Em entrevista à Folha (24/10), Edu Lobo foi enfático: "O que é MPB? É um partido político? Tenho horror a essa expressão." Concordo com Edu e, no quesito partido político, explico: "MPB" foi uma sigla criada pelas gravadoras por volta de 1966, para agrupar certos gêneros da música brasileira praticados na época e difíceis de classificar, que não eram samba, bossa nova, sertanejo ou rock. E as gravadoras se inspiraram de fato no nome da frente política de oposição permitida pela ditadura, o recém-fundado MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Até o som ecoava.
Chamava-se de "MPB" a música de Edu Lobo, Milton Nascimento, Dori Caymmi, Francis Hime, Sidney Miller e outros novos no pedaço. Caetano e Gil também eram "MPB" —ainda não existia o Tropicalismo. Já Chico Buarque ainda não era "MPB", era samba. E Geraldo Vandré, nem uma coisa nem outra, mas canção de protesto. Agora sabemos que, embora "MPB" fosse um rótulo então elogioso, Edu se incomodava de ser arrolado entre seus praticantes, quando estava apenas fazendo a sua música.
E pior ainda porque, como o pessoal do meio sabia, "MPB" era só uma estratégia de venda das gravadoras, como eram ou seriam a Jovem Guarda, o Tropicalismo e o Som Universal. O irônico é que, tendo sido criada para definir um gênero indefinível e separá-la dos outros, a "MPB", com o tempo, juntou todos os gêneros musicais passados e presentes numa coisa só. E assim é até hoje.
Chiquinha Gonzaga se tornou "pioneira da MPB". Pixinguinha, Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo e Luiz Gonzaga são hoje "compositores da MPB". Os nomes dos gêneros que eles praticavam, e que formavam a fabulosa riqueza rítmica do Brasil, foram apagados da memória. Não se usa mais chamá-los de choros, marchinhas, baiões, foxes, canções, sambas-canção, valsas, toadas. "Garota de Ipanema" é um samba, sabia?
Tudo virou MPB. Sem aspas, mesmo.
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