quarta-feira, 8 de junho de 2022

Helio Beltrão Partido Novo entra em nova fase, menos personalista, FSP

 Com a saída, na segunda-feira (6), de dissidentes que representavam metade dos membros do diretório nacional, a governança do Partido Novo inicia uma promissora superação de um período turbulento de brigas internas, principalmente entre o fundador, João Amoêdo, e os mandatários.

Os mandatários legislativos do Novo —oito deputados federais e algumas dezenas de deputados estaduais e vereadores— têm sido determinantes para imprimir viés mais liberal às políticas públicas brasileiras. Como próximo passo, o partido —que governa Minas com Romeu Zema— pretende dobrar o número de deputados federais e alcançar a cláusula de barreira nas eleições deste ano, munidos de uma nominata de 900 candidatos e pelo menos 6 candidatos a governador.

PUBLICIDADE

É um considerável desafio, pois uma eleição como a de 2022 exige preparação serena e contínua durante quatro anos, o que não ocorreu em razão dos conflitos internos. A boa notícia é que agora a tranquilidade tende a ser reestabelecida e a boa governança ganhou força. A má é que houve considerável estrago na gestão anterior, que causou grande perda de filiados (de 47 mil para 30 mil), e agora falta pouco tempo para o pleito.

Filiados do Partido Novo durante ação de campanha na eleição municipal de 2020, na cidade de São Paulo - Rubens Cavallari - 27.set.2020/Folhapress

O Novo enfrenta processo similar a todo empreendimento familiar que cresce: deixar de ser uma "eupresa" —integralmente dependente de seu fundador— para se tornar uma "empresa".

Um fundador —que tem a visão, a iniciativa e a capacidade de execução para gerar lucros— costuma achar que só ele sabe o melhor para a empresa. Com o crescimento, é comum que a excessiva centralização no fundador, sua obsessão por controle e sua desconfiança em estabelecer processos eficazes impeçam a empresa de se tornar grande e acabe contribuindo com as estatísticas de falência.

Embora houvesse saído do comando formal do Novo em 2020 para se dedicar à sua pré-candidatura, Amoêdo permaneceu com sólido controle do diretório nacional e dava as cartas no partido. Mas sua pré-candidatura sofreu resistência das bases, não prosperou, e surgiu o excelente nome de Luiz Felipe d’Avila.

Para o grupo amoedista no controle, deveria haver uma visão única e purista no partido: todos deveriam praticar oposição obcecada ao governo, independentemente de a pauta em questão ser boa ou ruim para o país. Imbuído por tal missão dogmática —incompatível com o preceito fundamental do partido em defender a diminuição da intrusão estatal—, seu foco foi torcer o braço dos mandatários, procurando comandá-los centralmente, como em uma empresa centralizada que emite memorandos vinculando os funcionários da linha de frente.

Se em uma empresa tal lógica já é destrutiva, no caso de um partido é muito pior. Os dirigentes e filiados ativos são voluntários, e os mandatários são preparadíssimos, estão nas trincheiras de negociação da política e, diferentemente dos dirigentes, possuem a legitimação de centenas de milhares de votos. A participação política robusta exige saudável descentralização.

A investida não vingou, e começou então a tentativa de travar decisões e de expurgar do partido os supostamente mais desobedientes, tachados injustamente de bolsonaristas, como o governador Zema e o brilhante deputado Marcel van Hattem, entre outros.

No fundo, havia duas filosofias em conflito: a) todos no partido deveriam pensar como a liderança, ainda que a custo de permanecer um pequeno partido de nicho, e b) é fundamental permitir a pluralidade de vertentes e uma governança menos personalista e centralizada, precondição para o crescimento e para fazer cada vez mais diferença em políticas públicas.

Depois de longo conflito, que muitas vezes veio a público, a segunda visão saiu vencedora. É boa notícia para o país, e para o liberalismo.


Nenhum comentário: