segunda-feira, 6 de junho de 2022

Lygia Maria - Mulheres têm sempre razão?, FSP

 

Reação ao julgamento Depp x Heard expõe problemas do discurso feminista

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A novela Johnny Depp versus Amber Heard chegou ao fim. O ator processou a ex-namorada por difamação —segundo Deep, Heard mentiu ao dizer que havia sido abusada por ele— e venceu. Vendo o julgamento, fica claro que a relação era conturbada, ambos são problemáticos (egocentrismo, narcisismo) e que Heard mentiu.

Porém, feministas reclamaram: Depp só venceu porque é homem e o Judiciário é machista, o júri é machista, o mundo é machista. Parece que Heard deveria estar certa apenas pelo fato de ser mulher. O problema é que mulheres mentem. Mentem, agridem, traem como os homens. Afinal, também somos Homo sapiens. Considerar que mulheres têm sempre razão a priori é um desserviço, porque a defesa das mulheres que realmente são vítimas de violência pode ser prejudicada, tachada como mero radicalismo feminista.

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Além disso, sexo é o ponto de interseção entre natureza e cultura, e parte do feminismo simplifica a questão ao tratá-lo apenas como uma questão do segundo tipo. Espécie de feminismo rousseauniano: o sexo é bom, a sociedade que o corrompe.

Não. A natureza é cruel e impiedosa. O sexo e as relações afetivas que o adornam não são apolíneos, e sim dionisíacos. A cultura diversifica o lado dionisíaco em uma série de gradações que vão desde o sadomasoquismo até comentários passivo-agressivos no café da manhã. O pêndulo poder-submissão está sempre lá, deve-se aprender a administrá-lo e, principalmente, considerar que o prazer erótico advém também dele.

Excluir o poder do sexo é ignorá-lo. Não podemos ser ingênuas a esse ponto se quisermos criar mulheres fortes que se responsabilizem por suas escolhas e que sejam capazes de se defender. O poder nem sempre é ameaça, pode ser potência. Mas, se o discurso sobre sexo é sempre ameaçador, traumatizante, qualquer coisa associada a ele, por mais inócua que seja (uma piada, uma propaganda de TV, uma cantada), causará medo. E qualquer ditador sabe: não há ferramenta de dominação mais eficaz do que o medo.

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