Os ocupantes dos dois principais postos da equipe jurídica da Cohab-SP (Companhia Metropolitana de Habitação) da gestão Ricardo Nunes (MDB) pediram demissão. Internamente, as saídas são atribuídas ao acúmulo de crises e denúncias e o temor de ter que assumir responsabilidades pelo que tem acontecido no órgão que cuida da habitação popular na capital, atualmente sob comando do diretor-presidente João Cury.
Em maio, o então secretário de Habitação, João Farias, entregou o cargo a partir de uma dessas denúncias, como revelou o Painel.
Cury articulava a publicação de um decreto que desapropriaria um terreno na Cidade Tiradentes, zona leste da cidade, e abriria as portas para que uma empresa específica, a Usu Campeão, mantivesse sua participação no programa habitacional Pode Entrar. Sem o decreto, a empresa seria desclassificada.
Farias se opôs a Cury, disse que o decreto tiraria a lisura do processo, pois daria benefício a uma empresa que nenhuma outra concorrente recebeu, e pediu demissão ao ver que o texto ganhava força na prefeitura. Com a repercussão, o documento foi deixado de lado na época. Acabou sendo publicado no último dia 20 de setembro, no Diário Oficial do município, reinstalando a crise.
A Usu Campeão pertence ao advogado Alexandre Romano, ex-vereador do PT de Americana (SP) que foi preso em 2015 na Operação Lava Jato. Bruno Araújo, ex-presidente do PSDB e amigo de Romano, mobilizou aliados na prefeitura para que o decreto fosse feito e publicado.
Antes disso, em janeiro, em outro episódio revelado pela coluna, a prefeitura alterou edital bilionário do programa de compra de unidades de habitação social Pode Entrar cinco dias antes da abertura dos envelopes com as propostas de empreiteiras, construtoras e incorporadoras.
A alteração feita de última hora foi significativa e tem grandes chances de aumentar os gastos da prefeitura (e os ganhos das empreiteiras) com o programa. A medida é questionada na Justiça e no Tribunal de Contas do Município e pode implicar interrupção do Pode Entrar.
Nesse cenário turbulento, o próprio presidente da Cohab, João Cury, tem sido aconselhado por aliados a deixar o posto e disputar a Prefeitura de Botucatu em 2024.
O advogado Ivan Budinski, então diretor jurídico da Cohab, entregou o seu cargo, e Maria Amália Morais, superintendente jurídica, aderiu ao programa de demissão voluntária (PDV) na sequência.
Em nota, a Cohab-SP afirma que "os desligamentos são independentes e não possuem qualquer relação com a atual gestão na companhia."
Procurado, Budinski afirma que entregou o cargo por razões pessoais e que não tem elementos para comentar a respeito dos motivos da saída de Maria Amália da Cohab.
"Aderi ao PDV, mas ainda não tenho certeza absoluta de que vou sair, o acordo ainda precisa ser homologado internamente. Tenho 40 anos de Cohab, sempre fui muito respeitada, nunca fui pressionada a fazer nada que não quisesse. Se tivesse sido, já teria relatado. Não estou saindo por qualquer motivo relacionado às gestões da Cohab", afirma a advogada à coluna.
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