Antônio Cláudio viu dezenas de casarões da avenida Paulista tombarem para dar lugar aos arranha-céus. Viu margens de rios e córregos serem aterradas e concretadas, depois tomadas por casebres, e áreas de mata transformarem-se em bairros residenciais em poucos anos.
Por fim, viu prédios de seis ou até dez andares serem demolidos, abrindo caminho para torres ainda mais altas. Na última década, ele contava as transformações que testemunhou na cidade e não escondia o espanto.
São Paulo o impressionava com "a velocidade como as coisas se constroem, são substituídas e se destroem", ele disse certa vez. À época, ele já tinha mais de 80 anos de idade, uma vida dedicada quase inteiramente à cidade e a seus dilemas.
Antônio Cláudio Moreira Lima e Moreira cresceu em Higienópolis, na região central da capital, durante as décadas de 1930 a 1950. Sua família tinha fazendas de café de Itatiba, no interior paulista, e seu pai foi um dos fundadores da Bolsa de Valores de São Paulo.
Nascido na riqueza, fez da desigualdade uma preocupação central da sua carreira. Seu interesse pelo tema foi despertado pela militância na Juventude Universitária Católica —grupo que ele frequentava antes mesmo de entrar na faculdade.
Na década de 1950, durante os primeiros anos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, fez parte do grupo de pesquisadores da Sagmacs (Sociedade para a Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais), instituição fundada pelo padre Louis-Joseph Lebret que teve grande influência no desenvolvimento da sociologia e do urbanismo no Brasil. Os amigos que fez nesses dois grupos o acompanhariam durante toda a vida.
Foi por causa dos encontros da JUC, inclusive, que teve início seu namoro com Marília Ignez, com quem se casaria e teria três filhos.
Nas suas aulas de administração pública e de urbanismo, Antônio Cláudio fazia questão de levar os alunos para excursões em favelas e locais onde deveriam desenvolver seus projetos. Os estudantes eram incentivados a entender de perto os problemas urbanos.
Seu trabalho na academia —na Fundação Getulio Vargas e na USP— ocorreu em paralelo à atuação como funcionário de órgãos de planejamento urbano na região metropolitana de São Paulo, como o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano.
Após a pandemia, resolveu viver em Itatiba, onde curtia suas férias na infância. Dava festas, recebia os amigos e descansava olhando as flores que plantou durante décadas numa chácara na cidade.
Ele morreu por complicações de um câncer, e deixa quatro irmãos, três filhos e duas netas.
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