15.jun.2022 às 21h00
A Amazônia oferece uma imensa oportunidade de desenvolvimento para o Brasil. Tão grande que tem o tamanho equivalente aos territórios da França e de Portugal: esta é a área desmatada na região, que cresceu expressivamente depois de mais de 40 anos de uma política de colonização que via a floresta como uma barreira ao desenvolvimento.
Entretanto a promessa de desenvolvimento falhou. Cerca de 90% desse território desmatado (quase equivalente à área da França) são ocupados por pastos com produtividade média de apenas um terço do que poderia produzir.
Esse imenso território ocupado pela pecuária ineficiente resulta em pobreza rural e urbana. Em 2019, o rendimento médio dos trabalhadores da pecuária foi 34% menor do que o rendimento médio dos trabalhadores da região. Além disso, apenas 22,7% dos trabalhadores da pecuária eram formais e, portanto, recebiam seus diretos —em comparação com a média de 40,6% de todos os trabalhadores da região. Ainda pior, o desemprego na pecuária tem aumentado à medida que o desmatamento cresce.
O desmatamento já se tornou risco ambiental e financeiro para os negócios. Alguns investidores e grandes empresas que compram produtos do Brasil e da região entenderam que o desmate agrava a crise climática e tem levado em vários casos a conflitos violentos com povos originários da região. Por isso, recentemente, alguns financiadores deixaram de investir em frigoríficos que atuam por lá, e redes de supermercados não mais compram carne do Brasil. O caso mais significativo impediu o empréstimo de cerca de R$ 1 bilhão para um frigorífico.
A estação de chuvas no sul da Amazônia já está mais curta por causa do desmatamento e das mudanças do clima. O tempo mais seco está reduzindo a produtividade nessas áreas, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A ocupação extensiva e ineficiente não gera receitas suficientes para pagar por serviços públicos e aumenta o custo de provê-los em regiões remotas. Assim, a disponibilidade de médicos por mil habitantes na região é metade do restante do Brasil, e a proporção de habitantes com acesso a esgoto público é quatro vezes menor que a dos brasileiros que vivem em outras regiões, segundo estudos do projeto Amazônia 2030. De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE de 2017, apenas 10% dos estabelecimentos rurais recebiam assistência técnica na região, enquanto no Centro-Oeste eram 23% e, na região Sul, 48%. No Pará, apenas 15% dos agricultores frequentaram escolas, ante 40% no Paraná, onde a produtividade da pecuária é o dobro.
A virada para o desenvolvimento da região requer o uso inteligente da imensa área desmatada e subaproveitada. Uma oportunidade é aumentar a produção de carne melhorando o uso de pastos. É possível, no mínimo, dobrar a produção pecuária sem desmatar. A pecuária mais produtiva sustentaria empregos com melhores salários e a satisfação dos trabalhadores, como mostrou um estudo do Imazon.
Outra opção para o desenvolvimento é o reflorestamento e a regeneração natural da floresta. A restauração florestal incluiria a produção de produtos agroflorestais, como madeira e cacau. Além disso, ao crescerem, as árvores retiram do ar o principal poluente atmosférico (CO2) que vem provocando a crise climática —ou seja, secas e chuvas mais intensas e frequentes. Para evitar o pior da mudança climática, governos e empresas já começaram a pagar pelo serviço de limpeza da atmosfera.
A melhoria da qualidade de vida nas zonas desmatadas requer investir em áreas rurais e urbanas. Por exemplo, instalar internet de alta qualidade e energia descentralizada (como painéis solares) permitirá melhorias nos serviços de saúde, educação e assistência técnica em áreas remotas. Recuperar as estradas nas zonas mais densamente ocupadas provocará avanços nos serviços e no acesso ao mercado. Adensar a infraestrutura nessas zonas é mais inteligente do que abrir novas estradas em fronteiras florestais remotas —o que iniciaria uma nova corrida de ocupação improdutiva, como ocorreu nos últimos 40 anos.
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