As mulheres brasileiras dedicaram 9,6 horas a mais do que os homens por semana a afazeres domésticos ou cuidados de pessoas em 2022. É o que apontam dados divulgados nesta sexta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Trata-se da primeira vez que essa diferença fica abaixo de dez horas no levantamento, iniciado em 2016. A redução da desigualdade, contudo, ainda ocorre em um ritmo considerado lento pelo IBGE.
Os dados integram um módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) sobre outras formas de trabalho.
O recorte abrange atividades não remuneradas que historicamente recaem mais sobre as mulheres, como cozinhar, limpar a casa e cuidar de crianças e idosos.
A diferença era de 10,6 horas a mais por semana para elas em 2019, o ano anterior da série histórica. A coleta dos dados desse módulo da Pnad foi interrompida em 2020 e 2021 em razão das restrições da pandemia.
"É uma questão muito estrutural, não só no Brasil. A diferença ocorre na América Latina, na Europa. Isso está mudando, mas a passos bem lentos", afirma Alessandra Brito, analista da pesquisa do IBGE.
Em 2022, as mulheres destinaram 21,3 horas por semana, em média, a afazeres domésticos ou cuidados de pessoas no Brasil.
Entre os homens, a marca foi de 11,7. A diferença de 9,6 horas, citada no início deste texto, veio a partir dessa comparação.
Na média geral, os afazeres domésticos e cuidados de pessoas consumiram 17 horas por semana no país em 2022. O resultado ficou acima de 2019 (16,8), alcançando o maior patamar da série iniciada em 2016.
Naquele ano, a média era de 16,7 horas por semana. O levantamento abrange pessoas de 14 anos ou mais.
"Esse tipo de pesquisa muda pouco porque tem coisas que dependem de conscientização, de mudança educacional", afirma Brito.
"Quando as pessoas são mais escolarizadas, a gente vê que realizam mais afazeres domésticos e cuidados, sobretudo entre os homens", acrescenta.
Essa avaliação da pesquisadora é ilustrada por dados divulgados nesta sexta. Considerando somente os afazeres domésticos, o percentual de homens que realizaram as tarefas variou de 74,4% entre os sem instrução ou com ensino fundamental incompleto a 86,2% entre aqueles com superior completo.
No caso das mulheres, as maiores proporções foram de 93,3% (ensino médio completo e superior incompleto) e 93% (ensino superior completo).
Considerando apenas os cuidados de pessoas, o percentual de homens que realizaram essas funções variou de 19,8% (sem instrução ou ensino fundamental incompleto) a 27,5% (superior completo).
ELAS COZINHAM, ELES FAZEM CONSERTOS
O tipo de afazer doméstico mais recorrente entre as mulheres é descrito como preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar a louça. Essa tarefa foi realizada por 95,7% em 2022.
Entre os homens, a proporção ficou em 66%. Ou seja, há uma diferença de 29,7 pontos percentuais.
De acordo com o IBGE, os homens registraram percentual superior ao das mulheres em apenas 1 dos 7 afazeres pesquisados.
Trata-se da realização de pequenos reparos ou manutenção do domicílio, do automóvel, de eletrodomésticos ou de outros equipamentos.
Em 2022, 60,2% dos homens desempenharam essa função. Entre as mulheres, a proporção ficou em 32,9%.
O IBGE também afirma que o tempo dedicado pelos homens a afazeres domésticos ou cuidados de pessoas aumenta quando vivem sozinhos. Nessa situação, eles gastaram 14,3 horas por semana em 2022. A média, porém, ainda é inferior à das mulheres (19,3).
No total, 148,1 milhões de pessoas de 14 anos ou mais realizaram afazeres domésticos na própria casa ou em domicílio de parentes em 2022 –esse contingente desconsidera as atividades de cuidado. Houve um aumento de 3,4 milhões em relação a 2019, aponta o IBGE.
A taxa de realização de afazeres domésticos, contudo, caiu para 85,4% no ano passado –estava em 85,9% na pesquisa anterior.
Isso ocorreu porque o aumento do contingente que desenvolveu as tarefas do lar foi menos intenso do que o crescimento da população de 14 anos ou mais como um todo, estima o IBGE.
Já o grupo que realizou cuidados de pessoas foi de 50,8 milhões em 2022. Houve queda de 5,3 milhões ante 2019. Assim, a taxa de realização de cuidados caiu para 29,3% no ano passado –estava em 33,3%.
O IBGE identificou uma redução no cuidado de crianças e jovens de 0 a 14 anos e um aumento no acompanhamento de idosos (60 anos ou mais).
A queda entre os mais jovens, disse Brito, pode estar associada ao aquecimento do mercado de trabalho e aos possíveis efeitos da pandemia sobre a decisão de ter filhos.
"É muito explicada pela melhora do mercado de trabalho, as pessoas podem ter terceirizado esse cuidado por terem menos tempo disponível, e também pelo efeito da pandemia, de menos filhos", afirmou a pesquisadora.
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