sexta-feira, 3 de junho de 2022

Hélio Schwartsman São as campanhas que definem o resultado de uma eleição?, FSP

 Bolsonaro adoraria fugir dos debates, mas, como está muito atrás de Lula, esse talvez seja um luxo ao qual ele não pode se dar. Já o petista afirma que não tem condições de atender a todos os pedidos de debate e sugere que os órgãos de imprensa se organizem num "pool". Qual a real influência de debates, e, num sentido mais amplo, das próprias campanhas eleitorais, no resultado de pleitos?

Candidatos, marqueteiros e jornalistas tendem a ver as campanhas como o front onde se vence ou perde a disputa. Cientistas políticos costumam ser mais céticos. É claro que, numa eleição apertada, daquelas que se decidem milimetricamente, pequenos movimentos podem ter grandes consequências. Aí, incidentes de campanha e eventualmente até um desempenho desastroso num debate podem fazer a diferença. Mas nem todo pleito é decidido no olho eletrônico.

Cientistas políticos americanos desenvolveram modelos de previsão eleitoral que, valendo-se apenas de dados econômicos e sociais, ou seja, sem analisar pesquisas, marketing ou discursos, conseguem, com vários meses de antecedência e boa precisão numérica, antecipar quem vencerá, não no colégio eleitoral, sistema que multiplica as incertezas, mas no voto popular. Psicólogos também são capazes de, a partir de rápidos questionários, sem perguntas políticas, dizer em quem o eleitor votará com índices de acerto de 80%.

Diante de evidências desse tipo, Andrew Gelman, num clássico artigo dos anos 90, se perguntou: se os votos são tão previsíveis, por que as pesquisas variam tanto? Ele próprio esboça uma resposta. O processo de tomada de decisão do eleitor, em especial o independente, não é linear. Ele hesita, muda de ideia, mas, ao fim e ao cabo, com grande frequência confirma os prognósticos dos modelos.

Se essa hipótese é correta, não importa muito o que façam Lula e Bolsonaro, a inflação despachará o presidente para casa... ou para a Papuda.

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