Eduardo Jarra
O início do ano trouxe boas notícias pelo lado da atividade econômica, com sólido ritmo de expansão. A economia brasileira cresceu 1% na comparação com o quarto trimestre de 2022, após expansão de 0,7% no último trimestre do ano passado. Trata-se de um desempenho superior ao inicialmente esperado, considerando que as expectativas no final de 2021 estavam mais cautelosas.
Para o segundo trimestre os sinais também são favoráveis, sugerindo dinamismo. Ou seja, o primeiro semestre como um todo deverá exibir um comportamento positivo. E o que explica essa resiliência do país?
Primeiro, existe uma correlação positiva importante entre a atividade brasileira e o ciclo de commodities internacionais. Nesse período, a geopolítica –Guerra da Ucrânia– teve impacto considerável nos já elevados preços das commodities, gerando então um efeito expansionista para a economia doméstica.
Segundo, tivemos estímulos da política fiscal no período. Terceiro, a normalização das restrições associadas à pandemia também ajudou, conforme vimos pelo crescimento do setor de serviços, o mais beneficiado. Já o mercado de trabalho exibiu um ritmo firme de contratações –contraponto importante frente à perda do poder de compra derivada da inflação–, afetando positivamente a massa salarial e, consequentemente, o consumo das famílias.
Para frente, vemos uma dinâmica diferente para a economia a partir do segundo semestre, especialmente considerando a política monetária e o ambiente de negócios.
Desde o início do ano passado o Banco Central vem elevando a taxa Selic, atualmente em 12,75% ao ano. O ciclo de aperto dos juros pode ser concluído na próxima reunião, com uma alta de 0,5 ponto percentual e a Selic em 13,25% a.a. Considerando a nossa projeção para a inflação, tal patamar de Selic implica juros reais entre 7,0% e 8,0% para os próximos trimestres. Trata-se de uma política monetária significativamente contracionista sob a ótica de atividade, atuando com defasagem temporal sobre a economia. Nesse contexto, esperamos efeito intenso dos juros sobre o crescimento, especialmente a partir da segunda metade do ano.
Antecipamos também um ambiente econômico mais complexo. A economia global já está em desaceleração e a trajetória da inflação americana deve levar a níveis mais altos de juros, gerando expectativa de desaceleração adicional. No Brasil teremos o período eleitoral, que é compatível com maior incerteza econômica e condições financeiras mais restritivas, decisões de investimentos e consumo.
Isso deverá provocar uma desaceleração da economia local nos próximos trimestres, inclusive com possível contração na segunda metade de 2022 e crescimento muito baixo no primeiro semestre de 2023.
Assim, projetamos crescimento de 1,1% para o PIB brasileiro em 2022. Para 2023, prevemos expansão de apenas 0,7%, com risco majoritariamente baixista: além do cenário externo desafiador, existe a chance de um processo desinflacionário mais lento no Brasil, que pode manter a Selic em níveis ainda elevados.
Em suma, é verdade que a economia trouxe notícias positivas recentemente. Mas esse otimismo será desafiado no segundo semestre, quando teremos os efeitos de uma política monetária mais apertada e um ambiente econômico mais difícil. Esperamos um crescimento baixo em 2022 e 2023, com desempenho inferior ao dos demais países emergentes. Essa dinâmica é um lembrete dos desafios que o país deve enfrentar para alcançar um crescimento sustentável mais elevado, que reforçam a relevância de uma agenda de avanços estruturais.
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