O cristianismo, como o islamismo, o hinduísmo ou o que quer que seja, pode se encaixar em qualquer posição política.
As pessoas que vão à igreja regularmente, ouvindo piedosamente os Dez Mandamentos e o Sermão da Montanha e, no momento em que recebem a hóstia, decidindo em seu íntimo que se esforçarão para fazer melhor, durante o resto da semana não têm problema nenhum em agir no sentido contrário.
Considere aquele chato sexto mandamento, aquele que fala em não matar pessoas. Fotos de 1914 mostram padres abençoando exércitos inimigos, alemães, franceses ou russos. Saíam para matar aqueles outros em nome do Cristo Redentor.
Na Europa do Leste de hoje, as igrejas Católica e Ortodoxa se alinharam a um nacionalismo assassino, à homofobia e a outras tiranias. No Brasil e nos EUA, evangélicos adotaram uma política igualmente conservadora. E, do lado da esquerda, a velha Teologia da Libertação, na qual o papa Francisco foi formado na Argentina, se alinha cautelosamente ao socialismo, abençoando exércitos de burocratas e polícias secretas. "Os comunistas roubaram nossa bandeira", disse o papa. "A bandeira dos pobres é cristã".
Mas um cristianismo verdadeiro rejeita as coerções, sejam da esquerda, sejam da direita. O cristianismo se harmoniza com um liberalismo que de fato melhorou a situação dos pobres. Não é graças à nação ou ao governo que você vive em situação 20 vezes melhor que a de seus antepassados, mas porque seus antepassados e você desfrutaram da liberdade de inovar.
A inovação não envolve apenas inventores famosos ou grandes empreendedores. Seu tataravô, camponês saído de Palermo, inovou --e muito-- quando embarcou num navio com destino ao Rio de Janeiro. Pense um pouco nesse exercício de liberdade e coragem.
O livre-arbítrio, que pela teologia cristã nos é concedido por Deus, combina com a liberdade de escolha na economia. Não estamos falando em coerção pecaminosa, entenda, mas nas transações feitas entre adultos livres. É sua vida normal nos mercados, comprando ou vendendo feijão. Já a direita e a esquerda nos convertem em escravos de suas próprias versões da vontade do povo --no caso da direita, nos submete a um propósito nacional glorioso, ou, no caso da esquerda, a um plano econômico central.
O papa Francisco e seus assessores econômicos, entusiastas desses exércitos de burocratas, desdenham do liberalismo, descrevendo-o como a "trickle down economics" (a teoria do gotejamento). Nada disso. A direção é de baixo para cima, partindo da liberdade individual. E o fluxo não é um gotejamento, é um verdadeiro jato. Deus o abençoe.
Tradução de Clara Allain
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