego de que não gostam, ou com pessoas de quem não gostam. Elas entram no piloto automático acumulando riqueza, e não pensando para que serve”, afirmou.

“Não é uma crença de que você gasta cada centavo em coisas materialistas todo mês. É ser muito consciente sobre o que você quer alcançar e quando.”

O casal planeja não ter filhos, mas adora seus sobrinhos e sobrinhas, pelos quais já estão planejando financeiramente com contas poupança que abriu quando eles eram ainda pequenos.

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“Ainda estou na fase de acumular riqueza”, disse Beckett. “Não sei quantos sobrinhos e sobrinhas eu posso ter. É só sobre dar esse dinheiro enquanto estou vivo — isso me traz muita alegria. Tive ajuda na compra de uma casa e com minhas taxas universitárias, então sei o quanto isso significa.”

Como você planeja quando morrer?

Claro, uma grande falha no plano de morrer com zero é que as pessoas raramente sabem quando não precisarão mais de seu dinheiro.

“Você pode morrer amanhã, você pode morrer aos 105”, disse Eliana Sydes, chefe de Estratégia de Vida Financeira nos assessores financeiros Y Tree. “Não sabemos onde uma pessoa pode cair, então pelo que planejamos?”

Ficar sem dinheiro também se torna mais perigoso quanto mais velho você fica, ela apontou, com os últimos anos da vida de uma pessoa muitas vezes provando ser os mais caros devido à inflação e ao cuidado invariavelmente necessário na velhice extrema.

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Esse medo de “ficar sem” é o que leva muitas pessoas mais velhas a continuar acumulando riqueza quando deveriam estar desacelerando suas economias. “Pessoas com 90 anos agora têm memórias muito fortes da guerra”, explicou Sydes. “Elas trazem consigo muita bagagem de legado em torno do medo de ficar sem. Estamos pedindo às pessoas para levar uma mensagem de: ‘Morra sem nada no banco, você não sabe quando isso vai acontecer, e a propósito, você cresceu com racionamento, o que faz você se sentir muito inseguro’.”

Esse medo pode ser parte da razão pela qual os baby boomers (geração nascida ente 1945 e 1964) têm um patrimônio líquido médio situado aproximadamente entre US$ 970 mil e US$ 1,2 milhão, de acordo com a Pesquisa de Finanças do Consumidor de 2019 do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Enquanto isso, o patrimônio líquido médio dos Gen Zers (os da Geração Z) está em US$ 76 mil, o millennial médio com mais de 35 anos está em mais de US$ 400 mil, e aqueles da Geraçã X têm patrimônios líquidos médios entre US$ 400 mil e US$ 833 mil (embora faça sentido esses patrimônios líquidos serem menores do que os dos boomers, já que as gerações mais jovens não tiveram tanto tempo para acumular riqueza).

Sydes acrescentou que a decisão sobre morrer com zero precisa ser feita quando uma pessoa é mais jovem para colocar seu plano em prática — mas poucos gostam de ser confrontados com a realidade de seu falecimento. “Há apenas uma pequena janela na vida em que você pode fazer isso com segurança e ativamente com uma chance razoável de que isso dê certo”, disse.

(Morrer com zero) é um ótimo gancho para abrir essas conversas sobre ‘O que eu quero fazer enquanto estou vivo para tomar essas decisões sobre meu dinheiro?’ Mas também pode ser uma barreira, porque pode ser assustador para muitas pessoas. Então, eu acho que a conversa é realmente: ‘Como eu morro com zero acima das minhas necessidades pessoais?’”

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Se você está procurando morrer com zero ou doar somas em herança para entes queridos, Sydes disse que havia uma lição para lembrar: propósito.

“É muito difícil mudar da acumulação para a desacumulação, é realmente emocionalmente difícil”, Sydes disse. “É uma decisão consciente que você quer ajudar os outros. Não é suficiente dar coisas que você tem, tem de haver um propósito para o que você está fazendo, caso contrário você desistirá.”

“Se você tem um motivo definitivo: você está obtendo bons sentimentos disso, é mais provável que você continue. Você vai se sentir conectado com sua decisão, e isso é algo realmente grande.”

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