quinta-feira, 9 de junho de 2022

Ruy Castro - Um dia, um jornal, FSP

 No dia 2 de junho de 1959, todos os jornais do Brasil chegaram às ruas com um ranço de que, na véspera, não se suspeitava. De repente, pareciam uma bagunça. Suas páginas eram uma mixórdia de títulos, letras e fotos desencontrados, de tamanhos diferentes, sem lógica ou coerência, como se empilhados à medida que iam chegando à mesa do diagramador. Os textos eram aprisionados por fios que os espremiam à quase asfixia e sofriam daquele irritante recurso: começava-se a ler e vinha o "Continua na página tal".

O que revelou a súbita velhice desses jornais foi a novíssima face de um matutino carioca de 68 anos, lançada naquele dia: o Jornal do Brasil. Sua primeira página era de inédita clareza e modernidade. Os textos, alinhados por tamanho, altura e largura, aproximavam-se por assunto. Os títulos tinham objetividade de jornal e charme de revista. As fotos combinavam leveza e beleza, com as câmeras 35mm em vez das pesadas Rolleiflex. E os fios haviam magicamente desaparecido, permitindo à página —e ao leitor— respirar pelo espaço em branco.

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Não foi só uma reforma gráfica, mas uma reforma jornalística, que só um jornalista poderia conceber. Foi, inclusive, o fim do "Continua..." —cada notícia vinha agora completa e resumida na primeira página, e só então remetia ao miolo. Para isso, havia os copidesques, redatores que reescreviam o que os repórteres traziam da rua ou chegava pelas agências de notícias. Pelos dois anos seguintes, a revolução do Jornal do Brasil se consolidou. Os concorrentes, apanhados no contrapé, tentaram preservar sua identidade, mas, um dia, tiveram de se espelhar no JB.

Já se atribuiu a muita gente a autoria dessa reforma. Mas ela foi de Janio de Freitas, às vésperas dos seus 27 anos naquele dia 2 de junho.

O mesmo Janio que completou 90 nesta quinta (9) e cuja história, única na imprensa brasileira, continua há 42 anos na Folha.

O jovem Janio de Freitas na sucursal da Folha no Rio de Janeiro - Acervo Pessoal

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