O economista André Lara Resende é um dos críticos mais importantes dos dogmas da teoria econômica dominante e seu apego ao equilíbrio fiscal a qualquer custo e à diminuição do tamanho do Estado.
Para ele, a macroeconomia neoclássica, que orienta boa parte da produção acadêmica e do debate público no Brasil, se tornou um garrote ideológico, com ferramentas equivocadas e sem capacidade de formular políticas para promover a retomada do crescimento e a distribuição de renda.
Em seu livro recém-lançado, "Camisa de Força Ideológica: a Crise da Macroeconomia", Lara Resende percorre a história da teoria monetária e discute por que o fato de a moeda ser hoje um registro digital, não mais um metal com valor em si, transforma as possibilidades de financiamento do Estado.
Doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ex-diretor do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, o economista diz que países que emitem a própria moeda não têm, sob algumas condições, restrições financeiras.
O Estado pode sempre ampliar a base monetária para financiar investimentos e políticas públicas sem correr o risco de criar surtos inflacionários. No entanto, a perspectiva de se livrar das amarras da ortodoxia monetária deve vir acompanhada de controle e disciplina, diz, para tornar o Estado mais competente.
Neste episódio do Ilustríssima Conversa, Lara Resende criticou a fórmula de elevar a taxa de juros para conter a alta da inflação, como vem acontecendo no Brasil nos últimos meses, discutiu o que pensa sobre a privatização de empresas estatais e explicou a ideia de o Estado assumir a função de empregador de última instância dos trabalhadores, da mesma forma que desempenha o papel de credor de última instância em crises financeiras.
Como é que se pode defender que o Estado está quebrado e não pode gastar com infraestrutura, educação, saúde, mas pode —e deve— aumentar a taxa de juros, como aumentou no Brasil em mais de dez pontos de percentagem? Com uma dívida de 85% do PIB, isso é 8,5% do PIB de transferência de gastos fiscais para os detentores da dívida pública, que são os agentes mais ricos e superavitários da economia
PARA SE APROFUNDAR
André Lara Resende indica
- "O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor Privado", da economista italiana Mariana Mazzucato, publicado em 2014 no Brasil
- "A Tirania do Mérito: o que Aconteceu com o Bem Comum?", de Michael Sandel, professor de filosofia da Universidade Harvard
Eduardo Sombini indica
- "Trabalho Interno", de Charles Ferguson, vencedor do Oscar de melhor documentário de 2010 que aborda a crise financeira de 2008 e as medidas do governo federal americano para socorrer o sistema financeiro do país
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